O que outras pandemias podem nos ensinar?
O que podemos observar em pandemias e epidemias passadas e levar para nosso futuro pós coronavírus?
É comum fazermos comparativos com o passado para tentar manter a calma, ter mais uma referência e pensar soluções para problemas atuais. E no caso da pandemia do novo coronavírus, isso não é diferente.
O historiador Marcos Leitão de Almeida em artigo para O Globo aponta 4 lições que outros momentos na história podem nos ensinar sobre crises sanitárias.
Muitas delas não são a resolução mas apontam para o comportamento que podemos ter e como isso nos forma culturalmente. Preconceito, tentar encontrar culpados, modos de agir em casos de contaminação e o surgimento de novos cientistas e medicações são alguns dos pontos citados.
Podemos entender as lições como uma maneira de pensar e agir diferente, e não reproduzir erros do passado que tem consequências que às vezes transcendem as doenças.
Rotas de expansão humana
Observando a história, notamos que outras pandemias se espalharam através de grandes navegações por rotas comerciais, como a 2º ocorrência da Peste Bubônica no século XIV chegou à Europa pelas rotas comerciais que ligavam a China à Itália. O vírus HIV-1, que na década de 1920 infectou trabalhadores migrantes e mulheres nos centros urbanos da África Central e de lá se espalhou pelo continente através de vias férreas e pluviais até que o avião o levasse para a Europa imperial, os Estados Unidos e o Haiti.
Não se deve pensar em encerrar as rotas comerciais, mas observar como e quando agir para evitar maiores contaminações a partir das origens e não minimizar situações como fechamento de vias e aeroportos como forma de prevenção.
Bodes expiatórios
Chamar o coronavírus de vírus chinês nos remete a expansão do HIV, que por preconceito até hoje mantido, foi chamado de câncer gay e nos Estados Unidos disseminado como castigo divino a comunidade gay. Na África do Sul, onde o HIV se alastrou durante o apartheid, supremacistas brancos chamavam-na de mais uma forma de “swart gevaar”, o perigo negro.
Criação de teorias para encontrar culpados
Durante a epidemia da Aids, surgiu a teoria que a vacinação contra pólio testada em chimpanzés teria transmitido um vírus criado em laboratório para humanos. Percebe a semelhança com os dias atuais?
Inventar culpados não ajuda a encontrar curas e ainda estigmatiza e aumenta o preconceito contra comunidades inteiras.
As pandemias não produzem só coisas ruins
Cientistas incríveis, líderes comprometidos e povos criativos aparecem nesses momentos. Um exemplo é o médico John Snow que, em meio à epidemia de cólera em Londres em 1854, demonstrou que era a água dos londrinos, e não o ar pútrido da cidade, que transmitia a doença. Com isso, a cólera pôde ser combatida com eficiência.
A pandemia também nos mostra a necessidade de não acreditar em soluções milagrosas, não ignorar trabalho de jornalistas, cientistas, historiadores e profissionais de saúde que nos mantém informados das melhores ações a tomar diante de uma situação que desconhecemos.