Por: Naiana Gaby

Qual é a magia do vôlei? Seria o ponto a ponto rápido, o dinamismo das partidas ou a vibração dos jogadores dentro de quadra? Será que tem relação com o alívio de ver aquele ponto sofrido ser finalmente marcado? Ou, quem sabe, possa ser o conjunto de emoções que conseguimos sentir em um único set?

O fato é que a popularidade do esporte deu um salto gigantesco no Brasil na última década. São quase 100 milhões de brasileiros que gostam de acompanhar os campeonatos e partidas de vôlei. Para o país que é conhecido (e apaixonado) pelo futebol, esse é um número muito expressivo e foi conquistado de maneira lenta, mas crescente. 

Contexto histórico

Para entender melhor a trajetória do esporte por aqui, vamos voltar para 1915, ano em que foi registrada a primeira partida de vôlei no Brasil, mais precisamente em Recife (PE). Naquela época, a prática só era possível em clubes mais elitizados, sendo um esporte distante e pouco conhecido da maioria da sociedade brasileira. Foi em 1923 que o voleibol começou, de maneira tímida, a ganhar força no Brasil quando o Fluminense se tornou o primeiro clube nacional a ter um time profissional de vôlei, popularizando ainda mais o esporte com a criação do primeiro torneio da modalidade. 

Mas foi somente com a criação da Confederação Brasileira de Voleibol (CBV) em 1954 que o vôlei foi, de fato, expandido. A CBV foi a responsável por promover cursos profissionalizantes e também pela criação de inúmeras escolinhas de vôlei, contribuindo diretamente para o crescimento do esporte no país.

Quase 30 anos se passaram até chegarmos em uma das épocas mais importantes para o voleibol no país: os anos 80! Após conquistar uma medalha de prata durante o Campeonato Mundial de Voleibol Masculino em 1982, disputado em Buenos Aires, o Brasil entrava com força total no cenário internacional da modalidade. Com a popularidade do esporte aumentando cada vez mais, a CBV passou a investir em marketing esportivo e começou a realizar eventos promocionais para o vôlei brasileiro.

BRA x URSS no Maracanã

Como parte da estratégia de popularização do vôlei, a CBV convidou a então União Soviética, campeã Olímpica Mundial, para uma série de 4 amistosos no Brasil realizados nas cidades de São Paulo, Recife, Vitória e Rio de Janeiro. O último jogo, programado para ser no maior estádio de futebol do mundo na época, o Maracanã, foi realizado no dia 26 de julho de 1983 e contou com 95.887 espectadores presentes no estádio. Um recorde.

O jogo foi transmitido ao vivo no Brasil pela TV Record, nos Estados Unidos pela Rede ABC e na Inglaterra pela BBC Londres. O evento se tornou um marco que ajudou o vôlei a se tornar o segundo esporte mais popular no Brasil.

Foto: Agência Estado

A seleção feminina 

A década de 80 não foi importante somente para o voleibol masculino, mas também para a seleção feminina, que começava a se destacar. Os resultados mais positivos começaram no Campeonato Mundial de 1986, quando o time chegou em 5º lugar, e durante os Jogos Olímpicos de Seul 1988 e Barcelona 1992, conquistando o 6º e 4º lugar, respectivamente. 

Mas a ascensão mesmo veio nos anos 90, quando o ex-jogador e agora técnico, Bernardo Rezende, o Bernardinho, assumiu o comando técnico da seleção, em 1994. No mesmo ano, a seleção brasileira conquistou o vice-campeonato no mundial e foi medalha de ouro no Grand Prix (a Liga Mundial, só que feminina). No ano seguinte, em 1995, o sexteto foi medalha de prata na Copa do Mundo.

Com jogos acalorados, principalmente contra a seleção de Cuba – maior adversária na época -, a imprensa brasileira passou a acompanhar e fazer coberturas completas dos jogos e das atletas que passaram a ter reconhecimento e receber o carinho dos brasileiros. Ana Moser, Fernanda Venturini, Ana Paula, Márcia Fu, Virna, Leila e tantas outras jogadoras, ajudaram a fazer com que o voleibol feminino fosse respeitado e consagrado. 

Olimpíadas 

O voleibol foi inserido nas Olimpíadas em 1964, mas a primeira conquista significativa do Brasil veio em 1984, 20 anos depois, durante os Jogos de Los Angeles. A seleção masculina disputou a final contra os Estados Unidos, ficando em segundo lugar e trazendo a medalha de prata para casa. A “Geração de Prata”, como ficou conhecido o time na época, foi responsável por conquistas e títulos para a modalidade. 

Ao todo, o voleibol brasileiro acumula cinco títulos olímpicos. Em 1992, 2004 e 2016 com a seleção masculina nos Jogos de Barcelona, Atenas e Rio de Janeiro, respectivamente, e em 2008 e 2012, com a seleção feminina em Pequim e Londres.

O bom desempenho das equipes nos Jogos Olímpicos e em outros campeonatos, foi importante para que o torcedor brasileiro passasse a acompanhar, torcer e vibrar com o vôlei. Foi a partir desse sentimento de orgulho que a modalidade foi ganhando cada vez mais espaço nas programações televisivas e recebendo apoio de patrocinadores. 

Foto: Ormuzd Alves – Arquivo Folhapress

O grande salto 

A pesquisa Sponsorlink, do Instituto Ibope Repucom, revelou em 2022 que 87% da população brasileira com mais de 18 anos têm interesse no vôlei. É um grupo de 96 milhões de pessoas, número 113% maior do que o divulgado em 2013, quando saiu a primeira edição do levantamento. É um salto incrível, resultado de todo o esforço da CBV em popularizar o esporte e dos times, que sempre jogaram com brilhantismo e garra.

A tendência é que esse número cresça ainda mais. Hoje as seleções femininas e masculinas continuam conseguindo bons resultados e geram expectativa de medalha por onde passam. A CBV continua trabalhando para promover jogos que são verdadeiros espetáculos com ginásios cheios, luzes, música e até mesmo shows. Essa atmosfera gera interesse do público e também das emissoras de televisão e serviços de streaming que se interessam pela transmissão. 

Por aqui, a gente continua torcendo e se perguntando: qual é a magia do vôlei?