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Em meio à escalada da violência na região, o conflito entre Israel e Palestina ganha destaque internacional, evidenciando uma luta que remonta a mais de um século. Contrariando a percepção de que a questão teve início apenas em 1947, ou até mesmo no último dia 7 de outubro. Observa-se que o projeto de construção de um Estado judaico sionista sobre as terras palestinas é anterior a 1836, e para Rawa Alsagheer, coordenadora da Samidoun, em entrevista exclusiva para NINJA. (assista a entrevista completa ao final).

Rawa também faz parte do movimento Alkaramah para as mulheres palestinas na Espanha, membro no comitê preparatório na conferência do Caminho Palestino Alternativo

‘A segunda Nakba’

Desde a primeira Nakba, a “catástrofe palestina” que ocorreu em 1948, quando dois terços da população palestina foram expulsos de suas terras, os palestinos enfrentam uma contínua luta pela autodeterminação. Atualmente, mais de 8 milhões de refugiados palestinos vivem na diáspora, refletindo a magnitude do impacto histórico desse evento.

“O povo palestino está nisso há mais de 100 anos, não começou no dia 7 de outubro. Esse projeto sionista é anterior a 1836. Não começou em 1947 a ideia de construir um Estado israelense, estado sionista judaico, por cima das terras palestinas. Muitas pessoas ao redor do mundo, inclusive judeus, são contra a construção do Estado de Israel, contra esse genocídio e contra essa ocupação.”, explica Rawa Alsagheer.

Desde a primeira Nakba, primeira catástrofe palestina que expulsou 2/3 da população de suas terras, os palestinos tem se espalhado pelo mundo inteiro. “Foi assim que nós viramos 8 milhões de refugiados palestinos na diáspora”, explica.

Após a guerra dos seis dias em 1967, onde territórios palestinos foram perdidos, acordos subsequentes designaram apenas 22% do território para um futuro Estado palestino, que permanece sob controle israelense. A Faixa de Gaza, cercada há 17 anos, testemunha agora um dos ataques mais intensos dos últimos tempos, configurando uma segunda Nakba em curso.

“A Faixa de Gaza tem uma cerca (muro) há 17 anos. E esse ano não é o primeiro ataque, é o ataque mais forte, mais brutal que a gente está vendo ao longo desses 76 anos. E a gente está fazendo agora uma segunda Nakba, de uma forma ou outra, da Faixa de Gaza”, afirma Alsagheer.

A realidade cotidiana dos palestinos sob ocupação

A situação é ainda mais complexa para os palestinos sob ocupação israelense, onde até mesmo a busca por tratamentos médicos enfrenta obstáculos. A necessidade de autorizações para cruzar fronteiras, inclusive para tratamentos médicos vitais, torna a vida diária um desafio constante para os palestinos, que se tornam reféns em sua própria terra.

A recente preocupação com os brasileiros palestinos em Gaza, enfrentando a difícil retirada em meio aos bombardeios, destaca uma realidade que persiste há décadas. Na última semana, depois de muito investimento e articulação do governo brasileiro, o país conseguiu retirar cerca de 28 brasileiros que estavam em Gaza. Esse é apenas um sintoma de uma realidade mais ampla que afeta todos os palestinos, independentemente de sua nacionalidade.

Crescente solidariedade global

Em meio ao sofrimento, observa-se uma crescente manifestação global de solidariedade para com os palestinos. A diáspora palestina, antes considerada uma minoria silenciosa, emerge como uma voz unida contra a ocupação. O imperialismo ocidental, que frequentemente tenta marginalizar essa questão, agora se depara com uma solidariedade global que transcende fronteiras e desafia narrativas estabelecidas.

“Todos os palestinos são reféns. Para a ocupação israelense, você não pode nem sair e iniciar um tratamento de saúde. Se você tem câncer, você quer fazer quimioterapia, você não pode nem pegar autorização para ir para o Egito para fazer seu tratamento medical.  E isso é uma das menores coisas que estão acontecendo, por que a gente está vendo muito mais que isso. E é realmente na Faixa de Gaza toda. A Cisjordânia também é um das maiores prisões sem teto no mundo. E por que tem uma situação que não é uma coisa menos, por que você não consegue sair, você quer ir para a Jordânia, você vai precisar da autorização israelense e autorização da Autoridade Palestina, além da autorização jordaniana. Então, como agora também está sendo com a fronteira na Faixa de Gaza”, explica Rawa

“O imperialismo ocidental sempre tenta colocar é que somos minoria. Só que agora chegou o momento que palestinos em diáspora estão falando”, conta Rawa.

Neste momento crucial, o mundo testemunha não apenas um conflito regional, mas uma questão global de justiça e direitos humanos. À medida que as vozes palestinas e seus apoiadores se tornam mais proeminentes, a esperança de uma resolução justa e responsabilização dos culpados para este longo massacre permanece viva.