No último ano do governo Bolsonaro trabalhadores tiveram corte de 6,9% no salário
Análise da Oxfam aponta crescimento da desigualdade salarial
Novo relatório da Oxfam, lançando neste 1º de maio, Dia Internacional do Trabalhador, aponta o crescimento da desigualdade social e a disparidade entre a remuneração entre diferentes estratos sociais. No Brasil, os salários de trabalhadoras e trabalhadores caiu 6,9% em média no ano de 2022, último ano da gestão Bolsonaro. Enquanto isso, acionistas de empresas receberam US$ 33,8 bilhões no período, um aumento de 23,8% em relação a 2021 (US$ 27,3 bilhões).
Ontem, 30, durante pronunciamento oficial em cadeia nacional de rádio e TV, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou seu antecessor, Jair Bolsonaro e sua gestão no que tange os direitos trabalhistas. “Tudo piorou nos últimos anos. O emprego sumiu. Os salários perderam poder de compra. A inflação subiu. Os juros dispararam. Direitos conquistados ao longo de décadas foram destruídos de um dia pro outro. Poucas vezes na história o povo brasileiro foi tratado com tanto desprezo e teve tão pouco a comemorar”, afirmou Lula ao anunciar o aumento real do salário mínimo, que há 6 anos não subia acima da inflação.
“Enquanto os executivos de grandes empresas lucram com aumentos de seus salários e dividendos de ações, a grande parte da população, que é trabalhadora assalariada, tem seus salários reduzidos e mal conseguem acompanhar o custo de vida em seus países. Anos de austeridade e ataques aos sindicatos aumentaram o fosso entre os mais ricos e o resto de nós. Essa desigualdade é inaceitável e, infelizmente, nada surpreendente”, afirma Katia Maia, diretora executiva da Oxfam Brasil. “O único aumento que a classe trabalhadora viu em 2022 foi o do trabalho de cuidados não remunerado, que recai majoritariamente sobre as mulheres.”
Os números, ajustados pela inflação, são baseados em dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e agências governamentais de estatísticas.
Trabalho não pago
Mulheres e meninas trabalham pelo menos 380 bilhões de horas a cada mês em atividades de cuidado não remuneradas. Por ano, são 4,6 trilhões de horas em tarefas sem pagamento. Trabalhadoras frequentemente têm que trabalhar menos tempo em seus empregos formais ou abandonar seus cargos devido a essas atividades. Elas também enfrentam discriminação, assédio e salários menores do que os recebidos pelos homens.
Trabalhadores perdem, empresários ganham
Um bilhão de trabalhadoras e trabalhadores de 50 países tiveram um corte médio de US$ 685 em seus salários em 2022, uma perda coletiva de US$ 746 bilhões em salários reais (caso os salários tivessem sido reajustados pela inflação). Já os CEOs mais bem pagos em quatro países tiveram um aumento de 9% em seus salários em 2022.
- 150 dos principais executivos da Índia receberam em média US$ 1 milhão em 2022, um aumento real de 2% em relação a 2021. Um empresário indiano recebe em quatro horas mais do que o trabalhador indiano médio recebe em todo o ano.
- 100 dos principais CEOs dos Estados Unidos receberam US$ 24 milhões em média em 2022, um aumento real de 15% em relação ao ano anterior. O trabalhador médio dos Estados Unidos teria que trabalhar 413 anos para equiparar o que mais bem pago CEO do país recebe em 12 meses. 50% das mulheres negras dos Estados Unidos recebem menos de US$ 15 por hora.
- Os 100 mais bem pagos CEOs do Reino Unido receberam em média US$ 5 milhões em 2022 – um aumento real de 4,4% em relação a 2021. Eles ganham 140 vezes mais do que o trabalhador médio.
- Os mais bem pagos empresários da África do Sul receberam US$ 800 mil em média em 2022, 43 vezes o salário médio dos trabalhadores do país. O aumento real dos rendimentos dos empresários foi de 13% em 2022.
Os dividendos recebidos por acionistas em 2022 teve recorde de US$ 1,56 trilhão, aumento de 10% em relação a 2021. As empresas dos Estados Unidos pagaram US$ 574 bilhões para seus acionistas, mais do que o dobro do corte feito sobre os salários reais dos trabalhadores do país.
Esses pagamentos exorbitantes a acionistas beneficiam os mais ricos da sociedade, aumentando os níveis já altos de desigualdade. O 1% mais rico da África do Sul tem hoje mais de 95% dos títulos e ações de empresas do país. Nos Estados Unidos, o 1% mais rico detém 54% das ações no país.
No entanto, os impostos sobre a renda desses dividendos e ações, que ajudam a financiar serviços públicos como saúde e educação, vêm caindo ao longo dos anos – de 61% em 1980 para 42% hoje.
Em números
• No Brasil, a queda dos salários de trabalhadoras e trabalhadores foi de 6,9% no ano passado, enquanto acionistas receberam cerca de 24% a mais do que em 2021 (US$ 33,8 bilhões – US$ 27,3 bilhões).
• Mulheres e meninas trabalham 4,6 trilhões de horas todos os anos em atividades de cuidado sem pagamento.
• Acionistas de grandes empresas ganharam um recorde de US$ 1,56 trilhão em 2022, 10% a mais do que obtiveram em termos reais em 2021.
• A Oxfam demanda um aumento permanente de impostos sobre o 1% mais rico do mundo.