O orgulho tricolor: Os feitos de Adhemar Ferreira e as duas estrelas douradas
Com um início de carreira aos 17 anos, Adhemar Ferreira foi um grande atleta brasileiro a alcançar marcas históricas no salto triplo.
Por Daniel Santana, para Cobertura Colaborativa Paris 2024
Na história olímpica, o Brasil possui diversos feitos que colocaram o nosso país nas grandes páginas dos jogos. Uma delas, é o enorme feito de Adhemar Ferreira da Silva no salto triplo, com um bicampeonato inédito naquele momento. Os feitos dele também estão nas belas páginas de um grande clube brasileiro: O São Paulo Futebol Clube.
Início de carreira
Nascido em 1929 no bairro da Casa Verde, na capital paulista, Adhemar iniciou sua trajetória no atletismo aos 17 anos, em 1946, como atleta do São Paulo. Em sua biografia no site do SPFC (São Paulo Futebol Clube), ele afirmava gostar da forma como a palavra atleta era falada e daí então, resolveu começar a praticar.
“Achei a palavra atleta bonita e decidi que queria ser um”, afirmou.
Ao iniciar sua trajetória, ele alcançou resultados expressivos que impressionaram pessoas de dentro do clube, como o salto de 13,05m no Troféu Brasil daquele ano.
Ele disputou sua primeira olimpíada aos 19 anos em Londres, nos primeiros jogos após a segunda guerra mundial. A participação do brasileiro em 1948 foi bem satisfatória, conquistando um modesto décimo primeiro lugar em sua estreia. Mas, o potencial de Adhemar já indicava que o melhor estava por vir.
No ciclo para os jogos de Helsinque, na Finlândia, Adhemar saltou 16m em 1950, igualando o recorde mundial de Naoto Tajima, que perdurava há 14 anos e um ano depois, se tornava o primeiro atleta a passar da marca dos 16 metros em competição no Rio de Janeiro.
As vitórias olímpicas e a consagração como atleta
Na sua segunda olimpíada em 1952, ele bateu o recorde mundial da época em todos os três primeiros saltos (16,05m – 16,09m – 16,12m). E no quarto e último, ele saltou 16,22m para surpreender o mundo com o ouro e receber toda reverência dos finlandeses ao ser o primeiro atleta a comemorar uma vitória caminhando pelo estádio, o que deu origem a volta olímpica. Mas, coisas grandes ainda estavam por vir.
Na olimpíada seguinte em Melbourne, mesmo com uma insuportável dor de dente, Adhemar brigou bravamente contra o islandês Vilhjálmur Einarsson, onde registrou a marca de 16,35m se tornando o primeiro atleta brasileiro a alcançar um bicampeonato na história olímpica, o que o levou ao panteão dos grandes esportistas da história.
Em busca do tricampeonato em Roma nos jogos de 1960, o brasileiro não foi bem e ficou no 14º lugar registrando um salto de 15,07m.
Um dos grandes percalços de Adhemar na disputa foram os problemas pulmonares como a tuberculose. Ele havia sido diagnosticado com a doença aos 33 anos, o que encurtou a sua carreira no esporte. E para agravar tudo isso, desde muito novo e principalmente no auge, ele fumava um maço de cigarros diariamente.
Além dos dois ouros olímpicos, ao longo de sua trajetória ele passou por clubes como o Vasco da Gama e quebrou o recorde mundial em cinco oportunidades, conquistou cinco títulos sul-americanos e foi tricampeão dos Jogos Pan-americano, onde na edição de 1955 na Cidade do México, registrou a melhor marca de sua vida, 16,56m.
Formação em outras áreas e carreira artística
Ao sair dos esportes, ele se formou em Direito, Belas Artes, Relações Públicas e Educação Física, aprendeu outros idiomas, foi adido cultural na embaixada brasileira em Lagos, Nigéria, entre 1964 e 1967, escreveu em uma coluna para o jornal “Última Hora” e foi um exímio ator.
Adhemar participou da peça “Orfeu da Conceição” de Vinícius de Moraes em 1956, o que o levou a estar em “Orfeu Negro”, filme que venceu a Palma de Ouro, em 1959, foi premiada em Cannes, e conquistou o Oscar de melhor filme estrangeiro em 1960. Esse foi o único filme que ele participou na vida, mas deixou uma ótima impressão, visto todos os prêmios que a obra recebeu.
A honraria tricolor
Após deixar um legado olímpico e também no cinema, Adhemar faleceu aos 73 anos em janeiro de 2001 na capital Paulista, após uma parada cardíaca.
Os feitos dele ao longo de sua carreira como atleta e artista lhe rendeu vários reconhecimentos ao longo de sua vida, como ser reconhecido como Herói da Pátria em 2023. Mas outros dois desses feitos é o que o torna imortal.
Em sua primeira conquista olímpica e no registro do recorde em 1952 (16,22m) e ao bater a marca no histórico do salto no Pan de 1955 (16,56m), ele era atleta do São Paulo Futebol Clube, representando o tricolor de 1946 a 1955.
Ao reconhecer os feitos do atleta, o São Paulo passou a estampar as duas estrelas douradas acima de seu símbolo para homenagear o legado e a importância de Adhemar para o esporte e para o clube.
Aquele garoto de sete anos, filho único, que não podia sair para brincar com as outras crianças por conta das tarefas em casa, mal sabia que as suas grandes vitórias estariam um dia registradas para toda eternidade na camisa de um dos maiores clubes do mundo.
Uma forma mais do que merecida para sempre lembrar daquele que ostentou o nome do Brasil e do São Paulo dignamente.