No aniversário de São Paulo, exposição traz transversalidades negras, indígenas e periféricas da cultura na capital
No 469º aniversário de São Paulo, o Museu da Cidade, instituição vinculada à Secretaria Municipal de Cultura, inaugura às 14h, a exposição ‘Intersecções: Negros (as) indígenas e periféricos(as) na Cidade de São Paulo’. Com idealização e realização do Museu da Cidade, a exposição tem conceituação e curadoria de um coletivo de curadores formado pela empresária […]
No 469º aniversário de São Paulo, o Museu da Cidade, instituição vinculada à Secretaria Municipal de Cultura, inaugura às 14h, a exposição ‘Intersecções: Negros (as) indígenas e periféricos(as) na Cidade de São Paulo’. Com idealização e realização do Museu da Cidade, a exposição tem conceituação e curadoria de um coletivo de curadores formado pela empresária Adriana Barbosa, o jornalista Nabor Jr. e o historiador Eleilson Leite, em colaboração com a líder indígena Jera Guarani, a mostra reúne mais de 300 objetos entre fotografias, pinturas, vídeos, instrumentos musicais e figurinos de diversas linguagens artísticas produzidos por mais de 100 artistas paulistanos nos últimos 40 anos. A abertura da exposição contará com a apresentação do Coral Kalipety, formado por integrantes da Aldeia Kalipety da Terra Indígena Tenondé Porã, localizada no extremo sul da cidade de São Paulo. Os primeiros 200 visitantes irão receber um colar consagrado pelo Pajé da aldeia paulistana com a água da cachoeira Capivarí. A entrada é gratuita.
Territórios, Sujeitos e Imaginários
Setorizada em três eixos que convergem entre si, a exposição apresenta relevantes movimentos artísticos e culturais que contribuíram não somente para fomentar as narrativas negras, indígenas e periféricas na cidade nos últimos 40 anos, como também foram fundamentais para a construção do que entendemos como cultura paulistana nos dias de hoje. “Essa exposição parte de um pensamento decolonial, se hoje a gente tem um processo crítico em relação à produção intelectual e cultural, se deve a esses movimentos que ajudaram a construir esse campo de arte-ativismo que temos hoje. O Brasil é negro por um processo de autodeclaração, que vem à partir do momento em que nos conectamos com Os Racionais, com a Cia dos Crespos, além do reconhecimento da periferia como um local de produção de cultura. Com isso, essa exposição vai proporcionar ao público imergir numa contação de histórias sobre quem se é quanto indivíduos negros, periféricos e indígenas”, destaca Adriana Barbosa.
Lúdica, sensorial e educativa, a exposição irá proporcionar aos visitantes revisitar memórias e reconhecer o processo de formação de identidades e movimentos culturais a partir destes três eixos que irão aludir ‘Territórios’ como o quilombo urbano Aparelha Luzia, o Museu Afro Brasil, o Centro Cultural Quilombaque, a Festa de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos da Penha de França, a Feira Preta, o Festival BixaNagô e rodas de samba como o Pagode da 27 e o Samba da Vela. No eixo ‘Sujeitos’, o destaque fica por conta dos vídeos da equipe de baile Black Mad e Zezão Eventos, assim como para os populares fluxos que ocorrem nas comunidades de Heliópolis e Paraisópolis. Em ‘Imaginários’, a reflexão em torno da popularização da expressão “da ponte pra cá” e do tradicional “futebol de várzea”, pois embora geograficamente não existam várzeas na cidade, também se tornou um termo comum para falar sobre o futebol amador que ocorre nas periferias. Dividir esse grande arcabouço em ‘territórios, sujeitos e imaginários’ foi a forma encontrada pelos curadores de possibilitar a compreensão sobre os espaços, pessoas e simbologias que narram essas tantas histórias interseccionadas pela exposição.
