Por Vanessa Loiola

As atletas Bianca Silva, de 23 anos, e Leila Silva, de 24, saíram das ruas de Paraisópolis para competir nas Olimpíadas de Tóquio 2020. As integrantes do rugby feminino foram alunas do projeto Rugby Para Todos e hoje são referências no esporte.

Bianca dos Santos Silva, popularmente conhecida como Bianca Silva, já mostrou seu talento na Copa do Mundo de rugby Sevens, em 2018, que aconteceu em São Francisco, nos Estados Unidos, e, no ano seguinte, ao longo do Pré-Olímpico – evento-teste para os Jogos Pan-Americanos no Peru – mostrou um excelente desempenho, junto com Leila, o que garantiu a entrada do Brasil nas Olimpíadas.

Em 2018, Bianca foi eleita a melhor jogadora do ano pelo Comitê Olímpico Brasileiro (COB), e em 2019, foi uma das escolhidas pela confederação internacional de rugby, World Rugby, para ilustrar a campanha Unstoppables (imparáveis, em tradução para o português), para impulsionar o esporte feminino.

Além disso, outra conquista importante que marcou a carreira de Bianca e de Leila foi a partida de Hong Kong Sevens, em 2019, que colocou o time entre as 12 principais nações da categoria, após a conquista de uma taça. Esse resultado foi também muito importante para a visibilidade do rugby feminino.

As atletas ainda fizeram parte do grupo que viajou aos Emirados Árabes para competir em dois torneios de Emirates Invitational de rugby Sevens, localizado em Dubai.

No entanto, as coisas nem sempre foram fáceis. Leila Cássia dos Santos Silva, conhecida como Leila Silva, havia conseguido uma vaga para cursar gastronomia em uma universidade em Curitiba, no Paraná, mas deixou a paixão falar mais alto e escolheu seguir com o rugby. Com isso, Leila, que atua como meio-scrum, meio-campista, viu o mito de que a modalidade é um esporte violento se desfazer e, por meio do trabalho em equipe, e apesar de uma certa dificuldade em aceitar a modalidade, achou uma maneira de trabalhar sua timidez.

(Foto: Reprodução/Instagram)

Bianca também passou por um momento de superação e resiliência pelo esporte, diante da pressão por trabalhar: “Ter pouca idade, enfrentar coisas para as quais não estava preparada, ter uma vida profissional [no esporte] e ver isso como algo real. Impactou forte, não aguentei, desisti, parei de jogar depois da Olimpíada. Fui correr atrás de emprego. Minha irmã trabalhava em um restaurante de shopping, fiz um currículo e enviei”, recorda Bianca, que atua pelo Leoas de Paraisópolis, à Agência Brasil.

Embora a atleta já estivesse com o novo trabalho encaminhado, não chegou a iniciá-lo: “Estava decidida que não voltaria [para o esporte], de tão chateada que fiquei [pela ausência em 2016]. Aí, recebi o convite para voltar. Primeiro, disse não. Depois, sentei e pensei: o que quero realmente? Meu coração ainda arde para jogar. Percebi que merecia viver aquilo. E voltei. Foi uma injeção de força. Daqui, não saio mais”, disse a moradora de Paraisópolis.

(Foto: Bruno Ruas / ruasmidia)

A persistência pelo esporte rendeu em suas trajetórias a conquista de uma medalha de ouro nos Jogos Sul-Americanos de Cochabamba, na Bolívia.

Tudo começou no campo de terra batida (agora já todo gramado), no Palmeirinha, aos 11 anos. Bianca atuava como ponta e se destacava por ter alta velocidade. Hoje é a principal jogadora do Yaras (como a seleção é conhecida), juntamente com Leila, que começou aos 10 anos.

O Rugby Para Todos é um projeto social que ensina a modalidade para crianças e adolescentes com idade entre 6 e 18 anos, e hoje atende cerca de 200 jovens. A iniciativa é importantíssima para fazer com que jovens carentes consigam realizar seus sonhos em meio a um país desigual onde faltam oportunidades.

Texto elaborado em cobertura colaborativa da NINJA Esporte Clube