Foto: Matt Winkelmeyer e José de Holanda

“Lia, se você me ouve, eu quero trabalhar com você”, disse para Lia de Itamaracá ninguém menos que Jon Batiste, o cantor e pianista de 35 anos que se tornou o nome de ouro do Grammy 2022.

Ele levou para casa a maioria dos prêmios da edição já tenho batido seu recorde ao ser o nome mais mais indicado da academia neste ano. Ele se referia a Lia de Itamaracá, cirandeira pernambucana, em uma entrevista publicada pela CNN, quando falava sobre seu amor à música brasileira.

Nascido e criado em Nova Orleans, berço do jazz, Jon se identificou com o Brasil porque via aqui muita similaridade com sua cidade natal. “Todos eram tão calorosos, tão legais e hospitaleiros e todo mundo tinha uma linda alma. As pessoas são lindas. A paisagem e a comida pareciam paralelas com o que eu cresci em Nova Orleans”, contou.

O cantor disse que sonha em tocar nas ruas brasileiras e revelou o desejo platônico de fazer uma parceria com um patrimônio cultural pernambucano, Lia de Itamaracá.

“Eu amaria colaborar. Eu estou muito, muito ocupado, mas vou encontrar tempo para você”, disse Jon.

A CNN levou o recado para a cirandeira, de 78 anos. E ela revelou que o cantor já a havia chamado por mensagem privada no Instagram em janeiro deste ano. Ele inclusive sugeriu que poderia viajar até onde ela estivesse e a convidou para uma apresentação em maio no Carnegie Hall.

A produção de Lia respondeu que ela estava na Ilha de Itamaracá e seria uma honra que eles se encontrassem. Contudo, não fizeram mais contato. Aproveitando a ponte, a CNN divulgou um vídeo com a resposta de Lia:

“Jon, meu filho, obrigada pelo carinho. Eu gostaria muito de me encontrar com você. Venha para Itamaracá, pra gente ter um diálogo maravilhoso, conversar bastante, vem!”.

Foto: Reprodução via CNN

Será que o encontro vem? Jon se mostrou bastante atento às músicas brasileiras e sua relação com o país tem vários registros. Ele trabalha há sete anos com a percussionista brasileira Nêgah Santos, com quem ele disse ter aprendido muito sobre a música brasileira. Entre alguns nomes que ele admira, ele cita Milton Nascimento e Antonio Carlos Jobim. “Tantos grandes músicos que eu admiro. Até mesmo alguns dos compositores de pop e suas letras. Ou o falsete da voz de Caetano Veloso. Eu amo a música [brasileira]”, disse.

O cantor também já havia tentado uma parceria com o alagoano Hermeto Pascoal. “Antes da pandemia estávamos planejando fazer algo juntos. Honestamente, eu fiquei chocado a primeira vez que o vi tocar. Ele fez tantas coisas que nunca imaginei fazer. Ele tirou som de uma pequena piscina de água. Ele tocou água no palco e foi lindo”, relembra.

Das ruas para o mundo

Apesar de ter sido a primeira vez que o jazzista leva troféus do Grammy para casa, Jon Batiste já soma anos de carreira, um currículo ilustre e feitos que valem a pena conhecer.

Um dos fatos poucos difundidos nas mídias locais é o histórico recente de Jon Batiste nos protestos Black Lives Matter em Nova York. We Are, o projeto que fez a trilha sonora de grandes manifestações na cidade foi o mesmo que trouxe ao músico o mais esperado prêmio dos Grammys.

Foto: Ira L. Black/Corbis via Getty Images

Jonathan Michael Batiste nasceu no dia 11 de novembro de 1986, na cidade de Nova Orleans, em Louisiana. A família Batiste é uma das mais relevantes no cenário musical da cidade, com uma linhagem de músicos que ultrapassam gerações.

Em 2005, Jon juntou-se com outros amigos músicos e criaram a banda Stay Human, que passou a tocar regularmente em diversos lugares de Nova York, incluindo performances de rua que foram batizadas de “Love Riots”.

Eles faziam pequenos shows para passageiros de metrô. Seus projetos refletiam diretamente sobre o impacto influente que a música poderia ter na cultura da cidade.

“A música sempre foi uma maneira das pessoas suportarem dificuldades e descobrirem como realmente podem se conectar com a própria humanidade. Ou até mesmo perceber como tudo ao seu redor está tentando esmagar a sua humanidade”, disse ele ao New York Times.

Nos metrôs, Jon chamava sua música de “motins de amor”. Ele explicou: “O que aconteceu esta noite é o que chamamos de motim de amor… Há amor que se espalha entre todos através da música e é como um motim porque paramos a rua”, disse ao People, demonstrando um amor intenso pelas ruas de Nova York.

Conheça Jon Batiste, o ativista das ruas de NY que levou o maior prêmio do Grammy 2022