O que esperar dos Jogos Paralímpicos de Paris 2024?
Sob a campanha “Mais que vencedores = Brasileiros”, a edição terá delegação recorde com 280 atletas
Por Maria Clara e Paty Zupo para a cobertura colaborativa de Paris 2024
A cada quatro anos, o sonho Olímpico é renovado, e com ele, nós, espectadores, aguardamos ansiosos para torcer, se emocionar, comemorar. Neste ano não foi diferente, as Olimpíadas trouxeram ao povo brasileiro novos ídolos, nomes de destaque, empoderamento feminino, além de muitas vitórias e sonhos tornando-se reais. Não findou o tempo de glória do esporte, pois, como estamos acostumados, encerram-se as Olimpíadas para iniciarem-se as Paralimpíadas.
Os Jogos Paralímpicos terão sua abertura oficial no dia 28 de agosto, e, em seguida, no dia 29, já se iniciam as competições, estando em disputa no dia: rúgbi em cadeira de rodas, taekwondo, tiro com arco, bocha, tênis de mesa, goalball, basquete em cadeira de rodas, badminton, natação, vôlei sentado e ciclismo, sendo no mesmo dia a premiação para taekwondo, natação e ciclismo. Ao todo, 23 medalhas serão entregues na premiação dessas modalidades nesta data.
As competições seguem até dia 07 de setembro, e a cerimônia de encerramento acontecerá no dia 08.
Estão ansiosos? Nós também! Então, vamos contar um pouco do que esperar das Paralimpíadas 2024.
Ao todo, os atletas que já representaram o país conquistaram 373 medalhas na história dos Jogos, somando as da última edição, em Tóquio 2020 (2021).
Os últimos jogos foram a melhor campanha do Brasil em paralimpíadas. Nossos atletas conquistaram 72 medalhas: 22 de ouro, 20 de prata e 30 de bronze, o que nos garantiu a 7° posição no ranking. Preparem-se para se emocionar muitas vezes com o hino nacional.
Neste ano são esperados 280 atletas, sendo 117 mulheres, que representam 45% do total de convocados. É a primeira vez que a delegação brasileira conta com um número tão alto de atletas femininas nos Jogos.
Teremos brasileiros competindo em todas as modalidades, exceto rugby e basquete de cadeira de rodas.
Classificação esportiva
Para cada modalidade você vai observar algumas siglas (classificação esportiva paraolímpica – CEP), as quais definem os grupos de acordo com o grau de deficiência constatado pela classificação funcional. É uma forma de categorização específica do Movimento Paralímpico, que visa minimizar o impacto da deficiência no desempenho dos atletas. Entenda.
Modalidades
Atletismo: O Atletismo contará com 89 representantes, sendo o maior número do Brasil na categoria. O velocista tetracampeão mundial Petrúcio Ferreira é o atual recordista mundial dos 100m e vai em busca da sua terceira medalha de ouro paralímpica. Esta modalidade conta também com Atleta-guia e Apoio. CEP: T (track), R (competindo na petra) e F (field).
Curiosidade: É fã de BBB? Então se liga, Vinícius Gonçalves Rodrigues, o “Vini”, participante da 24ª edição do reality, estará nesta edição dos Jogos. Assim como no programa, ele será camarote nas Paralimpíadas, tendo Prata no Mundial em 2023 e em Tóquio 2020. Desta vez, Vini não irá pro paredão! #timevini
Badminton: A modalidade teve sua primeira edição nas Paralimpíadas em Tóquio 2021, representado pelo atleta paranaense Vitor Tavares que, na ocasião, terminou na quarta colocação. Atletas em cadeiras de rodas e andantes competem em provas individuais e em duplas, masculinas, femininas e mistas, num total de seis classes funcionais diferentes. As CEP são: WH (cadeiras de rodas), SL (deficiência membros inferiores), SU (deficiência membros superiores), SH (baixa estatura), SI (deficiência intelectual).
