No combate à desinformação na Amazônia, campanha cobra desfinanciamento de portal
A partir de dados levantados, páginas que propagam desinformação na Amazônia Legal terão campanhas de desmonetização
No dia 5 de setembro, Dia da Amazônia, o Intervozes e o GT de Combate à Desinformação na Amazônia Legal notificaram o Portal Novo Norte e a empresa Eduzz, responsável por recolher assinaturas do site. A notificação, que se baseia nos próprios termos de uso da empresa de viabilização de assinaturas, alerta que o Portal Novo Norte tem descumprido suas próprias diretrizes e propagado conteúdos desinformativos, discurso de ódio, calúnia, difamação, entre outras informações que se enquadram no contexto da desinformação.
A ação, além de cobrar a suspensão do serviço, reivindica também a responsabilidade da empresa devido ao apoio a propagação de conteúdos nocivos à democracia, sobretudo em ano eleitoral, e que sejam responsáveis sobre sua cartela de clientes.
Além disso, serão divulgadas informações nas redes sociais do Intervozes e das organizações que compõem o GT, como a CASA NINJA AMAZÔNIA E MÍDIA NINJA, para que as empresa de divulgação de anúncios cumpra seus próprios termos de uso e que o Portal Novo Norte pare de propagar desinformação.
Portal Novo Norte
O site criado em 2019 recebe uma média de 2 milhões acessos, desde abril a junho, segundo dados do SimilarWeb. O portal funciona como um agregador de notícias diversas e distribui seu conteúdo principalmente pelo WhatsApp, apesar de também ter atuação no Facebook e Instagram. Quatro meses após sua criação, o Novo Norte já alcançava audiência superior a seis dígitos. Durante o período da pandemia, o portal se destacou em propagar conteúdo que apoiava as iniciativas do Governo Federal e o uso de tratamentos sem eficácia contra a Covid-19, como cloroquina, não indicados pela Organização Mundial de Saúde (OMS).
O veículo caracteriza-se ainda por propagar conteúdo hiper partidário com frequência alta em sua cobertura política diária, especialmente agora nas eleições. Com inclinação ideológica de extrema-direita, tem apoiado de forma massiva Jair Bolsonaro como evidente presidenciável favorito em 2022.
Os textos originais, assinados por Pablo Carvalho, – apontado pelo blog Sonar como ex-assessor do governo de Tocantins – ou “redação”, geralmente são curtos ou de teor conspiratório e polarizador, como a publicação declaratória, na qual Bolsonaro acusa o PT de apoiar a pedofilia e o texto que noticia as orações de Michelle Bolsonaro para “salvar o Brasil do comunismo”. Uma de suas principais fontes de financiamento é por anúncios de mídia programática e financiamento de leitores através de coleta de assinaturas pela empresa Eduzz.
Sobre o proprietário
Pablo Fernando de Carvalho, fundador do site, também assina publicações e é o único membro citado nominalmente. De acordo com publicação no blog Sonar do jornal O Globo, Pablo foi assessor especial do governador de Tocantins, Mauro Carlesse (DEM), aliado de Jair Bolsonaro. De acordo com levantamento do GT e Netlab (UFRJ), o Novo Norte já esteve registrado em nome de outra funcionária do governo estadual do Tocantins (Alessandra Leite, assessora na secretaria de educação).
Eduzz
A Eduzz se identifica como empresa que potencializa talentos. Oferece, portanto, diversas ferramentas para aumentar o engajamento, clientes e ampliação de rede de negócios e divulgação de conteúdos. Em sua cartela de clientes estão Portal Novo Norte, Terça Livre e Eduardo Bolsonaro.
Amazônia Livre de Fakes
A iniciativa #AmazoniaLivreDeFakes, da qual faz parte a campanha #EduzzPareoFinanciamento, tem como objetivo visibilizar, responsabilizar e desmonetizar empresas que viabilizam recursos para sites de notícias que têm disseminado desinformação na Amazônia Legal. A mobilização é um dos resultados do projeto do Intervozes – coletivo Brasil de Comunicação Social e o GT de Combate à Desinformação na Amazônia e visa fazer um levantamento de páginas e perfis que propagam conteúdo desinformativo na região.
Através das articulações do projeto foi construído um Grupo de Trabalho (GT) formado por 10 organizações distintas, 8 delas da Amazônia. De março até o momento foi realizada a primeira etapa da pesquisa para identificar páginas e perfis que disseminam conteúdos duvidosos. Todas essas informações foram reunidas em um relatório parcial lançado no Fórum Social Panamazônico, e que estará disponível no site do projeto ainda este mês.
No primeiro levantamento, foram identificados 70 sites/blogs desinformativos, agrupados em veículos jornalísticos, movimentos sociais de direita e perfis de figuras públicas. Após esse perfilamento foi realizado um monitoramento dos grupos jornalísticos com maior audiência/alcance, investigando suas fontes de financiamento e analisado seus termos de uso. Três páginas foram encontradas com grande alcance na região da Amazônia e que tem como uma de suas fontes de financiamento, para além de anúncios publicitários, assinaturas mensais ou campanhas coletivas de arrecadação de recursos, uma delas é o Portal Novo Norte. As demais serão anunciadas em outras campanhas de desmonetização.