“Essa exposição, busca, a partir dos pontos em comum que unem pessoas tão diversas, iluminar acontecimentos, artistas e movimentos culturais protagonizados por negros, indígenas e periféricos, que formam o suco da vida cultural da cidade. Não dá para pensar a vida cultural de São Paulo sem o rap, o pagode, o fluxo, a literatura de quebrada, o grafitti, a moda forjada pela juventude preta. Enfim, tentamos construir um panorama dessas produções que, se para muitos é desconhecida, para muitos outros foram responsáveis pela construção de suas identidades e sentido de pertencimento em uma cidade tão grande e por vezes solitária”, explica Nabor Jr.
Realidades em retratos inéditos
Em formato imersivo e cronológico, a exposição teve o cuidado de conectar de forma simétrica os conceitos de negritude, periférico e indígena, sem sobrepor uns aos outros, compreendendo essas zonas de cruzamento e horizontalidade. Mas sobretudo, um de seus principais desafios foi o de conseguir condensar tanta história a ser narrada ao ponto de construir uma programação que pudesse abranger toda a urbanidade paulistana desses últimos 40 anos. Por outro lado, além de trazer destaques conhecidos pelo público, a exposição também proporcionará o contato com obras e experiências inéditas, e até mesmo impossíveis de serem reproduzidas por pessoas de fora de determinados contextos sociais, como os famosos fluxos, ou seja, os bailes que acontecem nas favelas.
“Jovens de Paraisópolis e Heliópolis foram contratados como fotógrafos e videomakers para retratar elementos importantes das realidades locais, como um fluxo ao vivo. Para se adentrar a um fluxo precisa de fato pertencer àquela comunidade, não teríamos conseguido registros audiovisuais de um baile sem sujeitos que fazem parte de lá, e tivessem esse endosso para fazer uma cobertura audiovisual dessa realidade tão rica e própria das periferias”, relata o curador Eleilson Leite. Além dos registros dos fluxos, a exposição também irá proporcionar um ambiente cenográfico do Sarau Elo da Corrente, a partir de uma foto-mural do sarau, e do som ambiente que gravado no próprio evento, possibilitará essa vivência como se os visitantes estivessem nele de verdade.
Situar o público de que o povo indígena está às margens da cidade, e por isso também compõe sua periferia, irá possibilitar o acesso à conhecimentos como o fato de que somente no município de São Paulo existem mais de 20 aldeias, e inclusive uma cachoeira. No núcleo indígena, também irá ocorrer a reprodução de uma casa de rezas, com áudios gravados da aldeia guarani Tekoa Kalipety. E até mesmo proporcionar o contato visual com elementos naturais da aldeia, como a água da cachoeira Capivari da terra Tenondé, que é a única e última com água limpa dentro do município de São Paulo.
Outras experiências inéditas serão a exibição de duas pinturas do artista plástico Sidney Amaral, além de um estandarte do bloco Ilu Inã, de autoria de Dona Jacira.
Carnaval: samba, pagode e blocos afro
Com a aproximação do maior evento cultural de rua, a exposição também trará elementos que rememoram as narrativas de como essa celebração por meio dos blocos afro, das rodas de samba e do pagode dos anos 90 fizeram parte dessa construção. Manifestações como o Samba da Vela, o Pagode da 27, os blocos afro Ilu Obá de Min e Ilu Inã serão exaltados durante o percurso da exposição, e até mesmo capas de discos de grupos, como o Exaltasamba e Sensação, que a partir do movimento do Pagode anos 90 possibilitou outro olhar sobre a humanidade do homem negro e sobretudo, a reflexão sobre a tratativa de mulheres negras nessas canções.
Até o período final da exposição, que vai até julho deste ano, o museu proporcionará atividades artísticas com base nas obras e movimentos da curadoria, de saraus a batalhas de rap, contemplando também roda de samba e apresentação de bloco afro, a programação detalhada será divulgada ao longo dos próximos meses.
Com produção da Ayo Cultural e identidade visual do ilustrador e designer Alexandre de Maio, um dos principais nomes do jornalismo narrativo, a exposição que tem ingresso gratuito, seguirá até o dia 28 de julho, e após a inauguração o público poderá ter acesso de terça a domingo, das 09h até às 16h.
Via assessoria