Bocha: É a quarta modalidade mais vencedora do Brasil na história dos Jogos Paralímpicos, com 11 medalhas: seis ouros, uma prata e quatro bronzes. Praticada por atletas com elevado grau de paralisia cerebral ou deficiências severas. Só apareceu no Brasil na década de 1970. Os atletas Robson Sampaio de Almeida e Luiz Carlos “Curtinho” foram prata nos Jogos de Toronto, no Canadá, em 1976, quando a modalidade ainda levava o nome de “lawn bowls”. As CEP são: todos os atletas competem em cadeiras de rodas, eles são divididos em quatro classes (BC 1,2,3 e 4) de acordo com o grau de deficiência e da necessidade de auxílio ou não, chamados de “calheiros” que, em alguns casos, são os pais ou as mães dos atletas.
Canoagem: Ao todo, o Brasil conquistou quatro medalhas na história da competição com Caio Ribeiro (bronze), Fernando Rufino (ouro), Giovane Vieira (prata) e Luis Carlos Cardoso (prata). A canoagem paralímpica surgiu em 2009, o primeiro mundial foi em 2010 e a estreia em Paralimpíada foi na edição do Rio em 2016. Podem competir no esporte os atletas com deficiência físico-motora. Na classificação esportiva, os competidores são divididos em 03 grupos de acordo com o grau dos movimentos de membros inferiores, superiores e troncos, com as siglas: KL (caiaque) e VL (canoa).
Ciclismo: O Ciclismo é praticado por atletas com deficiência física e deficiência visual. Paralisados cerebrais, amputados e lesionados medulares (cadeirantes) competem no ciclismo adaptado. Eles podem competir em quatro tipos de bike: convencional, triciclo, tandem e handbike, e são divididos em quatro grupos de classes subdivididas pelo grau de severidade da deficiência: H (H1, H2, H3 e H4) tem ciclistas que se posicionam deitados no banco da bicicleta; H5 ficam ajoelhados e usam, também, a força do tronco para impulsionar a bike; T1 e T2 andam de triciclo; e C1 a C5 por fim, na tandem, exclusiva dos atletas com deficiência visual, em que uma dupla pedala.
Esgrima em cadeira de rodas: Destinada a atletas com deficiência locomotora que são avaliados, principalmente, de acordo com a mobilidade do tronco. Eles podem ser classificados em três categorias: A, B e C, sendo C a mais severa e A menos comprometida.
Futebol para cegos: O Futebol de 5 brasileiro é campeão desde a estreia da modalidade na competição em 2004, e espera poder comemorar o hexa paralímpico em Paris. As expectativas são de superar os números de Tóquio, e entrar no top 5 do ranking mundial, além de muitas emoções e lindas histórias para contar. Este esporte é exclusivo para atletas com deficiência visual, somente o goleiro tem visão total. A bola tem guizos internos para que o atleta possa localizar, os jogadores usam uma venda nos olhos que não pode ser tocada, estando sujeita a punição gravíssima, existe um guia posicionado atrás do gol do adversário para orientação, e a torcida só pode se manifestar após o gol, o silêncio é primordial nesta partida. Os atletas são divididos em três classes que começam sempre com a letra “B” de blind (cego em inglês) e definidos pela capacidade de percepção de luz, vultos e/ou definição de imagens.
Goalball: O goalball foi desenvolvido exclusivamente para pessoas com deficiência visual. A quadra tem as mesmas dimensões das de vôlei (9m de largura por 18m de comprimento). As partidas são realizadas em dois tempos de 12 minutos, com três minutos de intervalo. Cada equipe conta com três jogadores titulares e três reservas. A bola tem um guizo em seu interior para que os jogadores saibam sua direção, por se tratar de um esporte baseado nas percepções tátil e auditiva, não pode haver barulho no ginásio durante a partida, exceto no momento entre o gol e o reinício do jogo.
Todos os atletas, independentemente do nível de perda visual, utilizam uma venda durante as competições para que todos possam competir em condições de igualdade e as classificações são as mesmas do Futebol de 5: B1, B2 e B3.
