No Maranhão, os Ka’apor lutam contra o garimpo e cobiça de mineradoras
Eles também pedem investigação da morte da liderança indígena Sarapó: suspeitam que tenha sido envenenado
Eles também pedem investigação da morte da liderança indígena Sarapó: suspeitam que tenha sido envenenado
Vendo rasgos abertos na floresta pelo garimpo no entorno da Terra Indígena Alto Turiaçu (MA) e movimentação de caminhonetes levando combustível, dragas, bombas, além de tratores e escavadeiras, o povo Ka´apor teme a aproximação de invasores, pois a exploração mineral ocorre a 2 km da fronteira.
Segundo reportagem do site Repórter Brasil, além da proximidade com o garimpo ilegal, o povo Ka´apor tem enfrentado ao longo dos tempos, a cobiça de grandes mineradoras. “Cerca de 50 pedidos de pesquisa de ouro batem à porta da TI no chamado Cinturão Gurupi, depósito aurífero com aproximadamente 12 mil km² de extensão, na divisa dos estados do Pará e do Maranhão, com recursos estimados em mais de 158 toneladas de ouro”, diz trecho da reportagem. Segundo dados da ANM (Agência Nacional de Mineração), três requerimentos visando a pesquisa e exploração desse minério fazem fronteira com a TI.
Cada vez mais próximo, o garimpo já provoca impacto. Segundo pesquisas, o mercúrio usado para a extração do ouro já contamina o rio Maracaçumé e começa a afetar animais e plantas.
O avanço da prática de mineração ilegal sobre o território era uma das maiores preocupações de Sarapó Ka´apor. Morto em maio deste ano, ele havia denunciado a aproximação dos garimpeiros ao Conselho Indigenista Missionário (Cimi). As circunstâncias de sua morte não foram esclarecidas. Devido a um histórico de ameaças, os Ka´apor suspeitam que Sarapó tenha sido envenenado e agora lutam para que sua morte seja esclarecida —a investigação está hoje nas mãos da Polícia Federal, que, após quatro meses, não divulgou nenhuma conclusão.
A liderança indígena havia comandado em 2019 e 2021, duas operações para expulsar grupos que tentavam iniciar a exploração de ouro na TI. Segundo a reportagem da Folha de São Paulo, ele era alvo de ameaças desde 2013, quando ajudou a criar a estratégia de proteção do território, e integrava o Programa de Proteção a Defensores e Defensoras de Direitos Humanos do Maranhão desde 2015.
Sob sua liderança, os ka’apors foram um dos pioneiros na implantação de um sistema de vigilância e autodefesa do território contra invasores, semelhante ao utilizado por seus vizinhos guajajaras e que tem inspirado outros povos Brasil, como no Vale do Javari e no território Uru-Eu-Wau-Wau.
Assim, além de saber as circunstâncias reais da morte do líder indígena e a punição de eventuais responsáveis, eles querem também, fazer valer seu legado na defesa do território.
(Com Repórter Brasil/Folha de São Paulo)