Análises revelam que mapa da votação, quando comparado ao de derrubada de árvores, mostra bem como o bolsonarismo “favoreceu o desmatamento”

Altamira, no Pará, é a cidade com maior número de desmatamento entre 2019 e 2021 (Reprodução/Coluna Carlos Madeiro/UOL)

 

Dos dez municípios que registram maior área desmatada entre 2019 e 2021, nove aumentaram o número de votos válidos em Jair Bolsonaro, quando comparado o número de votos que ele recebeu em 2018. No Norte, os votos em Bolsonaro, aumentaram de 3,7 milhões, do primeiro turno de 2018 para 4,3 milhões de votos no primeiro turno de 2022.

Apenas Porto Velho (RO) registrou queda do número de votos, ainda que uma redução pequena: passou de 57,77% para 54,36%, como aponta o colunista do UOL, Carlos Madeiro.

Por ordem de maior área desmatada, Bolsonaro se saiu melhor em Altamira (PA), São Félix do Xingu (PA), em primeiro e segundo lugar no ranking. Então, vem Porto Velho (RO) e na sequência Lábrea (AM), Novo Progresso (PA), Apuí (AM), Pacajá (PA), Itaituba (PA), Colniza (MT) e Portel (PA).

(Reprodução/Coluna Carlos Madeiro/UOL)

Para entender porque essas cidades que estão no arco do desmatamento, que historicamente reúne a maior área afetada pela destruição da floresta é que o colunista convocou pesquisadores para dissertar sobre o assunto.

O pesquisador do Instituto de Pesquisa da Amazônia (Ipam), Juan Doblas, avaliou que a nessas cidades a maior parte da população tem trabalhos precários, vinculados a atividades ilegais, como garimpo e extração de madeira.

“Estamos falando de um contingente muito grande de pessoas que dependem dessas atividades ilegais. Existe uma percepção de que Bolsonaro favorece a ilegalidade. Então, para o imediato, essas pessoas em situação difícil pensam: ‘Vou votar em quem favorece a ilegalidade porque essa é minha situação atual’, afirma. A solução do problema viria de políticas públicas que incentivassem a sustentabilidade.

O doutor em Ciência Ambientais, Rodolfo Salm, um dos que repercutiram o mapa de votação granulado entre azul para Bolsonaro e vermelho para Lula, disse a Madeiro que a questão demográfica deve ser levada em conta para explicar o contexto. Ele também dá aulas de Ecologia na faculdade de Biologia da Universidade Federal do Pará.

“Estamos falando dos maiores municípios em área do país, mas em que a densidade populacional é baixíssima. A presença de povos tradicionais também é baixa”, explica. Para ele, o mapa da votação, quando comparado ao de derrubada de árvores, mostra bem como o bolsonarismo “favoreceu o desmatamento”. “Esses municípios com mais áreas desmatadas tiveram essa votação em Bolsonaro e revelam como a posição de Bolsonaro diante do desmatamento o incentiva. Dá para entender a dinâmica ideológica da região”, diz

Já cidades onde prevalecem os povos originários e tradicionais, deram expressiva vantagem ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), caso de São Gabriel da Cachoeira, no extremo noroeste do Amazonas, já divisa com a Colômbia. Lá, o petista teve 79,1% dos votos válidos contra 17,5% de Jair Bolsonaro.

O êxito de Lula se repetiu em Atalaia do Norte (AM), município onde Dom Phillips e Bruno Pereira foram mortos em junho, 77,9% dos eleitores votaram em Lula no primeiro turno, contra 17,3% do candidato do PL à reeleição.