O artista argentino Marcelo Brodsky reconstrói fotografias de protestos mundiais de 1968
O artista argentino Marcelo Brodsky atualizou sua serie 1968: O fogo das ideias, em que apresenta um trabalho baseado em fotografias de arquivo de manifestações que aconteceram ao redor do mundo no ano 1968.
O artista argentino Marcelo Brodsky atualizou sua série 1968: O fogo das ideias, em que apresenta um trabalho baseado em fotografias de arquivo de manifestações que aconteceram ao redor do mundo no ano 1968.
Brodsky destaca o ano de 1968 como um marco no surgimento de ideias revolucionárias que influenciaram a forma das pessoas perceberem o mundo, com slogans libertários como “A imaginação no poder!” e “Peçam o impossível!”. Recentemente o artista adicionou duas novas fotografias que fazem alusão aos conflitos contemporâneos do Brasil.
Não sou Nero, mas posso queimar o Brasil (BolsoNero), 2020Confira as imagens e o texto que tomam um novo significado no contexto da pandemia:
1968 o fogo das idéias
“Todos nós que vivemos na segunda metade do século XX fomos influenciados de uma maneira ou de outra pelos acontecimentos de 1968. Um ano especial em que jovens saíram às ruas exigindo maior participação nas decisões e na vida das sociedades e maior liberdade. De Paris a Tóquio, Rio de Janeiro ou México, grandes manifestações se seguiram. As cidades do mundo mostraram um rosto rebelde e ativo, os jovens foram às ruas. E novos slogans surgiram, não para a guerra, mais participação política, mais liberdade, a imaginação ao poder. A repressão dos estados exerceu sua violência.
Para narrar o espírito da época, realizei uma investigação de três anos nos arquivos visuais e nas coleções dos fotógrafos do mundo, procurando as imagens que melhor as comunicavam. As fotografias nos permitem abordar os fatos de maneira emocional. Eles contêm detalhes, histórias dentro de histórias, reflexões. Eles permitem que você leia os slogans de cada época e cada lugar e os compreenda. Eles convidam você a mergulhar em cada imagem.
A intervenção em cada fotografia com cores, desenhos e textos completa o ensaio. Destacam-se detalhes do contexto, do momento em que foi vivida, da efervescência das propostas. As idéias de 1968 estão mais vivas do que nunca e são projetadas no presente, uma vez que muitos desses slogans ainda são reivindicações atuais da sociedade. Numa época em que a mobilização popular é retardada pelo distanciamento social causado pela pandemia, lembrar-se das mobilizações e das pessoas nas ruas é um incentivo para reocupá-las quando possível. Os corpos em ação não podem ser substituídos.
Quanto ao Brasil, pude encontrar imagens diferentes das mobilizações populares contra a ditadura militar em 1968, duas no Rio de Janeiro e uma em São Paulo. Eles formam o núcleo brasileiro do ensaio. Minha relação artística com o Brasil é muito intensa. Eu expus meu trabalho no Brasil com frequência e trabalho com a Galeria Superfície em São Paulo. Participei de uma Bienal de São Paulo ao lado do Parque da Memória e já mostrei projetos com diferentes museus em São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Belo Horizonte, Diamantina, Recife, Fortaleza, Curitiba e Santos. Minha esposa e filhos são brasileiros. A situação atual no Brasil, com o governo autoritário e irresponsável de Bolsonero, levou-me a produzir uma imagem na qual Bolsonero, emulando Nero em Roma, toca a lira enquanto ataca o Rio de Janeiro e o Brasil com sua infame verborragia demagógica e destrutiva.
A remessa contém imagens de 1968 ao redor do mundo e uma imagem de Bolsonero queimando o Brasil. Uma das obras novas faz alusão a Regina Duarte, que sempre esteve contra a cultura. Pese a ser uma atriz querida da Globo, rejeitava as suas colegas que lutavam contra a censura da dictadura. A passeata na bahia de Guanabara contra a censura na atividade teatral inclui as maiores atrizes do Brasil na epoca. Duarte nao esta porque ela nao estaba contra a censura nem contra a ditadura, mais estaba sim a grande maioria das atrices tanto queridas quanto ela defendemdo seus direitos. E na segunda fila as acompanha ongrande critico de arte e pensador brasileiro Mario Pedrosa.”
Marcelo Brodsky, 2020