Junto a outros nomes do movimento, o autor desponta no meio literário com o seu primeiro romance, Viela Ensanguentada

Foto: divulgação

O movimento da literatura periférica está fervilhando. São vários nomes de destaque que ganham reconhecimento, chegam nas livrarias e conquistam leitores de todas as partes, retratando em seus escritos a realidade em que viveram: a fome, a pobreza e criminalidade, com outras pitadas de vida que cada um deles e delas faz ao seu modo.

Neste universo pulsante que cruza territórios e atravessa continentes, o escritor Wesley Barbosa é um dos destaques da ficção marginal contemporânea, com quatro livros publicados: O diabo na mesa dos fundos (Selo Povo, 2016), Parágrafos Fúnebres (Ficções Editora, 2021), Relato de um desgraçado sem endereço fixo (Ficções, 2021), e, mais recentemente, publicou o seu primeiro romance, Viela ensanguentada, uma publicação independente também impressa pela Ficções. Apesar de ter publicado pela editora independente Ficções, é o próprio Wesley que custeia toda a edição e tiragem do livro.

Com uma linguagem simples e atrativa, as histórias de Wesley se baseiam nas suas próprias experiências de vida, com o repertório de muita leitura que adquiriu ao longo da sua vida. “Em meu bairro, Jardim Santa Júlia, lá em Itapecerica da Serra, eu ficava a maior parte do tempo enfurnado em uma biblioteca. Cheguei a trabalhar lá como voluntário, mas a verdade é que eu gostava de ficar em meio ao silêncio do ambiente lendo tudo o que eu encontrasse pela frente”.

Lia desde poesia, filosofia e todo o tipo de romance. Com destaque para Hermann Hesse, Dostoiévski, Clarice Lispector, Lima Barreto e Carlos Drummond de Andrade. O que ele não aprendia na escola, se esforçava para absorver nos livros, que o atraíam.

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Tendo trabalhado em diversos empregos, desde servente de pedreiro, atendente de mercado, entregador de jornal e vendedor de água no farol, as histórias criadas por Wesley são todas baseadas em suas próprias experiências. Daí a verdade inscrita nos seus livros.

Mas o que também chama atenção na trajetória do escritor é o pouco tempo em que ele consegue escoar as suas obras em grande quantidade, sem contar com qualquer ajuda no momento, de editora ou qualquer divulgação externa. Ele próprio se apresenta em feiras, nas ruas, nos saraus, e conquista leitores por onde passa. Também vende no seu instagram pessoal @barbosaescritor

Hoje, aos 32 anos, Wesley vive apenas da literatura. A transição se deu durante a publicação do seu primeiro livro, O Diabo na mesa dos fundos. “Quando o livro foi publicado, em 2016, eu comecei a trabalhar em uma lanchonete até 2019. Foi quando eu decidi largar o emprego para me dedicar na divulgação do meu livro. Neste período até o momento, eu já vendi mais de seis mil exemplares”, conta.

Em 2020, época da pandemia, Wesley escreveu Parágrafos Fúnebres (editora Ficções) e começou a enviar livros para todo o Brasil por meio do Correio. “As pessoas me escreviam no direct do instagram (@barbosaescritor) querendo saber do livro, e então, eu comecei a ganhar dinheiro de casa. Às vezes eu estava deitado sem um real na conta e quando eu ia ver, tinha mais de um salário mínimo”, relembra.

Com o seu romance de estreia, Viela Ensanguentada, o autor intensificou as vendas: em menos de um mês, quando o livro saiu, vendeu mil exemplares. “Tanto que grande parte do que eu vendi do meu primeiro livro em anos, subindo e descendo a Rua Augusta, o Viela Ensanguentada, levei apenas alguns meses e o livro já vai pra sua quarta tiragem. Tenho ido em muitas feiras onde também faço essa divulgação na bienal do livro e sobretudo faço as vendas pela internet. Além disso, muitos livros são vendidos para brasileiros no exterior. Isso me possibilita ler mais, escrever, e poder ter uma vida mais confortável”, comemora.

Hoje, Wesley vive no centro de São Paulo e tem uma vida mais confortável, mas está sempre circulando no seu bairro de origem, Itapecerica da Serra. “Eu sou um sujeito periférico desde que nasci e até o dia em que irei morrer. A periferia é algo que fica na alma da gente. Também é um jeito de ser e de pensar. Um periférico é um sobrevivente e eu já sobrevivi a fome, ao esgoto, a falta de moradia, a polícia e ao abandono do pai. É esse tipo de coisa que eu retrato em meus escritos. É esse tipo de coisa que meus personagens vivem e sobrevivem, sempre com valentia”.

Viela Ensanguentada

“O livro nada mais é do que a realidade da vida de Mariano, que tenta escapar da dureza do cotidiano do bairro em que vive, da fome, da falta de moradia, saneamento básico, do desespero. O sangue da derramado mistura-se às lágrimas e ao silêncio da morte, mas, a cada página virada, pode-se conhecer de perto os personagens que vão surgindo por intermédio das palavras de Mariano: Olho-de- Peixe, Mosca Morta, o cara que não diz nada, Dona Isabel, sua avó, o pregador Cristóvão, a mãe de Santo Matilde, o cachorro Tição, o vulto que se esgueira na penumbra dos becos, o dono da mercearia, a prostituta decadente, Dandara, seu Molambo, Chocolate e outros mais que irão compor o quadro dessa trama regada a pitadas de suspense, violência, poesia, o despertar pela leitura, as desilusões do primeiro amor…”.