Por Laura Dozza Reis e Thammy Luciano

A estreia da seleção portuguesa em uma Copa do Mundo Feminina não foi consagrada com uma vitória. A equipe que passou pela UEFA Euro Feminina e pela repescagem Intercontinental para garantir a primeira participação no mundial, perdeu por 1 a 0 para as holandesas, neste domingo (23). Apesar do resultado, estrear na competição é sinônimo de conquista para a história das Navegadoras.

Nos últimos anos, o país tem testemunhado o aumento no interesse das mulheres pela prática do futebol e a ampliação dos investimentos de grandes clubes em equipes femininas, principalmente, após a participação da seleção nacional nos dois últimos campeonatos europeus. A visibilidade da presença feminina no esporte e a estreia da seleção portuguesa em uma Copa do Mundo são resultados de anos de persistência do futebol feminino no país e uma conquista de várias gerações.

Instituída em 1981, a seleção portuguesa feminina fez o seu primeiro jogo oficial em Le Mans, na França. A equipe composta por 16 jogadoras entrou em campo contra a seleção francesa, que já tinha experiência em jogos internacionais, e conseguiu um empate sem gols.

Com o bom desempenho das portuguesas diante do cenário internacional, em 1983, a seleção foi inscrita para participar das eliminatórias do Campeonato da Europa. Entretanto, antes de mais um passo ser dado na história, a Federação Portuguesa de Futebol (FPF) decidiu interromper as atividades da Seleção Feminina do país. O futebol feminino não era uma aposta da federação.

Alfredina Silva, ex-jogadora de futebol, tinha 17 anos quando foi convocada para o primeiro jogo da seleção portuguesa. Em entrevista ao Flashscore, Alfredina apontou a ação da FPF como principal causa para o atraso na evolução do futebol feminino português. “Perdemos a oportunidade de estarmos mais cedo nos palcos internacionais com as Seleções”, comentou.

Com o crescimento do futebol feminino no país, Silva diz ser importante o apoio que vem sendo dado à modalidade. Ela afirma que a aposta no futebol feminino foi determinante para a seleção nacional chegar a sua primeira Copa do Mundo. “Assim que as jogadoras tiveram a oportunidade de melhores condições de treino e de visibilidade, conseguimos ter resultados”, completou.

Primeiro jogo da Seleção em 1981. (Foto: Arquivo pessoal/Alfredina Silva).

Reestruturação

Renascendo em 1993, após iniciativa do então técnico da seleção masculina Carlos Queiroz, em parceria com António Simões, a seleção feminina portuguesa voltou a trilhar seu caminho. O crescimento da equipe tem sido progressivo e, ao longo dos anos, ações foram desenvolvidas pela FPF para promover a modalidade, como a Festa do Futebol Feminino, criada em 2011. O investimento no esporte manteve o sonho do mundial vivo nas novas gerações.

Para Alfredina, o crescimento é resultado do conjunto entre Federação, associações e clubes para trazer visibilidade ao futebol feminino. “A Federação está fazendo um trabalho fantástico nos pontos estratégicos do desenvolvimento do futebol feminino e espero que, em conjunto com os clubes e associações, continue a desenvolver esse trabalho.”, declarou ao Flashscore.

O trabalho estratégico promovido em Portugal, além do aumento do número de praticantes, trouxe resultados evidentes para o esporte e colaborou para o sucesso das seleções entre a torcida portuguesa. A prova disso foi a presença dos mais de 20 mil torcedores no jogo de despedida da seleção feminina rumo ao mundial.

Francisco Neto, técnico que comanda a seleção feminina portuguesa desde 2017, em entrevista ao Sapo Desporto, contou que a equipe cresceu diante das adversidades e pode responder ao nível técnico internacional. Para ele, a presença das portuguesas na Copa do Mundo Feminina 2023 é a realização do antigo sonho português. “É um tributo às gerações que tinham muita qualidade, mas não tinham as mesmas condições que esta geração tem. Esta geração está a semear para as gerações futuras”, declarou.

Texto produzido em cobertura colaborativa da NINJA Esporte Clube