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Um vídeo que mostra alunos do Centro de Treinamento Pré-Militar de Canoas (RS) começa a circular nas redes. Eles entoam cantos que exaltam violência durante marcha na cidade. Uma criança é vista entre os alunos.

As imagens foram divulgadas pelo coronel Marcelo Pimentel, ex-chefe do Estado-Maior da 7ª Região do Exército, que criticou a cena. “Trata-se de cena do cotidiano em Canoas-RS, cidade com guarnição militar considerável. Crianças e jovens conduzidos por marmanjos entoando ‘canções de corrida’ dos quartéis anos 70”.

O oficial da reserva, que é crítico da militarização do governo, afirma que as letras dos cânticos registradas em vídeo são absolutamente improprias pra serem pronunciadas fora do quartel. “Até mesmo no quartel já não cabem mais. Falam de ‘interrogatórios violentos’, ‘torturas’ e tais”.

Nas imagens os alunos cantam o trecho: “Quando eu morrer, quero ir de FAL e de Beretta, chegar no inferno e dar um tiro na cabeça no capeta”. Outros trechos “nem dá pra falar por aqui”, escreveu Marcelo no Twitter.

“O FAL (Fuzil Automático Leve) é um fuzil de uso generalizado entre as forças armadas de muitos países da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). Já Beretta é o nome genérico atribuído à fábrica de armas de fogo italiana Fabbrica d’Armi Pietro Beretta S.p.A”, escreveu o jornal Metrópole ao noticiar a publicação do vídeo.

As canções militares são conhecidas como TFM (Treinamento Físico Militar) e sempre são criticadas quando flagradas nos treinos militares, gerando polêmicas e discussões. As canções encorajam a brutalidade, exaltam a tortura, como em “Interrogatório é muito bom de se fazer / A gente pega o animal e bate nele até dizer”, e exploram o preconceito de gênero, como em “A mulher e a galinha são dois bichos interesseiros / A galinha pelo milho, a mulher pelo dinheiro”.

Em 2017, quando uma polêmica no Paraná também envolveu um cântico flagrado entre militares, a coluna Caixa Zero, da Gazeta do Povo, escreveu: “O que está em questão não é integridade pessoal de cada homem ou mulher que servem como policiais ou militares, e sim a forma como eles são preparados para o trabalho que deverão cumprir. Um treinamento que instiga a violência, como: ‘Bater na cara e espancar até matar’ ou ‘matar e esfolar usando um fuzil’, não é só cruel para os possíveis bandidos que atravessem o caminho desses profissionais, também é um retrocesso para a sociedade”.

O coronel Marcelo, que publicou o vídeo de Canoas, afirma que quando comandante e instrutor, não admitia esse tipo de “canção”. “Que isso sirva de alerta para o processo que venho insistentemente demonstrando: a militarização da sociedade por intermédio da ocupação maciça de cargos políticos governamentais pelos generais e coronéis da geração q inventou essas músicas nos anos 70/80: os ‘rambos!'”.

“A proliferação das ‘Escolas Cívico-Militares’ (ECIM) está militarizando o ensino básico no Brasil. Dentre as inúmeras críticas que se pode fazer a essa insensatez – as ECIM -, uma das mais necessárias é a que transparece nesse vídeo: – formação de uma juventude fascistóide!”, conclui.