Dos 428 casos, 152 (35,51%) foram de discursos que buscavam desqualificar a informação jornalística. Sozinho, Bolsonaro foi responsável por 145 casos de descredibilização da imprensa, por meio de ataques a veículos de comunicação e a profissionais

Tania Rego / Agencia Brasil

Por Mauro Utida para Mídia NINJA

O ano de 2020 foi o mais violento para os jornalistas brasileiros, desde o início da série histórica dos registros dos ataques à liberdade de imprensa feitos pela Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), iniciada na década de 1990. Foram 428 casos de violência, 105,77% a mais que o já alarmante número de 208 ocorrências, registradas em 2019.

No relatório “Violência Contra Jornalistas e Liberdade de Imprensa no Brasil – 2020”, lançado na manhã desta terça-feira (26), a Fenaj chama a atenção que esta explosão de casos está associada à sistemática ação do presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), para descredibilizar a imprensa e à ação de seus apoiadores contra veículos de comunicação social e contra os jornalistas. Ele repete a mesma posição ocupada no ano anterior, quando assumiu a Presidência da República.

A descredibilização da imprensa foi, portanto, a violência mais frequente. Dos 428 casos, 152 (35,51%) foram de discursos que buscavam desqualificar a informação jornalística. Sozinho, Bolsonaro foi responsável por 145 casos de descredibilização da imprensa, por meio de ataques a veículos de comunicação e a profissionais, e outros 26 registros de agressões verbais, duas ameaças diretas a jornalistas e dois ataques à Fenaj, totalizando 175 casos, o que corresponde a 40,89% do total.

“O Bolsonarismo – que é o símbolo do obscurantismo e um fenômeno de aumento da violência na sociedade – tem o objetivo de impedir a livre circulação de notícias jornalísticas e descredibilizar a imprensa como um todo para continuar disseminando notícias falsas pela bolha bolsonarista”, alerta a presidenta da Fenaj, Maria José Braga.

A Fenaj informa que as denúncias públicas das agressões são importantes para mostrar à sociedade a postura do presidente da República e seu desrespeito aos princípios institucionais da liberdade de imprensa, que é um claro exemplo de quebra de decoro do cargo. “Monitoramos os casos porque ele institucionaliza essa violência pela presidência da República”, declara a presidenta.

A Fenaj reforça a importância dos jornalistas vítimas de agressão em procurar sua entidade sindical para oficializar as denúncias.  “Precisamos resistir e continuar fazendo o nosso trabalho. Vamos vencer esta crise nos fortalecendo através da luta coletiva”, finaliza a presidenta da entidade. 

O lançamento do relatório faz parte da programação do Fórum Social Mundial 2021, que iniciou no último sábado (23). Inicialmente, a edição deste ano estava programada para ocorrer no México.No entanto, por conta da pandemia de Covid-19, esta edição será transmitida pelas páginas do próprio FSM, pelo Facebook e Youtube.

Assassinatos

Não houve aumento de casos de assassinatos e de racismos/injúrias raciais, com duas ocorrências de cada em 2020, o mesmo número registrado no ano anterior. Mas a Fenaj alerta que o registro de duas mortes de jornalistas, por dois anos seguidos, é evidência concreta de que há insegurança para o exercício da profissão no Brasil.

Foram assassinados os jornalistas Lourenço Veras, conhecido como Léo Veras, e Edney Menezes. Léo Veras foi morto na cidade paraguaia de Pedro Juan Caballero, que faz divisa com a brasileira Ponta Porã. Ele atuava profissionalmente nas duas cidades e, em Ponta Porã era responsável pelo site Porã News, no qual denunciava o crime organizado na fronteira. 

Edney Menezes foi assassinado em Peixoto de Azevedo, município do Mato Grosso, localizada a 690 quilômetros da capital Cuiabá. Ele trabalhou na campanha pela reeleição do prefeito da cidade e havia comentado com familiares que estava sendo ameaçado.

A violência contra os jornalistas em números:

Assassinatos: 2 casos (0,47%)

Agressões físicas: 32 casos (7,48%)

Agressões verbais/Ataques virtuais: 76 casos (17,76%)

Ameaças/Intimações: 34 casos (7,94%)

Ataques cibernéticos: 6 casos (1,40%)

Atentado: 1 caso (0,23%)

Censuras: 85 casos (19,86%)

Cerceamentos à  liberdade de expressão por meio de ações judiciais: 16 casos (3,74%)

Descredibilização da imprensa: 152 casos (35,51%)

Impedimentos ao exercício profissional: 14 casos (3,27%)

Injúrias raciais/racismo: 2 casos (0,47%)

Sequestro/cárcere privado: 2 casos (0,47%)

Violência contra organização dos trabalhadores/sindical: 6 casos (1,40%)

Números da violência por região: 

Centro-Oeste: 134 casos (48,55%)
Sudeste: 78 casos (28,26%)
Sul: 30 casos (10,87%)
Nordeste; 19 casos (6,88%)
Norte: 15 casos (5,44%)

Números da violência por gênero:

Masculino: 147 vítimas (65,34%)
Feminino: 64 vítimas (28,44%)
Não identificado: 14 vítimas (6,22%)

Os agressores:

Presidente da República: 175 casos (40,89%)
Servidores públicos/Dirigentes EBC: 86 casos (20,09%)
Políticos: 39 casos (9,11%)
Internautas; 21 casos (4,91%)
Populares: 18 casos (4,21%)
Juízers/Procuradores/Promotores: 17 casos (3,97%)
Manifestantes: 14 casos (3,27%)
Policiais Militares/Civis: 14 casos (3,27%)
Empresários da comunicação: 7 casos (1,64%)
Dirigentes de clubes de futebol/Torcedores: 7 casos (1,64%)
Hackers: 6 casos (1,40%)
Empresários/Comerciantes: 5 casos (1,17%)
Segurança; 3 casos (0,70%)
Jornalistas: 2 casos (0,47%)
Profissional liberal/Motoristas: 2 casos (0,47%)
Religioso: 1 caso (0,23%)
Traficante: 1 caso (0,23%)
YouTube: 1 caso (0,23%)
Não identificados: 9 casos (2,10%)