A delegação é composta por 259 atletas (incluindo atletas-guia, calheiros, goleiros e timoneiros) de 22 estados mais o Distrito Federal

Atleta Lucas Prado, homem negro, calvo, usando óculos e uma camisa azul sem mangas comemora ao final de uma prova. O atleta está num estádio e ao fundo outras pessoas acompanham o momento.

Velocista Lucas Prado, de Pexoréu (MT). Foto: CPB

Por Saulo Miguez

Enquanto o estado de São Paulo conta com 61 atletas na delegação brasileira das Paralimpíadas de Tóquio, outras oito unidades federativas estão representadas por um número menor. Mato Grosso, Amazonas, Alagoas e Piauí concentram a esperança, respectivamente, em Lucas Prado, Laiana Rodrigues, Marivana Oliveira e Luís Carlos Cardoso, únicos representantes dos estados na competição.

Acre conta com dois representantes, Rondônia e Maranhão três, e outros quatro estados, Amapá, Sergipe, Roraima e Tocantins, não têm representantes entre os competidores. A delegação brasileira é composta por 259 atletas (incluindo atletas-guia, calheiros, goleiros e timoneiros) de 22 estados mais o Distrito Federal, além de comissão técnica, médica e administrativa, totalizando 435 pessoas.

Estrelas solitárias

Da pequena Poxoréu (MT), cidade com pouco mais de 17 mil habitantes, vem o representante mato-grossense do Brasil nos Jogos. O velocista Lucas Prado, 36 anos, compete na classe T11 e, dentre tantos outros títulos, levou o ouro nos 100m no Mundial de Dubai, em 2019; ouro nos 100m nos Jogos Parapan-Americanos Lima, em 2019; a prata nos 100m e nos 400m nos Jogos Paralímpicos de Londres; e ouro nos 100m, 200m e 400m nos Jogos Paralímpicos de Pequim.

Apesar de muito à vontade no atletismo, Lucas Prado não iniciou a carreira no paradesporto nas pistas. Desde que perdeu a visão, em 2002, após um deslocamento de retina, se aventurou em diferentes modalidades. Tentou o futebol de 5, o goalball, mas se encontrou de fato nas corridas de velocidade, a partir de 2006, e desde então não parou de colecionar medalhas. 

Também do atletismo, a alagoana Marivana Oliveira da Nóbrega, 31 anos, que disputa a classe F35, foi descoberta durante uma sessão de fisioterapia numa associação para pessoas com deficiência, em 2008. Vítima de uma paralisia cerebral por falta de oxigenação, Marinalva teve os movimentos das pernas afetados e por isso buscou a reabilitação.

Atleta Marivana Oliveira da Nóbrega, mulher branca, cabelos castanhos, vestida com um casaco azul marinho, sorri enquanto segura com a mão direita a medalha de bronze. O fundo da imagem está desfocado. Foto: CPB

Foto: CPB

Em uma das sessões, uma pessoa que trabalhava com esportistas a viu e disse que ela tinha “perfil de atleta”. Num primeiro momento, ela não levou a conversa a sério, mas seis meses depois dava início aos treinos de arremesso de peso. De lá pra cá, conquistou um bronze no Mundial de Dubai, em 2019; um bronze nos Jogos Parapan-Americanos Lima, em 2019; e um bronze nos Jogos Paralímpicos Rio 2016.

Natural de Picos, Luís Carlos Cardoso, 36 anos, é o representante do Piauí na delegação brasileira. Atleta da canoagem na classe KL1, Luís tornou-se pessoa com deficiência no final de 2009, devido a uma infecção medular que lhe tirou os movimentos das pernas. Até então, ele era dançarino profissional e integrava o grupo do cantor Frank Aguiar.

Com o remo, Luís Cardoso tornou-se pentacampeão mundial na prova de canoa; foi ouro no caiaque na Etapa da Copa do Mundo da Polônia, em 2019; ouro no caiaque no Campeonato Pan-Americano 2018, no Canadá, dentre outras conquistas.

Atleta Luis Carlos Cardoso, homem pardo, usando uma blusa tipo segunda pele branca, com uma camiseta verde por cima, óculos escuros e um boné verde. Ele está sentado na canoa e segurando o remo com a mão direita (Foto: CPB)

Foto: CPB

A meio de rede manauara Laiana Rodrigues Batista, 39 anos, da classe VS1, era, até os 18 anos, atleta convencional de voleibol quando foi acometida por uma dengue hemorrágica seguida da síndrome de Guillain Barré. O quadro clínico grave deixou sequelas em suas pernas que a afastaram do esporte.

Quinze anos depois, ela conheceu a modalidade paralímpica e voltou às quadras. Com a seleção brasileira, foi prata nos Jogos Parapan-Americanos de Lima; bronze nos Jogos Paralímpicos do Rio 2016; e prata nos Jogos Parapan-Americanos de Toronto.

