“Vocês fizeram falta, caro Lula”, disse o  chanceler da Alemanha, Olaf Scholz, no Palácio do Planalto, nessa segunda-feira (30), em encontro com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em Brasília. Os dois conversaram sobre o acordo Mercosul-União Europeia, Amazônia e o conflito na Ucrânia.

Uma das metas do governo Lula é a reconstrução da política externa brasileira que, na avaliação de especialistas em relações internacionais, foi desmontada na gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Neste sentido, Scholz afirmou que tem grande expectativa sobre a relação futura com o Brasil. Ele parabenizou Lula pela vitória eleitoral e reiterou a solidariedade do governo alemão ao País pelos atos golpistas de 8 de janeiro.

Segundo ele, o Brasil foi capaz de resistir aos ataques e é um modelo para o mundo. “Estar aqui hoje me deixa emocionado após imagens da invasão aos palácios, ainda muito presentes na nossa memória”, disse. “Os ataques no Brasil não foram contra prédio, foram contra a democracia”.

Acordo para mediar conflito na Ucrânia

“O que é preciso é constituir um grupo com força suficiente para ser respeitado numa mesa de negociação. E sentar com os dois lados”, disse o presidente.

Lula citou a participação de países como a Índia, a Indonésia e, principalmente, a China nesse processo. “Nossos amigos chineses têm um papel muito importante. Está na hora da China colocar a mão na massa”, continuou. Lula também comparou com o esforço empregado para debelar a crise econômica em 2008, quando foi criado o G20.

“Temos que criar outro organismo, da mesma forma que criamos o G20, quando aconteceu a crise econômica em 2008, queremos propor um G20 para por fim ao conflito Rússia e Ucrânia”. Lula garantiu que vai levar a ideia ao presidente americano, Joe Biden, em visita aos Estados Unidos em fevereiro, e ao presidente chinês, Xi Jinping, em março, quando for visitar a China.

Foto: Ueslei Marcelino/ Reuters

Armamentos

O presidente brasileiro confirmou ter vetado o envio de munições de tanques de guerra à Ucrânia por não concordar com o conflito do país com a Rússia. O pedido foi feito na semana passada pelo próprio governo alemão, que, por sua vez, tem ajudado diretamente a Ucrânnia com envio de armamentos.

“O Brasil não tem interesse em passar as munições, para que elas não sejam utilizadas para a guerra entre Ucrânia e Rússia. O Brasil é um país de paz, o último contencioso nosso foi na guerra do Paraguai. O Brasil não quer ter participação, mesmo que indireta”.

Do lado alemão, Olaf Scholz falou que a guerra é uma violação do direito internacional e voltou a condenar a Rússia. “Essa guerra não é uma questão europeia, mas uma questão que diz respeito a todos nós. É uma violação flagrante do direitos internacionais e da ordem internacional que acordamos em conjunto. Ninguém pode mexer em fronteiras de forma violenta, isso são tradições que pertencem ao passado”.

Governança global

Durante o encontro bilateral, Lula falou sobre a proposta de criar um grupo de países formado por Brasil, Alemanha, Japão e Índia para reivindicar um assento permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas (ONU). Ele criticou a atual arquitetura de governança geopolítica.

“O que a gente quer é dizer em alto e bom som que as Nações Unidas, hoje, não é mais a geopolítica de 1945, quando ela foi criada. Queremos que o Conselho de Segurança da ONU tenha força, tenha mais representatividade, que possa falar mais uma linguagem que o mundo tá precisando Quando a ONU estiver forte, vamos evitar possíveis guerras que acontecem”.

*Com informações da Agência Brasil