O Agro é golpe: empresários ruralistas amigos de Bolsonaro foram indiciados junto com ele por atos golpistas em Brasília
Recentemente, com a aprovação do relatório final da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) a respeito do ato terrorista de 8 de Janeiro, o assunto da responsabilização dos eventos ocorridos no início do ano em Brasília voltaram à tona.
Os ataques golpistas do dia 8 de janeiro de 2023 foram cuidadosamente orquestrados e nada foi por acaso.
Recentemente, com a aprovação do relatório final da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) a respeito do ato terrorista de 8 de Janeiro, o assunto da responsabilização dos eventos ocorridos no início do ano em Brasília voltaram à tona.
Por 20 votos favoráveis, 11 contrários e nenhuma abstenção, os parlamentares entenderam que era necessário seguir com as investigações a respeito das pessoas por trás dos atos golpistas, dentre os quais podem responder pelos crimes de associação criminosa, abolição violenta do Estado democrático de direito e golpe de Estado.
A relatora do texto aprovado, a senadora Eliziane Gama (PSD-MA), pediu o indiciamento de 61 pessoas, entre as quais o ex-presidente Jair Bolsonaro.
O Agro é golpe
De acordo com o observatório De olho nos Ruralistas, nesta lista destacam-se fazendeiros e líderes do agronegócio, como Antônio Galvan, presidente da Associação dos Produtores de Soja do Brasil (Aprosoja), que liderou o Movimento Brasil Verde e Amarelo (MBVA) e apoiou ações para deslegitimar o resultado das eleições presidenciais de 2022.
Além deles, também estão no texto final da CPMI a Associação Nacional de Defesa dos Agricultores, Pecuaristas e Produtores da Terra (Andaterra), cujos membros Jeferson Rocha e José Alípio Fernandes Silveira estiveram envolvidos no movimento golpista.
Através do relatório “As Origens Agrárias do Terror“, publicado em abril deste ano, o Observatório mostra como sojeiros, pecuaristas e outros expoentes do agronegócio compuseram a teia mais recente do golpismo no campo — algo que caracterizou também golpes como o de 1964, quando foi imposta a última ditadura no Brasil, e de 2016, com a derrubada de Dilma Rousseff.
Todo mundo próximo está envolvido com o golpe, menos ele?
Sob a liderança de Antônio Galvan, MBVA foi apontado como responsável por duas das frentes de deslegitimação do resultado eleitoral em 2022: os bloqueios rodoviários e o deslocamento de caminhões em comboio com destino ao Quartel General do Exército em Brasília.
Entre os líderes indiciados estão Galvan, três presidentes e vice-presidentes estaduais da Aprosoja.
Em 2019, o MBVA foi responsável pelo desfile de tratores durante as comemorações do 07 de setembro.
Em maio de 2021, o movimento estampava a seguinte mensagem em caminhões levados a Brasília durante uma manifestação pró-governo: “Faça o que for preciso! Eu autorizo, Presidente!”
A escalada na radicalização do discurso do MBVA, segundo a Abin, levou o grupo de fazendeiros a organizar bloqueios rodoviários e atos em portas de quartéis pedindo intervenção militar após a derrota de Bolsonaro nas urnas.
Antônio Galvan é amigo pessoal e financiador da campanha de Jair Bolsonaro. Multado por desmatar 500 campos de futebol de vegetação nativa, Galvan é proprietário de pelo menos 3.922 hectares de terras no Mato Grosso, estado por onde tentou se eleger senador no ano passado, sem sucesso.
Golpistas: juntos contra o meio ambiente
O pecuarista Adauto Lúcio de Mesquita, dono da rede Melhor Atacadista, ao lado do sócio, Joveci Xavier de Andrade, forneceu alimentos, banheiros químicos e água para os manifestantes acampados em frente ao QG do Exército em Brasília.
Na CPMI, ele admitiu que negociou o aluguel de carro de som para manifestações bolsonaristas.
Além de disponibilizar infraestrutura para os acampamentos, Adauto e Joveci organizaram eventos para angariar recursos para o movimento, financiando, inclusive, outdoors considerados ilegais pela justiça eleitoral durante a campanha de Jair Bolsonaro em 2022.
De Xinguara, no sul do estado do Pará, Enric Juvenal da Costa Lauriano também foi indiciado por atuar como financiador dos atos golpistas. Ligado ao garimpo, o empresário teve no ano passado uma retroescavadeira em seu nome apreendida dentro da Terra Indígena Kayapó.
Trechos de conversas de WhatsApp, obtidos pela Repórter Brasil, e vídeos publicados em redes sociais revelam que Enric Juvenal, junto com outros fazendeiros, teriam divulgado PIX para arrecadar dinheiro para os atos golpistas.
Apesar de se aventurar nos ramos de garimpo ilegal e na política, seu poder econômico é herdado, e vem de sua família, que é do ramo da pecuária, onde seu pai, Onício Lauriano, possui fazendas em pelo menos três municípios do sul do Pará.
Onício foi o principal financiador de campanha do deputado federal bolsonarista Delegado Caveira (PL-PA), que tem destinado seu mandato parlamentar a criticar a demarcação de terras indígenas e defender pecuaristas e garimpeiros instalados dentro dos limites de áreas de preservação.
O que dizem os governistas
Os parlamentares a favor do texto final da CPMI comemoraram e elogiaram o trabalho investigativo da senadora Eliziane Gama. E declararam sobre a participação de Bolsonaro:
– A parte dele não era dar ideia, não era incentivar. Ele é alguém que estava lá dentro, que participou de reunião com os chefes das Forças Armadas, que participou de reunião com hacker no Palácio da Alvorada, tomando café da manhã pra dizer: “Aí, bora invadir a urna eletrônica?”. “Não dá, é impossível.” “Ei, pois, faz um código-fonte falso, porque nós temos que enganar a nossa militância pra ter confusão no Brasil.” E o indiciamento, o maior acerto do relatório da senadora Eliziane é na tipificação. Ela não inventa tipo jurídico. Ela repete aquilo que o Supremo já está aplicando: quatro crimes que, portanto, têm muito embasamento jurídico.