Sim, aquele esporte antigo, de origem incerta, vem que a gente te explica

Foto que mostra Evani, na cadeira de rodas, com a camisa da seleção brasileira, de máscara e diante de uma calha, instrumento usado para arremar a bola da bocha. Ela está na frente de sua guia, que está ajoealhada.

Evani durante torneio de bocha em Tóquio. Foto: Fabio Chey / CPB

Por Natalia Rohn e Carol Bastos

A bocha surgiu nas paralímpiadas em 1984, no masculino e no feminino, sendo que a versão adaptada da modalidade começou a ser praticada na década de 1970. A competição consiste em lançar as bolas coloridas o mais perto possível de uma branca (jack ou bolim). Os atletas ficam sentados em cadeiras de rodas e limitados a um espaço demarcado para fazer os arremessos. É permitido usar as mãos, os pés e instrumentos de auxílio, e contar com ajudantes (calheiros), no caso dos atletas com maior comprometimento dos membros.

Na classificação funcional, eles são divididos em quatro classes, de acordo com o grau da deficiência e da necessidade de auxílio ou não, são elas:

BC1 – Opção de auxílio de ajudantes (podem estabilizar ou ajustar a cadeira do jogador e entregar a bola, quando pedido).

BC2 – Não podem receber assistência.

BC3 – Deficiências muito severas. Usam instrumento auxiliar, podendo ser ajudados por outra pessoa.

BC4 – Outras deficiências severas, mas que não recebem assistência.

No caso dos atletas com maior grau de comprometimento, é permitido o uso de uma calha para dar mais propulsão à bola. Os tetraplégicos, por exemplo, que não conseguem movimentar os braços ou as pernas, usam uma faixa ou capacete na cabeça com uma agulha na ponta. O calheiro posiciona a canaleta à sua frente para que ele empurre a bola pelo instrumento com a cabeça.

Foi em 2016, nos Jogos Paralímpicos do Rio, que a bocha fez história e mostrou que o Brasil também pode ser favorito nessa modalidade também! Evani Calado estava presente no dia, era uma das atletas da categoria BC3.

Conversando com Evani, descobrimos que apesar de atualmente amar bocha, seu primeiro contato com o esporte não foi lá essas coisas. Ela tinha se mudado da zona norte de São Paulo para a sul e nunca tinha participado de nenhuma aula de educação física. Os professores a deixavam na sala de aula, largada, e ganhava nota sem fazer nada.

Tudo mudou nessa nova escola da zona sul, quando o professor perguntou para ela o que fazia nas outras escolas, a resposta foi clara: “Nada! O que eu posso fazer? A minha deficiência é severa!” O novo professor não foi afetado por esse fato, e mandou que fizesse uma pesquisa sobre a modalidade bocha porque ela iria começar a praticar nas aulas.

 

View this post on Instagram

 

A post shared by EVANI CALADO® (@evanicaladobc3)

Assim como a jovem Evani, muitas pessoas têm uma mentalidade que ela já teve. Esporte é “coisa de pular, saltar, correr”. Esquecemos que grande parte do esporte não tem a ver com o quão rápido você atravessa um campo para um gol ou uma cesta, mas sim do quão estratégico você é.

A estudante Evani encontrou o professor no dia de entrega do relatório na entrada da escola com um cano de PVC e bolas de tênis. Foi a adaptação que o professor conseguiu fazer para que ela jogasse junto com a irmã, que virou calheira dela.

“Eu achei muito chato no começo, chato pra caramba!” Evani explica que o professor colocou ela e a irmã num corredor com uma descida que quando a bola era jogada para um lado ia pro outro, por causa da leveza das bolas de tênis, as bolas iam parar na valeta, onde caia água de chuva.

O professor ficou 6 meses na escola, e sua rotina normal de ganhar nota sem fazer nada voltou.

Mas por algum motivo, a bocha simplesmente queria fazer parte da sua vida. então, durante a faculdade de publicidade e propaganda, Evani acabou conhecendo um time a APT- SP (Associação Paradesportiva Todos) que a convocou para ir ao Guarujá, e de uma vez por todas, se apaixonar pelo esporte.

O ano era 2011, a sua participação na competição paulista estava confirmada e seu primeiro adversário foi Antônio Leme, um jogador da Seleção Brasileira.

Ela já o tinha visto antes, na competição surpresa onde ganhou do time em que Antônio fazia parte da equipe adversária. Ela não o conheceu daquela vez porque o técnico sabia que ela tinha muita resistência em conhecer outros atletas.

Antônio tem movimentos involuntários, dificuldade de fala, ele tocava cadeira com o pé porque as mãos não se movimentam e joga com a cabeça. “Eu olhei a dificuldade dele e pensei que ia ganhar fácil”. Na primeira parcial do jogo, Evani já estava perdendo de 6 a 0. E ao finalizar deu 17 a 0. Foi aí que ela realmente amou  a modalidade. Perdendo.

Evani fez partidas excepcionais em Tóquio, perdeu para o coreano por 6×0 saindo da partida individual, mas o ciclo continua nas partidas por equipe e venceu os portugueses junto a Evelyn Oliveira, Mateus Carvalho.

Texto produzido em cobertira colaborativa da NINJA Esporte Clube

Conheça outros colunistas e suas opiniões!

Colunista NINJA

Memória, verdade e justiça

FODA

Qual a relação entre a expressão de gênero e a violência no Carnaval?

Márcio Santilli

Guerras e polarização política bloqueiam avanços na conferência do clima

Colunista NINJA

Vitória de Milei: é preciso compor uma nova canção

Márcio Santilli

Ponto de não retorno

Renata Souza

Abril Verde: mês dedicado a luta contra o racismo religioso

Jorgetânia Ferreira

Carta a Mani – sobre Davi, amor e patriarcado

Moara Saboia

Na defesa das estatais: A Luta pela Soberania Popular em Minas Gerais

Dríade Aguiar

'Rivais' mostra que tênis a três é bom

Andréia de Jesus

PEC das drogas aprofunda racismo e violência contra juventude negra

André Menezes

“O que me move são as utopias”, diz a multiartista Elisa Lucinda

Ivana Bentes

O gosto do vivo e as vidas marrons no filme “A paixão segundo G.H.”

Márcio Santilli

Agência nacional de resolução fundiária

Márcio Santilli

Mineradora estrangeira força a barra com o povo indígena Mura

Jade Beatriz

Combater o Cyberbullyng: esforços coletivos