Confira o que a ciência do esporte já produziu sobre a interferência do ciclo menstrual em atletas do futebol

Foto: CBC Oficial

Por Tácio Santos

Esta é a primeira parte de uma série de matérias especiais que busca demonstrar o que a ciência do esporte já produziu sobre o ciclo menstrual em atletas de futebol. Neste primeiro momento, trataremos dos dados sobre o desempenho físico.

O Ciclo Menstrual

Antes de mais nada, é importante rever o ciclo menstrual, ao menos, em linhas gerais. Via de regra, ele dura cerca de 28 dias e ocorre, ininterruptamente, na vida da mulher, durante aproximadamente 30 anos. É uma cadeia de eventos que interliga o cérebro, os ovários e o útero, em atividades mediadas por hormônios. O objetivo, em última instância, é preparar o organismo para uma possível gestação.

O ciclo menstrual é, tecnicamente, chamado de ciclo uterino e é dividido em fase pré-ovulatória e fase pós-ovulatória. Relaciona-se, diretamente, com um outro ciclo, chamado ciclo ovariano, que é dividido em fase folicular e fase lútea. Tanto o ciclo uterino como o ciclo ovariano têm suas fases determinadas a partir da ovulação, que se dá, exatamente, no meio deles. 

Fases do Ciclo Uterino e do Ciclo Ovariano

O Ciclo Uterino

O ciclo uterino consiste nas adaptações do útero para a possível gestação. A fase pré-ovulatória começa junto com a menstruação, que é uma liberação de sangue e de tecidos que estavam ligados ao endométrio – o revestimento interno do útero. Isso acontece devido a baixos níveis dos hormônios estrogênio e progesterona.

Após os dias da menstruação, o aumento do estrogênio leva a um novo crescimento de tecido no endométrio, deixando-o – e, consequentemente, o útero – mais espesso, o que facilita a fecundação de um eventual óvulo que se implantará e se desenvolverá ali.

A fase pós-ovulatória tem início após um ovário liberar o óvulo [vide Ciclo Ovariano a seguir]. Nela, o aumento da progesterona faz o endométrio cessar o espessamento e se preparar para a fixação de um óvulo fecundado. 

O Ciclo Ovariano

O ciclo ovariano consiste na atuação do ovário para a possível gestação. Tem início com a fase folicular, que começa junto com a menstruação. Os folículos são como bolsas, preenchidas por líquido e óvulos, que se desenvolvem pela ação do hormônio folículo-estimulante. Aquele folículo que mais se desenvolve rompe e libera o óvulo – caracterizando a ovulação. No processo de crescimento, o folículo produz estrogênio em nível que leva o cérebro a aumentar o hormônio luteinizante. Esse hormônio causa a liberação do óvulo nas trompas, lugar onde pode ocorrer seu possível contato com o espermatozoide – fecundação.

A fase lútea acontece entre a ovulação e o início da próxima menstruação. O folículo rompido se torna um corpo lúteo, que é um produtor de progesterona e estrogênio, hormônios que mantêm as condições propícias do endométrio e do útero, citadas acima, para a gestação. Quando não acontece a fecundação, o corpo lúteo se desfaz, em aproximadamente 10 dias, reduzindo a produção dos dois hormônios e gerando a perda da camada mais espessa do endométrio, que origina a menstruação.

Ciclo Menstrual

Desempenho físico de atletas de futebol ao longo do ciclo menstrual

Apesar de o ciclo menstrual ser algo inerente ao corpo da mulher e do crescimento do futebol feminino nas últimas décadas, sua relação com o desempenho físico foi pouco pesquisada nas futebolistas. Portanto, muitos parâmetros de interesse, ainda, não foram analisados nessas atletas. Mesmo assim, optamos por apresentar, apenas, dados de estudos feitos, especificamente, com jogadoras de futebol.

Fase Folicular vs. Ovulação

No início da fase folicular, foi observada uma ampliação da retenção hídrica, causando o aumento na massa corporal. Além disso, também ocorre perda de flexibilidade. Contudo, a capacidade de saltar e de realizar sprints não é perdida, em comparação com o período de ovulação.

Fase Folicular vs. Fase Lútea

No final da fase folicular, observa-se que a força da musculatura posterior da coxa se torna ainda mais baixa, do que normalmente já é, em relação à musculatura anterior, e essa diferença é um importante fator de risco para lesões. Já a distância percorrida em alta intensidade, nas partidas, não diminui significativamente. A capacidade de corridas rápidas, com mudança de direção, e de corridas com aumento gradual de intensidade, também, permanece inalterada. 

Início da Fase Folicular vs. Final da Fase Folicular

No início da fase folicular, menores distâncias são percorridas em alta e média velocidade, durante as partidas, independentemente do tempo de jogo. O mesmo acontece com a distância total percorrida, e com o número de sprints realizados.

Por mais informação e compreensão

Mesmo que ainda se tenha poucos estudos específicos, a ciência do esporte indica que o desempenho físico das atletas de futebol muda ao longo do ciclo menstrual. Com base nisso, é importante que profissionais que trabalham com o futebol feminino, em qualquer área de atuação, instruam-se sobre o tema. Também é interessante que o público desse esporte esteja familiarizado com a questão, pois somente com todas as partes envolvidas devidamente informadas haverá uma melhor compreensão de possíveis oscilações no rendimento das jogadoras.

Texto produzido em cobertura colaborativa da NINJA Esporte Clube