Halterofilismo: A competição consiste num movimento de levantamento de peso chamado supino, o competidor deitado deve suportar o peso com os braços estendidos trazer ao corpo e voltar à posição inicial. O maior peso levantado das três tentativas é o considerado. Neste esporte, podem competir atletas com deficiência física nos membros inferiores, baixa estatura e paralisia cerebral. Eles são divididos em categorias de acordo com o peso corporal, assim como nas Olimpíadas. São disputadas dez categorias no masculino e feminino.
Hipismo: Competem no hipismo homens e mulheres que tenham deficiência físico-motora ou visual. Os cavaleiros são classificados em “grau” I, II, III e IV, de acordo com a sua deficiência e funcionalidade ou de acordo com o nível de visão, e julgados pela sua habilidade equestre do conjunto cavalo-cavaleiro, demonstrados por meio da apresentação de reprise (coreografia realizada em picadeiro de 20x40m ou 20x60m).
Judô: O judô é a terceira modalidade que mais trouxe medalhas para o Brasil nas Paralimpíadas, ficando atrás somente do atletismo e da natação. A modalidade é disputada por atletas com deficiência visual, cegos totais ou com baixa visão que são divididos em categorias por peso corporal. O tempo de luta é de quatro minutos. Em caso de empate na pontuação, ela é decidida no Golden Score (ponto de ouro, em inglês), uma espécie de prorrogação, com o vencedor sendo aquele que pontuar primeiro. As lutas acontecem sob as mesmas regras utilizadas pela Federação Internacional de Judô, com pequenas modificações em relação ao judô convencional. A principal delas é que o atleta inicia a luta já em contato com o quimono do oponente. Além disso, o duelo é interrompido quando os lutadores perdem esse contato. Pode haver punições se os judocas saírem da área de combate. Tanto a categoria feminina quanto a masculina contam com quatro divisões por peso cada. Além desta, os atletas também são divididos em J1 e J2, sendo J1 cegos total e J2 aqueles que conseguem definir imagens.
Natação: A natação é a segunda modalidade em que o Brasil mais conquistou medalhas na história dos Jogos Paralímpicos, com 125 medalhas: 40 ouros, 39 pratas e 46 bronzes (fica atrás apenas do atletismo, que soma 170 pódios). O nadador pernambucano Phelipe Rodrigues chegará a Paris como o maior medalhista em Jogos Paralímpicos da delegação brasileira. Entre as mulheres, a pernambucana Carol Santiago é a maior, com cinco medalhas. Temos também, Daniel Dias, maior medalhista paralímpico brasileiro com 26 láureas, marca que também lhe rendeu o título de maior nadador paralímpico no masculino.
Remo: O remo está no programa paralímpico desde os Jogos de Pequim 2008. O Brasil estreou na modalidade também nesta edição, e conquistou bronze no double skiff misto com os atletas Elton Santana e Josiane Lima. Este esporte é praticado por pessoas com deficiência ou limitação física, visual ou déficit intelectual, que tenham mobilidade mínima de braços, nas categorias PR1, PR2 e PR3.
Taekwondo: Os atletas usam coletes azul e vermelho que possuem sensores capazes de medir a potência do chute quando em contato com a meia do oponente. A meia tem 12 sensores em pontos distintos do pé. As lutas são realizadas em um round de cinco minutos, e a principal diferença do taekwondo paralímpico é no sistema de pontuação e nas faltas, em que não é permitido chute na altura da cabeça, o soco é permitido, mas não é pontuado. O taekwondo paralímpico estreou no programa dos Jogos Paralímpicos somente em Tóquio 2020. As classes esportivas do taekwondo são definidas pela letra P de “poonse” – forma (P10, P20, P30, P70) e K “kiorugui” – luta (K44).
Tênis de mesa: Na modalidade, nossa maior estrela é Bruna Alexandre, a 1ª brasileira a competir nos jogos olímpicos e paralímpicos na mesma edição. A atleta já possui 3 medalhas de bronze e uma de prata em paralimpíadas. Em 2024 pretende chegar ao topo do pódio. Temos 11 classificações na modalidade, que se dividem entre cadeirantes (1,2,3,4 e 5), andantes (6,7,8,9 e 10) e deficiências intelectuais (11). Para andantes, as regras são as mesmas do esporte olímpico, para cadeirantes o saque é diferente.
