Foto: Reprodução / Instagram

Por Vanessa Loiola*

A tetracampeã mundial de skate e primeira brasileira a ganhar a X Games em 2008, Karen Jonz, estreou como comentarista da transmissão do Skate Street pelo SporTV nas Olimpíadas de Tóquio e acompanhou a conquista de duas medalhas de prata do Brasil com Kelvin Hoefler e Rayssa Leal, conhecida também como Fadinha, de 13 anos. Em uma entrevista à Universa, a skatista contou como é ser mulher inserida em um esporte considerado pela sociedade masculinizado.

“Só com o tempo fui descobrindo as meninas que andavam, mas não tinha grande referência. Gostaria de ter tido, porque é mais gostoso e mais fácil quando você se identifica. Mas fui minha própria referência. Foi muito difícil, mas ao mesmo tempo engrandecedor. Claro que tinham outras meninas que andavam antes de mim, mas descobri muito depois”, contou a mãe de Sky, de cinco anos, que também anda de skate e leva como inspiração a atleta mais jovem do Brasil a subir no pódio.

Aos 37 anos, Karen relembra que, no início, não havia banheiros femininos e que foi impedida de participar de algumas competições por ser a única menina. A skatista chegava a se vestir igual aos homens para se encaixar e já chegou até a reproduzir comportamentos machistas: “Eu tentava parecer um homem. Não tinha referência estética que me fizesse ter vontade de me vestir como queria, e a referência que eu tinha eram os caras. Isso era confuso pra mim”, disse.

Apesar de haver alguns avanços e as mulheres estarem ocupando mais o espaço dos esportes, Karen acredita que ainda há um longo caminho pela frente:

“Está todo mundo muito empolgado, mas vamos com calma. Esse é o primeiro passo. Ainda vai demorar anos para a gente subir a um patamar mais igualitário. O que está acontecendo agora é o mínimo. Nos meus sonhos, a gente viveria num mundo onde a mulher existe da mesma maneira que o homem, e comemora a medalha e ponto”, destacou a atleta e acrescentou que existem muitas outras skatistas que querem viver do esporte, mas não tem oportunidade: “Estamos vendo a superfície do lago. Espero que as meninas tenham mais oportunidades, patrocinios”.

Durante debate promovido pela NINJA Esporte Clube no início nas Olimpíadas, Karen reforçou sobre o papel das mulheres na modalidade. “Sempre precisamos ir atrás de campeonatos e de tentar igualar as premiações. Sou muito grata por quem passou ali, toda a construção foi importante para chegarmos hoje com meninas desse nível competindo. No final, as Olimpíadas precisam mais do skate do que o skate das Olimpíadas, para esse processo de renovação”, afirmou.

Na ocasião, ela falou sobre a importância dos atletas usarem suas vozes como forma de mudar o cenário do esporte. Karen contou que sempre tenta transmitir a mensagem de que todas as meninas podem andar de skate. “Não havia muitas quando eu comecei, mas só de eu estar ali andando, já acabava inspirando outras. A gente, como esportista, tem como objetivo lutar por um ambiente onde um depende do outro”, disse. Ela também afirma que cada vez mais usa sua voz para transformar o cenário ao seu redor. “Ser uma inspiração vai mais do que só estar ali praticando e fazendo o que você já gosta. O esporte chega onde os investimentos não chegam”, enfatizou.

Ao Universa, Karen também explicou que aceitou o convite de ser comentarista do SporTV pelo fato de ser do skate feminino e destacou que falta vontade dos próprios homens do esporte em inseri-las nesses espaços: “Os meninos são competentes na narração, mas sempre senti que faltou um pouco mais de aproximação e vivência, porque os homens não se interessam por skate feminino. Você vai numa pista e às vezes os caras não sabem nem o nome das minas que andam com eles todo dia”, falou.

A skatista, que deve também comentar na competição de Skate Park, que acontece no dia 3 de agosto, é casada com o vocalista da banda Fresno, Lucas Silveira, e são pais de Sky.

Com contribuição de Douglas Schütz para cobertura colaborativa da NINJA Esporte Clube

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