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Ney Matogrosso, 50 anos de transgressão para que o futuro não repita o passado
Uma exposição no MIS homenageia a carreira de um dos artistas mais transgressores do Brasil
Uma gigantografia na entrada do Museu da Imagem e do Som (MIS) dá a largada: um Ney Matogrosso em preto e branco dos anos 80 é a imagem inicial para o percurso que levará os visitantes a caminhar por uma linha do tempo, uma viagem política e cultural pela obra de um dos artistas mais transgressores da cultura brasileira.
Uma oportunidade para nos conectarmos com os múltiplos universos que Ney construiu em seus 50 anos de carreira, projetando imaginários infinitos que impactam a arte contemporânea latino-americana. E o timing para ver a exposição é urgente: em tempos em que uma onda moralista e careta percorre o mundo tentando petrificar tudo ao seu redor, percorrer a vida criativa de um artista que fez da provocação moral e da libido parte essencial do seu processo criativo é um grito para sacudir os corpos.
“O tempo nao para”. Essa é a linha estética narrativa que une toda a exposição no MIS. Aqui, será possível ver as facetas transicionais de Matogrosso, começando pelos anos 1970, quando, em plena ditadura militar brasileira, ele se consolidou como uma figura fundamental da cena cultural.
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Os pontos do percurso estão divididos em seis áreas: a mostra exibe centenas de elementos têxteis, como figurinos e acessórios de shows e videoclipes, além de documentos, capas de álbuns, pôsteres e CDs. Há trechos de uma entrevista concedida por Ney ao programa Notas Contemporâneas, do MIS, por ocasião dos 45 anos do museu.
Diversas fotografias emblemáticas de todas as fases do homenageado estão na exposição, em obras de Madalena Schwartz, Thereza Eugênia, Ary Brandi e Daryan Dornelles. O percurso cronológico passa por cada década de sua trajetória nos palcos, desde sua estreia como vocalista do grupo Secos & Molhados até seu mais recente álbum “Nu com minha música”, o primeiro concebido separadamente de um show.
A curadoria é assinada pelo diretor-geral do MIS, André Sturm; o projeto expográfico é dos arquitetos Juan Cabello Arribas e Viviane Sá; e os textos da exposição foram escritos pelo jornalista Julio Maria, autor de “Ney Matogrosso – a biografia”, lançada pela Companhia das Letras em 2021.
Moda, corpo e contracultura, sem máscaras
Performático, original, com uma voz marcante e um talento único, Ney segue hipnotizando multidões ao longo de suas cinco décadas de carreira, como um xamã que se ergue no alto da selva para rugir com seu canto através do tempo. Isso é muito por conta de seus personagens e figurinos. Um artista que conseguiu conectar peças tradicionais de povos originários, de cocares, plumas e elementos da Amazônia, com à mistura de trajes ao estilo cabaré e reminiscências drag.
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Foto 1 e 3: Barbara Milano / Foto 2: Lucas Mello – MIS
E um dos pontos altos da exposição são justamente seus inúmeros figurinos espalhados pela área expositiva do MIS. Na parte final da mostra, o visitante adentra uma sala circular de luz arroxeada que contém 30 figurinos originais usados por Ney ao longo de sua carreira. Ali, as transições do artista ficam expostas e visíveis para inspirar com a rebeldia estética que fez da moda um selo de transgressão, um enunciado político, uma arma de transformação.
Ney, hoje e sempre
A exposição conta com elementos cenográficos desenvolvidos pela Paris Entretenimento exclusivamente para o filme “Homem com H”. O longa, com lançamento previsto para maio, tem direção de Esmir Filho e conta com o ator Jesuíta Barbosa no papel de Ney Matogrosso. Será mais uma oportunidade para aproximar a obra de Ney das novas gerações, atualizar seu legado e celebrar sua influência, que segue mais viva do que nunca.
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Como bem descreveu o jornalista Júlio Maria: “Sem discursos nem bandeiras, Ney apenas caminhou. O pai o negou nos anos 1950, a Igreja o rejeitou nos anos 1960, a ditadura o perseguiu nos anos 1970, a aids o enlutou nos anos 1980, gravadoras o desprezaram nos anos 1990 e a homofobia recrudescida como política de Estado o rondou no novo milênio. E o fato de seguir em pé, atravessando tempos que derrubaram muitos ao redor, tornou-se inspiração e resistência.”
Exposição “Ney Matogrosso”
Horários:
Terças a sextas – 10h às 19h
Sábados – 10h às 20h
Domingos e feriados – 10h às 18h
Ingresso:
R$ 30 (inteira)
R$ 15 (meia)
Terças-feiras gratuitas
Terceira quarta-feira do mês: ingresso gratuito, retirado apenas na bilheteria física do MIS no momento da visita (parceria B3)
Classificação indicativa: Livre
Local: Museu da Imagem e do Som – MIS | Avenida Europa, 158, Jardim Europa, São Paulo