O que pode estar por trás da parceria entre o Governo Bolsonaro e Elon Musk?
Musk vai monitorar desmatamento e levar internet via satélite para escolas isoladas. Especialistas temem interesses ocultos
O ex-presidente do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Ricardo Galvão, disse à GloboNews que o anúncio da parceria do Governo Federal com o bilionário Elon Musk, para monitoramento ambiental de queimadas na Amazônia: “é só um jogo de cena político do presidente [Jair Bolsonaro]”. O programa seria implementado pela Starlink, empresa de internet de Musk, que também é dono da Tesla, que fabrica carros elétricos.
“Quem que estudou isso? Eles chamaram a Agência Espacial Brasileira? Algum especialista?”. Galvão lembrou que quando Musk pediu à Comissão Federal de Comunicações dos EUA e Nasa para lançar 30 mil satélites, houve protestos. A Starlink não respondeu às manifestações, porque esses satélites representam um perigo para os satélites que já existem no espaço. Mas no Brasil, a Anatel aprovou.
Galvão alerta que satélites para internet não servem para monitorar desmatamento. E além disso, o Inpe já realiza esse monitoramento. Ocorre que Bolsonaro critica a precisão dos dados – sem apresentar evidências -, pois eles expõem sua inoperância no setor ambiental. E ao invés de garantir incentivo ao Inpe, Bolsonaro corta investimentos. O Inpe, inclusive, possui alertas de desmatamento em tempo real.
Para a parceria, Bolsonaro não anunciou assinatura de contrato, tampouco abriu licitação. O fornecimento de tecnologia avançada de monitoramento da floresta amazônica incluiria ainda, conexão de internet via satélite para 19 mil escolas isoladas. Vale ressaltar, Galvão foi exonerado no início do governo Bolsonaro por expor dados de crescimento do desmatamento.
O ambientalista Mario Mantovani pegou a deixa de Galvão e denunciou interesses ocultos: “Espero que não dê tempo para passar do ‘jogo de cena’ à realização de tal estrago: entregar a um bilionário sem escrúpulos o monitoramento da Amazônia, que é já feito há anos pelo INPE. O interesse não é preservar o meio ambiente, ao contrário, o interesse é explorar os minérios (litium) necessários às baterias dos carros elétricos da Tesla. Quanto Musk promete em propina para o desastroso desgoverno e seus amigos militares (teoricamente responsáveis pela defesa da soberania na Amazônia)?”.
O lítio é elemento especial para a indústria de microprocessamento e armazenamento de energia em baterias.
Essa é a mesma opinião expressa no Twitter pelo professor David Nemer, da Universidade da Virgínia, que comentou no Twitter sobre a viagem de Musk ao Brasil.
“Não, Elon Musk não está animado por estar no Brasil para o lançamento do Starlink, ele está animado porque sabe que o Brasil tem 8% das reservas mundiais de lítio – cerca de 95 mil toneladas, tornando o país a sétima maior reserva de lítio conhecida em o mundo”.
No, Elon Musk is not excited to be in Brazil for the launch of Starlink, he is excited because he knows that Brazil has 8% of the world’s lithium reserves- about 95 thousand tons, making the country the seventh-largest known lithium reserve in the world. https://t.co/fKRHieEqBs
— David Nemer (@DavidNemer) May 20, 2022