O trabalho essencial dos voluntários antes, durante e após as Olimpíadas
Conheça a história dos voluntários olímpicos, que fazem o maior evento do mundo acontecer apenas por amor aos Jogos.
Por Luiza Ramalho, para Cobertura Colaborativa Paris 2024
“Obrigado a 45.000 voluntários, vocês vieram de 155 países, de várias formas diferentes, professores, aposentados, médicos, estudantes… Vocês fazem e dão luz a esses jogos.”
“Um agradecimento especial aos milhares de voluntários. Os seus sorrisos nos fazem apaixonar ainda mais por Paris e pela França. Nosso agradecimento pelo seu trabalho.”
Essas foram as palavras, respectivamente, de Tony Estanguet, presidente de Paris 2024 e Thomas Bach, presidente do comitê olímpico internacional, na cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos sobre a força e a importância dos voluntários dessa Olimpíada.
Afinal, sem o trabalho deles, será que um evento dessa magnitude, com a participação de mais de 205 delegações, 10.500 atletas e 329 eventos esportivos, seria possível?
Conheça a história de 112 anos dos voluntários olímpicos, sua importância para o dia a dia do evento e como fazer parte deste movimento.
A história do voluntariado nas Olimpíadas
A primeira Olimpíada da Era Moderna aconteceu em 1896, na cidade de Atenas, mas ainda não contava com a força de trabalho voluntária. Foi no ano de 1912, em Estocolmo, que tivemos a aparição dos primeiros voluntários olímpicos. Eram escoteiros e ficavam responsáveis por ações como a entrega de mensagens, segurança e atendimento ao público.
Nas próximas edições o número de escoteiros atuando nas Olimpíadas só aumentava. Até que, em Berlim (1936), eles foram substituídos pelo Movimento da Juventude Nazista. Esse cenário durou até 1952 em Helsinki, quando os escoteiros voltaram a ser os voluntários dos Jogos Olímpicos. Nesta mesma edição há registro das primeiras mulheres no voluntariado, representando 26% do total de 2.191 convocados.
Nas décadas seguintes esse grupo passou a ser integrado ao comitê organizador e ganhou novas responsabilidades, como manutenção das arenas de competição e transporte. Em 1980 (Lake Placid) os voluntários deixaram de fazer parte de qualquer associação, como é até hoje.
Em solo brasileiro, os Jogos Olímpicos e Paralímpicos Rio 2016 selecionaram 50 mil voluntários, sendo 82% brasileiros e 18% estrangeiros, segundo o portal GE.
Até 2024, o recorde de voluntariado é da edição Pequim-2008, que contou com 70 mil voluntários nas Olimpíadas e mais 30 mil nas Paraolimpíadas, segundo o portal Olimpíada todo dia.
O papel dos voluntários
Os voluntários olímpicos atuam nas mais diversas áreas e a organização busca a alocação de acordo com suas habilidades e também preferências. No portal de inscrição para Paris 2024, as funções foram separadas em 3 categorias:
Suporte na experiência de todos os envolvidos durante os jogos.
Exemplos:
- Dar as boas-vindas ao público
- Guiar os fãs e pessoas credenciadas
- Transporte de credenciados
Suporte aos eventos esportivos.
Exemplos:
- Pegar bolas ou organizar o espaço de competição
- Colocar informações dos esportes em rankings e estatísticas
- Assistência a equipe médica da vila olímpica
Assegurar que o evento ocorra fluidamente
Ex:
- Credenciamento para jornalistas e atletas
- Distribuição de equipamentos
Apesar dessas serem algumas atividades comuns desses trabalhadores, a realidade é que seu papel é ajudar e dar suporte onde for necessário e possível, em um evento que é tão vivo.
Quem assistiu à cerimônia de abertura viu os voluntários carregando as bandeiras dos países, retirando a água do palco e até segurando guarda-chuvas para Tony Estanguet e Thomas Bach durante seus discursos.
Voluntários em Paris
Para as Olimpíadas de Paris as inscrições começaram em 22 de março de 2023 e acabaram no dia 03 de maio do mesmo ano. Essa era a mensagem na plataforma de inscrição:
“Ser voluntário em Paris 2024 significa compartilhar momentos e emoções únicas. Significa incorporar o espírito de hospitalidade e os valores pelos quais a França é conhecida, junto de todos os participantes envolvidos nos Jogos. Significa fazer parte de uma equipe de pessoas com experiências diversas, todas unidas sob a mesma bandeira.”
Os critérios de inscrição foram:
- Ter no mínimo 18 anos no dia 1° de janeiro de 2024;
- Falar inglês ou francês;
- Ter disponibilidade por pelo menos 10 dias durante as Olimpíadas ou permanecer durante toda Paralimpíada e mais dois dias após o encerramento.
