No 3º dia da COP27 países mais ricos foram cobrados pela crise climática; saiba como foi
Representantes de nações insulares – sob risco de desaparecerem – também cobraram compensação das petrolíferas
No terceiro dia da 27ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a COP27, a Mídia NINJA acompanhou o último dia das falas dos chefes de Estado em plenária. Representantes dos países mais afetados pela crise climática deram seus depoimentos, com destaque para o Paquistão. As enchentes descomunais que assolaram o país neste ano deixaram o triste saldo de 1.700 mortos e mais de 1/3 do país ficou embaixo d´água.
Em um apelo emocionado, o primeiro-ministro Shebaz Sharif pediu às nações mais ricas que ajudem os países que estão sofrendo o peso da crise da crise climática.
“Esta COP soa como um alarme para a humanidade, é a única plataforma onde a sobrevivência da raça humana como meta ainda é promissora”, disse ele. Lembrou que é também o lugar onde os países vulneráveis levam seu clamor aos mais ricos, num chamado pela construção de “um roteiro para redefinições cruciais de políticas necessárias em um mundo que está queimando mais rápido do que nossa capacidade de recuperação”.
Ele destacou que os impactos das enchentes trouxeram também perdas financeiras à nação que, segundo ele, está tendo que usar escassos recursos, a ponto de entrar em um armadilha de dívida se continuar pagando pelos danos.
As inundações afetaram 33 milhões de pessoas e causaram danos estimados em US$ 40 bilhões.
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Nações insulares
Houve outros discursos igualmente fortes, como o do primeiro-ministro de Antígua e Barbuda, Gaston Browne, que cobrou contribuição das grandes petrolíferas. Ele destacou que as pequenas nações insulares, sob risco de desaparecerem, precisam que a indústria do petróleo se responsabilize pelos danos causados pela elevação do nível do mar e das mudanças climáticas decorrentes do estoque de carbono na atmosfera.
“A indústria de petróleo e gás continua a ganhar quase US$ 3 bilhões diariamente em lucros. Já é hora de essas empresas pagarem um imposto global de carbono sobre seus lucros como fonte de financiamento para perdas e danos. Produtores perdulários de combustíveis fósseis se beneficiaram de lucros extorsivos às custas da civilização humana. Enquanto eles estão lucrando, o planeta está queimando”.
Cobrou ainda o financiamento climático prometido pelos países desenvolvidos, de US$ 100 bilhões prometidos até 2020, que ainda não se consolidou.
O primeiro-ministro de Tuvalu, Kausea Natano, seguiu o mesmo tom em ligação para a cúpula da ONU, pedindo que haja um acordo de financiamento. “O aquecimento dos mares está começando a engolir nossas terras – centímetro por centímetro. Mas o vício do mundo em petróleo, gás e carvão não pode afundar nossos sonhos sob as ondas”.
Relatório
Ainda nesta terça-feira, um relatório encomendado pelo Reino Unido e Egito teve seu conteúdo divulgado. Segundo o documento, serão necessários cerca de US$ 2 trilhões, algo em torno de R$ 10 trilhões a cada ano até 2030, para ajudar os países em desenvolvimento a reduzir suas emissões de gases de efeito estufa e lidar com os efeitos da crise climática.
O dinheiro será necessário para que os países em desenvolvimento possam abandonar os combustíveis fósseis, investir em energia renovável e outras tecnologias de baixo carbono e lidar com os impactos do clima extremo.
Fundo climático da Nova Zelândia
Ainda nesta terça-feira (8) a Nova Zelândia anunciou um fundo climático de cerca de R$ 102 milhões para terras e recursos perdidos pelos países em desenvolvimento devido aos efeitos da crise climática.
A ministra das Relações Exteriores, Nanaia Mahuta, disse que países ricos como a Nova Zelândia têm o dever de apoiar os países afetados pelas mudanças climáticas.
Ainda neste dia, o presidente da Colômbia, Gustavo Petro realizou agendas no pavilhão do país com chefes de estado e representantes da sociedade civil, entre eles, indígenas.
Movimento negro brasileiro
O dia também foi marcado pela agenda do movimento negro brasileiro, que está fortemente representados nessa COP pela Conaq e Coalizão Negra por Direitos. Em pauta, justiça climática e racismo ambiental. Eles mandaram um recado lúcido: “não há justiça climática sem o debate racial”, afinal, a população negra é uma das mais impactadas pelas mudanças climáticas. .
Direitos Humanos
No final do dia no espaço oficial da Alemanha, houve um debate sobre Justiça Climática e Direitos Humanos com a presença da diretora executiva do Human Right Watch, Juanita Goebertus; da secretária geral da Anistia Internacional, Agnès Callamard e ativistas egípcios, com destaque para Sanaa Seif, irmã de Alaa Abdelfattah, preso político em greve de fome no país. A mensagem que enviaram ao mundo foi que “não há justiça climática sem direitos humanos”.
Lula “fundamental”
A NINJA acompanhou também a movimentação do presidente da Colômbia, Gustavo Petro, que realizou agendas durante o dia todo no pavilhão do país com chefes de estado e representantes da sociedade civil entre eles povos indígenas.
Em entrevista à Mídia NINJA, questionado sobre as perspectivas positivas da agenda ambiental com Lula à frente do governo brasileiro, ele disse que não é só “fundamental”. “É estratégico”, destacou. Petro aproveitou para criticar o descompromisso do atual governo federal. “Veja as circunstâncias atuais: estamos realizando um evento no pavilhão colombiano que está a cargo do Brasil, sobre a Floresta Amazônica, e o Brasil não está. E esta é a diferença”.
Ele associou Lula ao êxito dos países da Pan-Amazônia na proteção ao bioma. “Estou absolutamente convencido de que a grande carta que pode movimentar a América do Sul é o cuidado com a floresta Amazônica e sua revitalização. E simplesmente, nos unindo. E Lula tem um papel fundamental”.
Vale ressaltar, no estande oficial do Brasil, o governo tenta esconder a Amazônia, focando no divulgação do potencial energético do país. Curioso, afinal, boa parte das discussões mundiais realçam a emergência em proteger a floresta que é reguladora do clima do planeta.
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