Dezenas de milhares de pessoas marcharam na segunda-feira (24) em Buenos Aires, capital da Argentina, junto às Avós e Mães da Praça de Maio, sob o lema “Memória, verdade e justiça”, nos 49 anos do golpe de Estado que deu início à última ditadura militar no país.

No Dia da Memória, organizações de direitos humanos, partidos políticos de oposição, sindicatos e movimentos sociais e estudantis convocaram a marcha, que bloqueou o centro de Buenos Aires em um feriado nacional.

Ao grito de “Mães da Praça, o povo as abraça”, os manifestantes saudaram a passagem de integrantes da organização, que ainda buscam seus filhos desaparecidos durante o regime militar de Jorge Rafael Videla (1976-1983).

139 netos e netas encontrados

Organismos de direitos humanos estimam em 30 mil o número de desaparecidos, enquanto as Avós da Praça de Maio buscam cerca de 400 crianças que foram roubadas ao nascer, durante o cativeiro clandestino de suas mães.

“Nesta longa luta, já resolvemos 139 casos. Há apenas dois meses, foi restituída a identidade de um neto e uma neta que nunca haviam desconfiado de sua origem. Precisamos de toda a sociedade para encontrá-los a todos — nunca é tarde”, disse Estela de Carlotto, presidente das Avós e uma das oradoras do ato.

“O Estado deve garantir a restituição dos netos e netas”, acrescentou. “A apropriação é um desaparecimento forçado, e, até que a verdadeira identidade seja conhecida, o crime continua sendo cometido.”

“Contra o negacionismo” de Milei

Entre a multidão, havia muitos cartazes “contra o negacionismo do governo” de direita de Javier Milei, cujo rígido ajuste econômico eliminou dezenas de empregos na Secretaria de Direitos Humanos e nos lugares de memória que funcionavam como prisões e centros de tortura.

“Milei, lixo, você é a ditadura!”, gritavam os manifestantes, com bandeiras argentinas e lenços com a frase “Nunca mais”.

“Hoje sinto que temos que estar aqui mais do que nunca, para que não se perca a memória do horror que a Argentina viveu. Não se pode negar a história”, disse María Eva Gómez, uma comerciante de 57 anos que marchou com o marido e seus três filhos adolescentes.

“Ainda há desaparecidos que não encontramos (…) por isso a convocatória foi tão massiva”, comentou Elías Pérez, um médico aposentado de 68 anos.

O governo anunciou nesta segunda-feira a desclassificação de arquivos de inteligência sobre as ações das Forças Armadas entre 1976 e 1983, ampliando um decreto de 2010.