Atleta Laiana Rodrigues, mulher branca, cabelo preso. Exibe a bandeira do estado do Amazonas (Foto: Divulgação)

Foto: Divulgação

Maranhão

Do Maranhão, viajaram com a delegação brasileira Rayane Soares Silva, Pâmela Pereira e Jardiel Vieira Soares, esportistas do atletismo, vôlei sentado e futebol de cinco.

Rayane, que disputa na classe T13, nasceu cega por conta de uma má-formação nos globos oculares. Ela entrou de fato no esporte em 2015 e já coleciona importantes resultados, como ouro nos 400m e prata nos 200m no Mundial de Dubai, em 2019, e a prata nos 100m nos Jogos Parapan-Americanos, naquele mesmo ano.

A ponteira Pamela, em 2014, quando tinha 26 anos, sofreu um acidente de moto e teve que amputar a perna esquerda. Três meses depois, foi convidada para conhecer o vôlei sentado e, em 2016, já estava na seleção. Ela coleciona conquistas como a prata nos Jogos Parapan-Americanos de Lima e bronze nas Paralimpíadas do Rio.

Já o ala Jardiel Vieira nasceu cego devido a uma toxoplasmose. Por meio de um evento em São Luís para deficientes visuais, conheceu o futebol de 5. Com a seleção venceu os Jogos Parapan-Americanos de Lima e a Copa América, ambos os torneios em 2019.

Rondônia

Mateus Evangelista e os irmãos Kesley e Ketyla Teodoro carregam a  bandeira de Rondônia na delegação e integram o vitorioso time de atletismo da delegação brasileira.

Mateus, que disputa na classe T37, sofreu uma falta de oxigenação no cérebro no momento do parto que deixou o lado direito de seu corpo comprometido. Aos 12 anos, assistiu a uma palestra sobre esporte paralímpico em sua escola e se animou para conhecer as modalidades. Entre seus principais feitos estão a conquista da prata no salto em distância nos Jogos Paralímpicos Rio 2016 e o ouro nos 100m, 200m e no salto em distância nosJogos Parapan-Americanos Toronto 2015.

Kesley Teodoro, que sofre da doença de Stargardt, conheceu o atletismo através da irmã Ketyla, que estava no ensino médio quando foi convidada a participar das Paralimpíadas Escolares, em 2012, disputadas em São Paulo.

A companhia do irmão foi fator determinante para os pais de Ketyla autorizarem a viagem. O técnico que convidou a jovem percebeu que o Kesley levava jeito para o esporte e assim iniciou sua carreira naquela mesma edição das Paralimpíadas Escolares. Nos Jogos Paralímpicos do Rio, Kesley ficou em quarto lugar nos 100m.

Assim como o irmão, Ketyla também sofre da  doença de Stargardt, patologia genética que afeta a retina. Ela enxergou até os 13 anos, quando o quadro se agravou rapidamente até se tornar baixa visão.

Conheceu o esporte paralímpico no último ano do ensino médio, quando um treinador de Rondônia buscava atletas para participar das Paralímpiadas Escolares de 2012. Nos Jogos Parapan-Americanos de Lima, ela conquistou o bronze nos 400m.

Acre

Edson Cavalcante Pinheiro e Jerusa dos Santos são os representantes acreanos no maior evento paradesportivo do mundo, ambos disputando provas rápidas do atletismo.

Edson nasceu no seringal com ajuda de uma parteira. Sofreu paralisia cerebral que prejudicou os movimentos do braço direito. Até 2002, era praticante de tênis de mesa, quando migrou para o atletismo. Em menos de dois anos no esporte, já estava na seleção.

Sua coleção de medalhas inclui ouro nos 100m nos Jogos Parapan-Americanos de Lima, bronze nos 100m no Mundial de Londres, bronze nos 100m nos Jogos Paralímpicos do Rio 2016, ouro nos 100m e bronze nos 200m nos Jogos Parapan-Americanos de Toronto 2015 e ouro nos 100m e 200m nos Jogos Parapan-Americanos Rio 2007.

Jerusa nasceu totalmente cega. Ao longo da vida, passou por algumas cirurgias que possibilitaram que ela enxergasse um pouco, mas aos 18 anos voltou a perder totalmente a visão. No ano seguinte, conheceu o esporte paralímpico e, em 2019, tornou-se a primeira atleta cega a correr os 100m abaixo dos 12s.

Ela ganhou o ouro nos 100m no Mundial de Dubai, em 2019, ouro nos 100m e nos 200m nos Jogos Parapan-Americanos Lima 2019, bronze nos 100m e nos 400m nos Jogos Parapan-Americanos Toronto 2015, dentre outras conquistas.

Texto produzido para cobertura colaborativa da NINJA Esporte Clube.

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