“O caso não terminou”: Univaja denuncia crime político no assassinato de Dom e Bruno
Indígenas temem também por suas vidas: Continuaremos vivendo sob ameaças?
Ao fim da coletiva de imprensa da Polícia Federal, em que foi anunciada de remanescentes humanos, que pela localização, pode ser do indigenista Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips, a Univaja se manifestou em nota, lembrando que “o caso não terminou”.
“Sabemos também que, ao longo das buscas, as forças policiais efetuaram duas prisões: Amarildo da Costa de Oliveira (vulgo Pelado) e Oseney da Costa Oliveira (vulgo Dos Santos). No entanto, a UNIVAJA compreende que o assassinato de Pereira e Phillips constitui um crime político, pois ambos eram defensores dos Direitos Humanos e morreram desempenhando atividades em benefício de nós, povos indígenas do Vale do Javari, pelo nosso direito ao bem-viver, pelo nosso direito ao território e aos recursos naturais que são nosso alimento e garantia de vida, não apenas da nossa vida, mas também da vida dos nossos parentes isolados”.
Essencial ás investigações, desde as primeiras horas do desaparecimento do indigenista e do jornalista, a União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (UNIVAJA), é um movimento representativo dos povos que habitam na Terra Indígena Vale do Javari – Marubo, Matis, Matsés, Kanamari, Korubo, Tsohom-dyapa e povos indígenas isolados.
Eles se manifestaram sobre o ” assassinato do indigenista brasileiro Bruno Pereira e do jornalista britânico Dominic Phillips”, em primeiro lugar, se solidarizando às famílias dos parceiros, expressando “pesar e profunda tristeza diante dessa perda. Para nós, povos indígenas do Vale do Javari, é uma perda inestimável”.
Eles se posicionaram quanto à ausência de menções das forças de segurança sobre o trabalho que desenvolveram. “Nós, da Univaja, participamos ativamente das buscas desde o dia 05 de junho através da Equipe de Vigilância da UNIVAJA (EVU). Fomos os primeiros a percorrer o rio Itaquaí atrás de Pereira e Phillips ainda no domingo, primeiro dia do desaparecimento dos dois. Desde então, a única instância que esteve ao nosso lado como parceira nas buscas foram os policiais militares do 8º Batalhão em Tabatinga (AM)”.
Ressaltaram na nota que foram os indígenas, através da equipe de vigilância, que encontraram o que posteriormente passou a ser alvo das investigações por parte de outras instâncias, como a Polícia Federal, o Exército, a Marinha e Corpo de Bombeiros, entre outros.
“Foi a equipe de vigilância da UNIVAJA que entrou na floresta em busca de Pereira e Phillips para dar uma satisfação aos seus familiares. Foi a equipe de vigilância da UNIVAJA, a EVU, que indicou para as autoridades o perímetro a ser vasculhado em profundidade pelos órgãos estatais”.
Neste ponto, mencionam a colaboração dos policiais militares do 8º Batalhão em Tabatinga (AM). “Os únicos a nos tratarem como verdadeiros parceiros na busca, valorizando o nosso conhecimento e a nossa sabedoria enquanto povos indígenas, conhecedores do nosso território”.
O caso não terminou
A Univaja alerta que desde 2021, qualificou informações sobre as invasões na Terra Indígena Vale do Javari, através da Equipe de Vigilância da UNIVAJA (EVU), como já foi divulgado pela Mídia Ninja, em abril deste ano.
Eles reforçam ainda que enviaram uma série de ofícios com informações qualificadas ao Ministério Público Federal, à Polícia Federal e à Fundação Nacional do Índio. “Nesses ofícios, indicamos a composição de uma quadrilha de pescadores e caçadores profissionais, vinculados a narcotraficantes, que ingressam ilegalmente em nosso território para extrair nossos recursos e vende-los nos municípios vizinhos. Fornecemos informações através de nossas denúncias às autoridades competentes”.
E lamentam que as providências não tenham sido tomadas com a rapidez que necessitavam.
Vidas indígenas ameaçadas
“Por isso, hoje assistimos ao assassinato de nossos parceiros: Pereira e Phillips. Diante disso, manifestamos nossa preocupação com a continuidade das investigações. Pelado e Dos Santos fazem parte de um grupo maior, nós sabemos. Manifestamos nossa preocupação com nossas vidas, a vida das pessoas ameaçadas (pois não era somente o Bruno Pereira), componentes do movimento indígena, quando as forças armadas e a imprensa se deslocarem de Atalaia do Norte. O que acontecerá conosco? Continuaremos vivendo sob ameaças? Precisamos aprofundar e ampliar a investigação. Precisamos de fiscalização territorial efetiva no interior da Terra Indígena Vale do Javari. Precisamos que as Bases de Proteção Etnoambiental (BAPEs) da FUNAI sejam fortalecidas”, enfatiam na nota.