O que esperar da abertura dos Jogos Olímpicos de Paris?
Depois da abertura festiva dos Jogos do Rio em 2016 e a festa vazia em Tóquio 2020, o que Paris tem preparado?
Por: Mika Macedo
Os Jogos Olímpicos de Paris estão sendo muito esperados pelos fãs de esportes, e um dos motivos disso é o fato de finalmente terem a volta do público às arquibancadas dos eventos. As Olimpíadas de Tóquio-2020 (que aconteceu em 2021 por conta da pandemia de Covid-19) são consideradas as piores até então, por atletas, jornalistas e organizadores. A própria Covid é considerada o principal motivo para a recepção negativa, mas há outros pontos que somam nessa conta: polêmicas e escândalos que envolveram até mesmo uma tentativa de “piada” sobre o Holocausto feita por Kentaro Kobayashi, então responsável pela cerimônia de Abertura dos Jogos. Nessa conta também estão o diretor das cerimonias Hiroshi Sasaki por ter feito comentários gordofóbicos e o compositor de uma das músicas usadas na festa, Keigo Oyamada, por comentários capacitistas.
Um dos pontos negativos foi o vazio na festa de abertura, que, além de não ter público nas arquibancadas, também optou por uma apresentação com espaço negativo, mais silencioso e menos ruidoso.
O cineasta brasileiro Fernando Meirelles em entrevista para o site UOL disse: “Estou surpreso. Desde que a gente terminou a nossa cerimônia, em 2016, o Japão já estava conversando com a gente, eles estavam preparando a cerimônia deles e com o dinheiro que eles têm, com tecnologia, a gente achou que fosse ser a cerimônia mais espetacular, que eles iriam superar Atenas, China e Londres. Eu, sinceramente, fiquei pensando aqui como é que eles poderiam ter saído dessa e talvez tivesse pensado em usar muito a tecnologia. Quando a gente fez no Rio de Janeiro, a gente queria usar um show de drones, por exemplo, e não podia porque tinha o público e tinha risco. Sem o público lá, eles poderiam ter usado drones, desfiles de robôs, inteligência articulada, que é uma coisa da cultura japonesa também.”
A abertura esse ano terá Thomas Jolly na direção e será coreografada por Maud Le Pladec. Jolly é conhecido por seu trabalho como ator, diretor de teatro e ópera na França, enquanto Le Pladec é diretora do Ballet de Lorraine, na comuna francesa de Nancy. Além disso, a celebração de abertura vai acontecer no Rio Sena e nos Jardins do Trocadéro, abrindo mão de acontecer num estádio pela primeira vez na história. A escolha por acontecer dessa forma, veio de uma promessa do Comitê francês em fazer com que o evento fosse mais acessível ao público, e por isso, além de ter um espaço com lugares reservados ao longo do percurso, haverá lugares para outros espectadores, o que faz com que a previsão de público possa superar a marca de 500 mil. O público presente na cidade olímpica também poderá contar com telões que serão espalhados por Paris, para que possam assistir ao show mesmo estando longe das margens do Sena.
As delegações atravessarão o Rio Sena em barcos por um percurso de aproximadamente 6 km, passando por diversos pontos turísticos da cidade. O trajeto começa na ponte Austerlitz, tendo a Catedral de Notre-Dame, Esplanade des Invalides e o Grand Palais como passagem e chegando por fim na Ponte Léna e no Trocadéro, localizada em frente à Torre Eiffel, onde vão acontecer os protocolos oficiais e a declaração de início dos Jogos.
Em entrevista à agência de notícias francesa AFP, o diretor Thomas Jolly contou que uma parte das apresentações artísticas acontecerão nas pontes ao longo do percurso e contarão com a participação de artistas circenses, dançarinos, musicistas, performers, artistas plásticos e muitos outros profissionais do entretenimento. Jolly contou também, que os ensaios estão acontecendo em locais fechados, e quando precisam envolver materiais com água, estão utilizando uma base náutica. Ao todo, serão usadas cerca de 100 embarcações para as delegações que são aproximadamente 200, e atletas são cerca de 10500.
“Quero que cada espectador se sinta representado. A França é Edith Piaf, o rapper Jul, a soprano Natalie Dessay. É uma variedade de gêneros musicais. A França é queijo, mas também pretzel, cuscuz. É uma grande diversidade.” Disse Jolly à AFP, afirmando o conceito da apresentação que está preparando para bilhões de espectadores ao redor do mundo.
Mas existe um ponto que pode deixar algumas coisas incertas. O Sindicato Francês dos Artistas e Intérpretes confirmou um aviso de greve para o dia da abertura. O grupo denuncia condições precárias e as caracteriza como vergonhosas e com ausência de subsídio. Há também acusação de que alguns artistas estão recebendo salário de 1600 euros, enquanto outros, apenas 60 para se apresentarem.
No quesito segurança, com temor de atentados terroristas, até sexta-feria, dia da abertura, há um perímetro de isolamento formado por uma área onde não poderá haver circulação de carros e outra onde só poderão circular moradores e trabalhadores já cadastrados e com um passe específico.
A Cerimônia de Abertura dos Jogos Olímpicos de Paris está marcada para esta sexta-feira (26), às 14h30 horário de Brasília, e às 19h30 no horário local.