No ABC Paulista, ocupação do MTST cresce de 300 ocupantes para 6 mil
No dia 2 de setembro, cerca de 300 pessoas do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), ocuparam um terreno em São Bernardo do Campo/SP, na região do Grande ABC, que compreende as cidades metropolitanas de Santo André, São Caetano, São Bernardo do Campo, Diadema, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra. Neste domingo (10), […]
No dia 2 de setembro, cerca de 300 pessoas do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), ocuparam um terreno em São Bernardo do Campo/SP, na região do Grande ABC, que compreende as cidades metropolitanas de Santo André, São Caetano, São Bernardo do Campo, Diadema, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra. Neste domingo (10), o local recebeu a sua primeira grande assembleia geral, que contou com a presença do coordenador nacional do Movimento, Guilherme Boulos.
O MTST, após consolidar a ocupação, passou a fazer um trabalho de “formiguinha” nos bairros vizinhos, falando com moradores sobre a nova localidade, explicando sobre os objetivos do Movimento e chamando-os para lutar juntos pelo seu direito à moradia. A ação teve resultado: apenas 1 semana depois, a ocupação está 20 vezes maior, e conta com 6 mil pessoas, de acordo com a coordenação.
A adesão em massa tem um motivo: a região conta com um déficit habitacional na ordem de 230 mil moradias, segundo relatório do Comitê Intermunicipal do ABC, realizado em parceria com a Universidade Federal do ABC (UFABC). O estudo aponta que é necessária a construção de pelo menos 100 mil moradias e da instalação de infraestrutura básica para outras 130 mil que estão irregulares.
A situação é mais alarmante exatamente em São Bernardo, que possui déficit habitacional de 92.216 casas. Para se ter ideia, no ranking, a cidade do ABC com déficit habitacional mais próximo é Santo André, com 46.301.
“Nos não vamos sair daqui sem uma garantia”
O horizonte ainda brilhava às 16h30 deste domingo quando a assembleia geral teve início para cerca de 3 mil pessoas da ocupação, que, por decisão geral, recebeu o nome de Povo Sem Medo de São Bernardo.
O evento foi aberto pela coordenadora do Movimento, Maria Adriático. Ela falou sobre a importância da coletividade do dia-a-dia de uma ocupação, da necessidade da construção conjunta da luta para que todos consigam a casa própria, e dos desafios que eles devem enfrentar. “Sonho que se sonha sozinho é só um sonho. Sonho que se sonha junto é a nossa vitória”, pontuou em seu discurso.
Maria ainda reforçou que a ocupação não está fora dos parâmetros da lei, argumentando que está na Constituição Cidadã de 1988 o direito à moradia. “São eles que burlam a lei quando não nos dão o que nos é de direito”, afirmou.
Então foi a vez de Guilherme Boulos falar sobre os conflitos com a Prefeitura, comandada por Orlando Morando (PSDB). “Já entramos com recurso, pois sabemos que o terreno não cumpre função social e é o nosso direito”, explicou.
É sob essa alegação que o Movimento vai se defender na justiça contra o pedido de reintegração de posse, perpetrado pela dona do terreno, a incorporadora MZM. Integrantes do MTST se reuniram na sexta-feira (6) com o Secretário de Habitação de São Bernardo, João Abukater, para negociar a questão, no entanto a prefeitura vem se recusando a criar um canal de diálogo com os trabalhadores.
“O prefeito disse que não gostou da ocupação. Mas, a gente sabe que ele gosta de se vestir de gari como o Doria. Então eu o desafio a vir aqui e se vestir de sem teto, passar um dia montando barraco aqui na ocupação”, ironizou Boulos. “Já que a prefeitura não quer negociar, nossa primeira missão como ocupação é ir até eles e pressionar”, completou, chamando o povo para uma manifestação na Prefeitura na próxima quarta-feira (13).
Diversos apoiadores também engrossaram o coro pela necessidade de habitações populares para a população carente do Grande ABC, como ativistas, representantes de Movimentos, políticos e religiosos. Léo Superliga protestou contra a ininterrupta vigilância da Guarda Civil Metropolitana na entrada da ocupação. “O prefeito em vez de colocar a GCM para guardar praças e espaços públicos, coloca aqui, em que só há trabalhadores lutando pelo seu direito”.