Na tarde desta quarta-feira (6), Matheus Almeida, um vendedor de balas em Copacabana, zona sul do Rio de Janeiro, tornou-se vítima de uma crescente onda de “justiceiros” que têm saído às ruas do bairro em busca de supostos suspeitos de roubos.

Matheus, ao relatar os eventos ao RJ2, da TV Globo, afirmou que estava trabalhando pacificamente próximo a um restaurante no bairro quando foi surpreendido por um garçom do estabelecimento. O vendedor de balas alega ter sido agredido com vários socos, resultando em marcas roxas e inchaço visível em seu rosto. O nome do restaurante envolvido não foi divulgado.

Um segundo vídeo mostra um jovem negro ensanguentado, enquanto relatos de uma corrida entre os bairros de Botafogo e Laranjeiras também circulam online.

Em entrevista, Matheus Almeida destacou sua condição de pai de família e desempregado, enfatizando sua honestidade e trabalho árduo. “Eu sou trabalhador, todo mundo sabe. Olha como eu me visto, não sou mendigo, não sou ‘cracudo’. Eu saí lá de Santa Cruz [bairro], tenho uma filha, uma esposa e preciso levar alimentação para casa. Não preciso roubar nada de ninguém. Meu negócio é trabalhar”, afirmou.

As autoridades locais estão atentas ao aumento da violência. O Secretário de Segurança, Victor Santos, afirmou em entrevista à GloboNews que a Secretaria de Segurança Pública (SSP) e as polícias não serão condescendentes com essas ações. “A SSP e as polícias não serão condescendentes”, disse o secretário, destacando o monitoramento dos suspeitos envolvidos nessas agressões.

Onda de “justiceiros”

No Rio de Janeiro, uma preocupante tendência de “justiçamento” tem se alastrado, atingindo níveis alarmantes, com uma média de quatro casos por dia, de acordo com dados recentes do Instituto de Segurança Pública (ISP). O fenômeno, caracterizado pelo exercício arbitrário das próprias razões, tem experimentado um aumento significativo de 8% no primeiro semestre deste ano em comparação com o mesmo período do ano passado.

Os números revelam que o município do Rio de Janeiro concentra a maior parcela desse tipo de ocorrência, representando 43% do total de registros. Em seguida, figuram Niterói, Duque de Caxias, São Gonçalo e Nova Iguaçu. Surpreendentemente, o bairro de Copacabana ocupa a terceira posição no ranking, com 17 casos registrados no primeiro semestre deste ano, ficando atrás apenas do Recreio dos Bandeirantes (26) e Barra da Tijuca (19).

Breno Melaragno, professor de Direito Penal da PUC-Rio, esclarece que além do crime principal, indivíduos envolvidos em grupos de “justiceiros” podem enfrentar acusações relacionadas a lesão corporal, homicídio e associação criminosa, com base no artigo 288 do Código Penal.