Tênis em Cadeira de Rodas: As semelhanças com o tênis convencional são muitas, mas existe a chamada regra dos dois quiques: que determina que o atleta cadeirante precisa mandar a bola para o outro lado antes que ela toque no chão pela terceira vez. As cadeiras são adaptadas para um melhor equilíbrio e mobilidade. Não há diferença em relação às raquetes e às bolas.
Para que uma pessoa possa competir em cadeira de rodas, o requisito é ter sido diagnosticada com uma deficiência relacionada à locomoção (total ou perda de uma ou mais partes extremas do corpo). As categorias são: OPEN/ ABERTA e QUAD/ TETRA.
Tiro com Arco: Esta será a quarta participação brasileira no tiro com arco em Paralimpíadas. As regras do tiro com arco paralímpico são as mesmas do esporte olímpico. Pode ser disputado por pessoas com amputações, paraplégicos e tetraplégicos, paralisia cerebral, doenças disfuncionais e progressivas, como a atrofia muscular e escleroses, com disfunções nas articulações, problemas na coluna e múltiplas deficiências. Os atletas são divididos em três grupos de classes, que se diferenciam pelas capacidades do atleta de ficar em pé e/ou de locomoção nos braços e tronco: W1 e W2, OPEN (Arco recurvo e composto) e V1, V2 e V3.
Tiro Esportivo: A modalidade estreou nos Jogos Paralímpicos de 1976 (Toronto) tendo apenas homens nas disputas. Quatro anos mais tarde, na Holanda, as mulheres começaram as disputas, inclusive em provas mistas. Em Tóquio 2020, o paulista Alexandre Galgani foi o único representante brasileiro na modalidade. Em Paris será a sexta participação do Brasil no tiro esportivo na história da competição. Os atletas são divididos em duas classes, SH1 e SH2, e a classificação dos atletas é feita de acordo com o equilíbrio, a mobilidade dos membros, a força muscular e o grau de funcionalidade do tronco, podendo até mesmo, em alguns casos, competir juntos.
Triatlo: A prova envolve 750m de natação, 20km de bike e 5km de corrida, e os atletas são divididos em três categorias que se subdividem de acordo com a severidade da deficiência: cadeirantes, deficiência física-motora e paralisia cerebral (andantes) e cegos. Teremos três competidores brasileiros: Jéssica Messali, que foi ouro na World Triathlon Para Cup 2023; Ronan Cordeiro, que foi ouro no World Series 2024; e Lele Freitas e a atleta-guia Giovanna Opipari, que estão entre as 10 melhores do mundo. A modalidade conta com seis classes diferentes, cinco delas com deficiências físico-motoras e paralisia cerebral e uma para deficiência visual (parcial ou total). As classes são: PTWC (handcycle e cadeiras de rodas para corrida), PTS2, S3, S4 e S5 (atletas andantes e deficiência motora) e PTVI destinada a tri-atletas cegos.
Vôlei Sentado: A equipe feminina de Vôlei Sentado é a atual campeã mundial e tem grandes expectativas de bons resultados. A ponteira Janaína Petit é uma das estrelas do time, e foi eleita a melhor jogadora da modalidade em Tóquio e no Rio. “Nosso grupo está muito fechado e preparado. O ambiente está legal. Estamos tão unidas que desde o primeiro minuto da concentração decidimos fazer tudo juntas. Inclusive as refeições”, comentou ela, numa entrevista para o portal Olimpíada Todo Dia.
Onde assistir aos jogos?
Os jogos paralímpicos começam dia 28 de agosto e terão transmissão gratuita no YouTube pelo canal dos Jogos Paralímpicos e no Sportv2 (consultar a disponibilidade de transmissão gratuita), além de emissora de canal aberto de TV, como a Rede Globo, que fará cobertura especial.
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