Relatório “Violência contra os povos indígenas no Brasil” irá apontar possível crime de genocídio contra povos indígenas durante governo Bolsonaro

Foto: Oliver Kornblihtt/Mídia NINJA

A antropóloga Lucia Helena Rangel, coordenadora do relatório anual “Violência contra os povos indígenas no Brasil” do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), concedeu uma entrevista chocante ao jornal O Globo, onde afirma que não tem dúvidas de que o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) pode ter cometido um crime de genocídio durante os quatro anos de sua gestão.

Segundo o relatório do Cimi, durante o mandato de Bolsonaro, quase 800 indígenas foram assassinados, e outras 3.552 crianças com até quatro anos morreram nas aldeias, principalmente devido à falta de assistência de saúde. As regiões mais afetadas foram Mato Grosso do Sul e Roraima, onde os guarani kaiowas e os yanomamis foram particularmente atingidos por ataques armados e a invasão de garimpeiros.

“Esse nosso relatório, dos quatro anos de mandato, vai reforçar as ações que já foram movidas pelo movimento indígena no Tribunal de Haia para enquadrar o ex-presidente como genocida. Essa é a nossa denúncia”, afirma a antropóloga.

Lucia Helena ressalta que em Mato Grosso do Sul a situação se assemelha nitidamente a um genocídio, com altos índices de mortalidade infantil, fome e falta de assistência, o que sugere uma ação proposital para dizimar a população guarani kaiowa.

Para a antropóloga, as ações do governo, como a não demarcação de terras indígenas e a liberação de áreas para exploração de recursos naturais e grilagem, têm caráter voluntário e contribuíram para a tragédia vivida pelos povos originários.

Quanto ao ex-presidente Bolsonaro, Lucia Helena lembra que ele sempre teve uma postura contrária aos povos indígenas e que durante seu governo os assassinatos aumentaram, muitas vezes cometidos pelas forças oficiais ou milícias de fazendeiros.

A pesquisadora acredita que a marca histórica da escravidão no Brasil contribui para o racismo e falta de consideração pelos povos indígenas, alimentando um ódio contra eles.

O relatório do Cimi, divulgado na quarta-feira (26), será utilizado como denúncia no Tribunal de Haia, buscando responsabilizar Bolsonaro pelas ações que levaram à violência e à morte de tantos indígenas. Por outro lado, a antropóloga se mostra esperançosa com o novo governo que criou o Ministério dos Povos Indígenas e a Fundação dos Povos Indígenas (Funai), mas alerta que ainda há muito a ser feito, principalmente na agilização das demarcações de terras indígenas para garantir a proteção e o respeito aos povos originários do Brasil.