Com apenas 5 medalhas em todos os Jogos Olímpicos, atletas brasileiros do boxe masculino fazem história na edição japonesa

Buda Mendes / Getty Images

Por Felipe Conte e Paulo Zé Barcellos para a Cobertura Colaborativa NINJA Esporte Clube

Hebert Conceição, Abner Teixeira, Wanderson de Oliveira: guardem esses nomes. Eles representam o futuro do boxe brasileiro em que muitos jovens podem e devem se inspirar para ingressar no esporte. Assim como Maguila, Popó, Esquiva Falcão, Robson Conceição e outros grandes pugilistas brasileiros que inspiraram gerações, os novatos também devem fazer escola.

Nascido em Salvador, na Bahia, Hebert de 23 anos, caçula de três irmãs, foi apresentado ao boxe aos 15 anos através do projeto social “Campeões da vida”, que incentiva e forma novos atletas no estado. Aos 17 anos, já estava integrado ao time nacional na CBBoxe e conquistou a medalha de bronze na Tóquio-2020. 

Jonne Roriz/COB

“Eu me inspiro muito no Robson Conceição, não só no boxe, mas no esporte em geral. Além de conterrâneo e de colega de treino, pude acompanhar de perto boa parte da sua carreira. Mesmo antes de ele conquistar o ouro no Rio eu já me inspirava nele. Ele é, com certeza, um dos atletas mais focados que eu pude conhecer e toda sua história me inspira muito”, conta, conforme declaração publicada no portal Olimpíada Todo Dia.

Hebert carrega junto das luvas o charme do tradicional boxe baiano treinando com Luiz Dórea na Academia Champion por onde já passaram grandes lutadores e ídolos do esporte brasileiro e mundial.

 

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Ainda invicto em território nacional, Hebert foi seis vezes campeão brasileiro, além de medalhas de bronze nos Jogos Sul-Americanos de Cochabamba-2018, prata nos Jogos Pan-Americanos de Lima-2019 e bronze no mundial da Rússia. Na luta que garantiu a medalha para o Brasil na Olimpíada, entrou ao som de Nobre Guerreiro, do Olodum cantando para si mesmo: “Negro de alma leve, nobre guerreiro negro lutador, que os bons ventos calmo assim te leve aonde você for. Estamos com você guerreiro negro e lutador!”

Da raiz negra também emergiu o Abner Teixeira. Nem o próprio atleta imaginava que chegaria tão longe. Em entrevista ao site do Globo Esporte, o pugilista revelou que não tinha pretensão de ser atleta nem mesmo de fazer faculdade. No entanto, conheceu o projeto “Boxe – Mãos para o futuro” do professor Vladimir Godoi, que lhe instruiu a ingressar em uma universidade e avançar nos estudos para ser um cidadão melhor. O incentivo permitiu que as mãos do presente garantissem, ao menos, um bronze para o Brasil no Japão. 

Buda Mendes/Getty Images

“O projeto social proporcionou tudo isso. Comecei a treinar por curiosidade, era meio sedentário e não fazia muita coisa. Queria fazer alguma coisa para me mexer e comecei a fazer boxe. Participei de uma peneira que teve em uma academia aqui de Sorocaba, mais de 70 atletas estavam nesta peneira, que foi descobrindo vários talentos”, relata.

Nascido em Osasco, Abner se mudou cedo para Sorocaba, no interior de São Paulo, onde começou a lutar aos 14 anos. Se os seis quilômetros de caminhada até a academia pareciam longe, hoje, ele vive um sonho a mais de 18.500 km de casa. Ele chegou à Olimpíada como bicampeão brasileiro juvenil e de elite e como uma das referências no boxe nacional na categoria acima de 91kg. Nos Jogos Pan-Americanos de Lima, no Peru, em 2019, Abner conquistou a medalha de bronze. Nesse ano, quer que a história seja diferente. Para chegar à final, o paulista de 24 anos precisa derrotar o cubano Julio la Cruz na próxima terça-feira (03).

A referência do pugilista nos esportes sempre foi o ex-lutador e multicampeão do UFC, Anderson Silva. Como o “Spider”, o jovem cansa os adversários como se tivesse oitos braços até sufocá-los com a teia em um golpe fatal. Na história dos Jogos Olímpicos, o Brasil tem um ouro (com Robson Conceição em 2016), uma prata (Esquiva Falcão em 2012) e três bronzes (Servílio de Oliveira em 1968, Yamaguchi Falcão e Adriana Araujo em 2012). Com trajetórias parecidas envolvendo projetos sociais e com medalhas de bronze já garantidas, os jovens Abner e Hebert sonham em ficar marcados na história como campeões olímpicos.

Foto: Arquivo pessoal

Quando se fala o papel do boxe para transformar realidades, é impossível não citar Wanderson de Oliveira, o nosso Shuga. Nascido em Nova Holanda, uma das maiores favelas do complexo da Maré, Wanderson teve contato com o boxe através do projeto social Luta pela Paz. Em uma reportagem do projeto Voz das Comunidades, Shuga declara:

“Eu conheci o boxe quando tinha 12 anos de idade. Naquele tempo, eu jogava bola pelo projeto Luta pela Paz, que acontece na Maré. E um certo dia entrei em um espaço que tinha um “saco” de luta e um conhecido meu, que vivia tirando uma onda da gente, estava ali treinando. Então, eu e outros amigos decidimos entrar no boxe para mexer com ele também. Com o tempo, ele e meus amigos foram saindo do esporte, mas eu não. Realmente tinha encontrado algo que gostava”.

A Maré se levantava e torcia junto a cada luta de Shuga nos rigues do Tóquio. Ele derrotou o bielorusso Dzmitry Asanau com garra ao avançar para as quartas de final no boxe olímpico na categoria peso leve masculino. Os cubanos, entretanto, campeões mundiais derrotaram os brasileiros no ringue até então. Shuga o encontrou na disputa das quartas e, portanto, não avançou à luta pelo pódio. Ele, entretanto, mostrou toda a sua humildade no pós-luta, visualizando as mundiais que ainda enfrentará em 2021 rumo a Paris em 2024. Mandou demais!

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