‘O Dono do Lugar’: Djonga lança sexto álbum
Por Hellen Sacramento Escapando da febre de lançar apenas singles, Djonga estreou na última quinta-feira (13) um álbum completo com 12 músicas inéditas. “O Dono do Lugar” traz conversas relevantes sobre a juventude e masculinidade preta, a indústria cultural e musical do país e a repercussão dessa estrutura na carreira dos artistas. O rapper se […]
Por Hellen Sacramento
Escapando da febre de lançar apenas singles, Djonga estreou na última quinta-feira (13) um álbum completo com 12 músicas inéditas. “O Dono do Lugar” traz conversas relevantes sobre a juventude e masculinidade preta, a indústria cultural e musical do país e a repercussão dessa estrutura na carreira dos artistas. O rapper se inspirou na metáfora da loucura de Dom Quixote para a capa de lançamento e dedicou uma faixa do disco ao personagem.
“Enquanto os caras forem os donos das grandes empresas de música, das grandes plataformas e de tudo, nós não somos nada. Nós somos os caras que ganham dinheiro aqui e se amanhã os caras quiserem eles vão descartar a gente. Essa é a mensagem que eu estou trazendo (no álbum). Precisamos descentralizar a questão da grana para a cultura do nosso país. Tirar desse lugar de repetição tanto no poder público quanto da indústria de um modo geral”, explicou Djonga durante o lançamento do disco na sede do Mídia NINJA em São Paulo.
O rapper explica que é necessária uma mudança na estrutura da indústria cultural para que não só ele, mas diversos parceiros de profissão tenham as possibilidades de acesso a questões simples, como as Leis de Incentivo à Cultura, e também a chance do público acessar shows mais baratos. Descentralizando o poder econômico das mãos das pessoas de influência e oferecendo mais oportunidades aos novos artistas, e aos antigos que não desistiram dos seus sonhos. O incentivo aos artistas é de suma importância para eles não desistirem.
Características do álbum
Djonga é sempre pontual com seus lançamentos anuais, desde 2017, e esperou até a data característica do dia 13 para manter sua tradição. Afirmando que esse número sempre está na vida dele, como em seu posicionamento político.
“Pra mim trazer um álbum que questiona a masculinidade dos pretos já faz a gente questionar a eleição de Bolsonaro. Ele é um cara que tá no poder e tem essa força toda muito pela masculinidade esquisita. Inclusive os pretos que fecham com esse cara, que fecham com as ideias e que não conseguem perceber que o fuzil está apontado é para eles, sacou? Questionar isso dentro de um disco já traz um pouco da explicação do porque esse cara está lá, e promove uma reflexão na galera também”, acrescenta Djonga.
E o compositor deixa um recado para os homens pretos:
“Você não precisa ser assim! Porque você sofreu abuso psicológico, abuso de tapa na cara de polícia. Você foi ensinado que se você tem que se defender o tempo inteiro na porrada. Não precisa, mano, não precisa. É esse o recado que está sendo dado nesse disco”
O artista desabafa que não quer que os parceiros dele sejam lembrados somente depois de suas mortes, como a maioria dos homens pretos são. Ele ensina que eles devem ser homenageados aqui, serem bem vistos e queridos aqui enquanto vivos. E a única forma de mudar esse destino dos pretos é quebrando esse ciclo de violência racial.