Além da 1ª Fase de seleção, os candidatos ainda passaram por entrevistas. O resultado foi de muitos interessados e um time bastante diverso:
- 300.000 inscrições recebidas
- 45.000 voluntários selecionados
- 190 países representados
- 101 territórios franceses representados
- 50% mulheres e 50% homens
- 30% dos selecionados vêm de origens esportivas
- 50% dos selecionados para os Jogos Olímpicos farão parte também dos Jogos Paralímpicos
- Mais de 5% dos voluntários envolvidos são com deficiência
É claro que, para abranger todas essas pessoas, é necessário também uma grande estrutura. Só de uniforme, foram 1 milhão de peças produzidas, sendo 15 distribuídas a cada voluntário.
Os trabalhadores também passaram por um processo de treinamento, que começou no dia 23 de março deste ano, quando eles receberam os uniformes, as boas-vindas e agradecimentos de Tony Estanguet. Segundo o portal UOL, os participantes do voluntariado têm contrato de trabalho, que determina o máximo de 10 horas diárias de trabalho e 48 horas semanais, com um dia de descanso semanal.
Experiência do voluntário
Mas afinal, por que alguém se voluntaria para trabalhar de graça, por 6 dias na semana, muitas vezes longe de casa?
É importante ressaltar que, no modelo atual, não há nenhuma remuneração. Tão pouco são custeados o transporte para a cidade sede e a acomodação. Em Paris 2024, por exemplo, além dos uniformes, os voluntários recebem apenas o transporte entre a sua acomodação e os locais de trabalho e alimentação em dias que estão a serviço dos Jogos.
Mas, com certeza, há muitos motivos para se voluntariar. O campeão olímpico em saltos de hipismo em Seul, 1988, Pierre Durand, que se colocou à disposição para Paris, disse:
“Para aqueles que querem ser um pouco mais do que espectadores e atores nos Jogos Olímpicos Paris 2024, o voluntariado é a função mais gratificante que existe. Não só para você, mas também tendo uma contribuição importante e essencial para a imagem do nosso país e para o sucesso dos Jogos”, Pierre Durand para Olympics.com.
Trazendo a minha visão pessoal
Também fui voluntária nas Olimpíadas, Rio 2016. Sei que é um privilégio, por sair do nosso bolso e não fica barato. No Rio até havia algumas facilidades para encontrar acomodação, como grupos para voluntários alugarem um apartamento juntos ou pessoas abrindo suas casas para recebê-los.
Porém, ainda existem os custos de viagem e alimentação nos dias em que não trabalha. Além de precisar deixar o seu próprio trabalho por um período considerável de tempo.
Ainda assim, diria com certeza, que vale a pena! Indico essa experiência para qualquer pessoa que tenha a oportunidade. Você conhece e aprende com pessoas do mundo inteiro. A energia dos voluntários é muito alegre, contagiante e todo mundo se ajuda. Além de ser uma ótima experiência profissional.
Mas mais do que tudo, poder vivenciar de pertinho, vendo os bastidores, de um evento dessa proporção, é indescritível. E não é uma garantia, mas no meu caso, eu ainda consegui assistir aos jogos.
Os voluntários merecem mais reconhecimento?
Apesar de citados nos discursos, o que é importante, pelo trabalho essencial e árduo que exercem, é de se questionar se seria justo mais reconhecimento para esses personagens das Olimpíadas.
Em entrevista ao Surto Olímpico, Ashley Ophorst, pesquisadora de estudos olímpicos e voluntária na edição Rio 2016, ressaltou que a Carta Olímpica, documento oficial do COI que pretende registrar os valores e ideais olímpicos, não menciona os voluntários, o que é uma falha do Comitê com aqueles que se dedicam ao evento. “Colocar os voluntários na Carta Olímpica talvez não mude nada. Ainda assim, isso mostraria que o COI reconhece a importância dos voluntários e o papel que desempenham não apenas nos Jogos Olímpicos, mas também na vida dos atletas”, diz Ashley.
Não podemos deixar de destacar também a falta de incentivos para voluntários. Ainda que seja inviável custear a viagem e hospedagem de 45.000 pessoas, não seria possível uma bolsa de ajuda aos voluntários? Quem sabe parcerias com empresas privadas para descontos em acomodação? Ou até mesmo um cadastro oficial de pessoas que se disponibilizam a recebê-los sem custos. É algo a se pensar.
Se você se interessou em ser voluntário, saiba que a Olimpíada não é o único evento que conta com esse trabalho. Copa do Mundo e Pan-Americano são exemplos de outros eventos esportivos relevantes que contam com a ajuda do voluntariado.
Para se inscrever basta ter disponibilidade e ficar atento nos canais de divulgação oficial dos eventos, para os pré-requisitos e as datas de envio. Mas atenção, essa é uma responsabilidade, tenha certeza do seu comprometimento. Boa sorte!