O fim dos elefantes brancos: os estádios desmontáveis da Copa do Catar
Estádios serão diminuídos ou utilizados para outros fins após a Copa do Mundo
Por Marcela Santiago
Devido aos requisitos da FIFA para a realização de eventos internacionais de grande porte, grandes construções de estádios com milhares de assentos e tecnologias cada vez mais avançadas são cda vez mais comuns. São inúmeras questões: de 30 a 60 mil lugares sentados, visão perfeita de qualquer assento do estádio, estacionamentos gigantescos e uniformidade no sistema de iluminação. E isso é só o começo.
Para países pequenos e regiões com baixa probabilidade de lotar um estádio de grandes proporções, isso é um problema – e muitas vezes um ponto de oposição aos países que gostariam de sediar uma Copa do Mundo. Afinal de contas, ainda este ano, faltava pagar R$1,5 bilhão de custos referentes à Copa de 2014 no Brasil, ao mesmo tempo em que a maioria das construções trazem prejuízos anuais milionários: os chamados elefantes brancos.
Para levar os eventos esportivos aos locais mais remotos dos países há um grande custo ambiental, operacional e financeiro. Para o Qatar, um país menor que o estado de Sergipe e com uma população do tamanho da cidade de Salvador, mais de 380 mil assentos em estádios é um exagero.
E é por isso que no Guia Oficial da Copa 2022 está explícito que os padrões FIFA são desproporcionais às necessidades do país. Mas ao contrário das sedes anteriores, o Qatar procurou uma solução melhor a curto e longo prazo – o que é surpreendente para um dos países mais ricos do mundo.
Tudo está conectado. Os sistemas de refrigeração dos estádios, feitos para enfrentar o calor de até 50 graus que o país atinge no verão, estão associados com um isolamento térmico eficiente – o que inclui tetos retráteis no estádio, que possuem fins de refrigeração e não de proteção contra eventos climáticos. O vapor que vem desse sistema é condensado e utilizado para regar as plantas dos arredores ou para os banheiros.
Isso, claro, inclui estações de tratamento de água dentro dos próprios estádios.Apesar disso, esse sistema gasta somente em torno de 20% do gasto anual de energia dos estádios. E por falar em economia, os estádios Qatari gastam 40% a menos de energia do que estádios comuns, do mesmo porte.
Gastos milionários em estruturas temporárias já foram feitos em outros anos, mas no Qatar, pelo menos 170 mil lugares de arquibancada poderão ser desmontados e doados após a Copa do Mundo, principalmente para países sem infraestrutura para a prática de esportes.
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Localizado na beira-mar, em Doha, o estádio 974 deve ganhar uma atenção especial esse ano. Também chamado de Ras Abu Aboud Stadium, o estádio é construído com o mesmo número de containers e é o primeiro estádio completamente desmontável de uma Copa do Mundo. Ele poderá ser desmontado ou dividido em estádios menores, ou até outras estruturas. Um estádio feito de containers e em padrão FIFA é certamente notável.
Além disso, ainda de acordo com as necessidades do Qatar, os estádios serão utilizados como centros comunitários, escolas, hospitais, centros religiosos e até como hotelaria. O maior deles, o Lusail estádio, provavelmente nunca mais verá uma partida internacional após a Copa. Será um centro comunitário.
A possibilidade de um estádio de alta tecnologia e segurança ser facilmente montado e desmontado de acordo com a necessidade é um marco para os eventos esportivos. Principalmente para países menores ou comprometidos com a sustentabilidade.
Poderia esse ser o fim dos “elefantes brancos”?
Al Bayt: terá a capacidade reduzida de 60 mil para 32 mil lugares após a Copa. Nele, 70% da iluminação vem de energia solar.
Al Janoub: terá a capacidade reduzida de 40 mil para 20 mil lugares após a Copa.
Ahmad bin Ali: feito com 90% do último estádio, será herdado pelo dono original do estádio, o Al Rayyan.
Al Thumama: terá a capacidade reduzida de 40 mil para 20 mil lugares após a Copa
Education City Stadium: terá a capacidade reduzida de 40 mil para 20 mil lugares após a Copa
Ras Abu Aboud Stadium (974): será completamente desmontado
Lusail: Será transformado em um centro comunitário com escolas, lojas, cafés, clínicas e facilidades esportivas após a Copa.
Khalifa: Será usado para a prática de esportes após a Copa.