Novo estudo mostra que extração madeireira e queimadas prejudicam mais o clima do que o desmatamento
O estudo aponta que o projeto do governo de Desmatamento Zero até 2030, apesar de estar no caminho certo, já não seria suficiente para restaurar a floresta Amazônica
Segundo o estudo publicado nesta segunda-feira (5) na revista Proceedings of the National Academy of Sciences, a degradação florestal causa mais prejuízos à Amazônia do que os desmatamentos.
A publicação descobriu que a degradação causada pelo homem e os distúrbios naturais foram responsáveis por 83% das emissões de carbono, com 17% de perda por desmatamento.
Lembrando aqui que o termo “degradação ambiental” refere-se à eliminação parcial e gradual da vegetação florestal, através principalmente da extração madeireira e queimadas.
Ela é geralmente precursora dos desmatamentos, já que, quando ela ocorre em uma área, esta geralmente acaba sendo desmatada nos anos seguintes.
Segundo o principal autor do estudo, Ovidiu Csillik, enquanto o desmatamento é mais facilmente detectável através de imagens de satélite, a degradação é mais difícil de ser notada.
Denominado “A large net carbon loss attributed to anthropogenic and natural disturbances in the Amazon Arc of Deforestation” (Uma grande perda líquida de carbono atribuída a perturbações antropogênicas e naturais no Arco de Desmatamento da Amazônia, em tradução livre), a publicação foi desenvolvida por cientistas brasileiros e americanos e utilizou dados obtidos por escaneamento a laser aéreo da região amazônica, estudando a área do Arco do Desmatamento Brasileiro.
Segundo o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), a região do Arco do Desmatamento Brasileiro seria onde a fronteira agrícola avança em direção à floresta e também onde encontram-se os maiores índices de desmatamento da Amazônia.
São 500 mil km² de terras que vão do leste e sul do Pará em direção oeste, passando por Mato Grosso, Rondônia e Acre.
De acordo com a pesquisa, “a exploração madeireira seletiva e os incêndios ocorreram predominantemente no estado de Mato Grosso, enquanto a exploração madeireira impulsionou as fronteiras de desmatamento em Rondônia e Mato Grosso”.
O estudo fala ainda sobre a importância dos estoques de carbono presentes na floresta amazônica, que, para além de conseguir ser “sumidouro” das emissões de carbono do globo, acaba estocando muito desse gás que, se liberado, aumentaria drasticamente e rapidamente a temperatura global.
Acontece que, cada vez mais estudos comprovam que a Amazônia já não pode mais ser denominada de “sumidouro”, visto que já não consegue mais dar conta de absorver as emissões de carbono produzidas.
Mais de 140 países, incluindo o Brasil, assinaram, em 2021, um compromisso global para acabar não apenas com o desmatamento, mas também com outras formas de degradação até o final desta década.
Mas, como a degradação tem muitas causas diferentes, é muito mais complexo monitorar e policiar, disse Manoela Machado, especialista em incêndios do Centro de Pesquisa Climática Woodwell, nos Estados Unidos, para a Folha de S. Paulo.
O compromisso de Lula de acabar com o desmatamento até 2030 está no caminho certo, mas, ainda assim, isso não será suficiente para restaurar a floresta Amazônica, comprovou a pesquisa.
Com informações da Folha de S. Paulo