No ano que vem passam a atuar nomes de luta e resistência, como Marina Silva, Guilherme Boulos, Sônia Guajajara e Celia Xakriabá

Além de nomes que historicamente se posicionam contra a bancada do boi, teremos também cientistas (Wilson Dias / Agência Brasil)

 

Ainda que a bancada de deputados federais comprometidos com o meio ambiente eleita seja 20% menor do que na atual legislatura, teremos nomes de peso militando pela agenda ambiental, como aponta levantamento do resultado das eleições, realizado pelo InfoAmazônia para o projeto PlenaMata.

Oitenta e um parlamentares “verdes” foram eleitos em 2 de outubro, o que representa pouco mais de 15% do total de cadeiras na Câmara dos Deputados. Nas eleições de 2018, a bancada passou a ter pelo menos 101 nomes. Dos 81 candidatos, 65 foram reeleitos.

No ano que vem, passam a atuar nomes muito importantes para o histórico de lutas e resistências, como a ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva (Rede), que venceu por São Paulo. Para fazer frente à bancada do boi, composta essencialmente por políticos da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), está também, Guilherme Boulos (PSol). De outro lado, a FPA saiu fortalecida, reelegendo 127 deputados, sem contar os novos membros.

Em 2022, o número de candidatos indígenas bateu recorde no Brasil, com 182 pleiteantes de diferentes partidos e correntes ideológicas, com destaque para as mulheres, que tiveram crescimento de 75% nos registros de candidaturas junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Nove conseguiram se eleger para diferentes cargos. Desse total, quatro formarão a nova bancada verde da Câmara Federal.

Outro destaque entre os eleitos, vai para Sônia Guajajara (Psol), que se tornou a primeira mulher indígena eleita deputada federal por São Paulo. Quem também fez história como a primeira mulher indígena eleita deputada federal por Minas Gerais foi Célia Xakriabá, do mesmo partido. Infelizmente, ao lado delas poderia estar Joênia Wapichana (Rede), de Roraima, mas ela não se reelegeu devido ao quociente eleitoral.

Os outros dois deputados federais autodeclarados indígenas e comprometidos com o meio ambiente são Paulo Guedes, reeleito por Minas Gerais, e a novata Juliana Cardoso, de São Paulo, ambos do PT.

A propósito, o PT foi o partido que mais elegeu representantes pró-meio ambiente, com 47 nomes, seguido pelo PSOL (10), PDT (8) e PCdoB (5). Completam a bancada deputados de outras seis legendas.

O filósofo e um dos fundadores do Instituto Socioambiental (ISA), Márcio Santilli, avaliou que é preciso avaliar o resultado destas eleições, do viés qualitativo e não quantitativo.

“Nós vamos ter, tanto pela direita quanto pela esquerda, expoentes importantes. De um lado, Marina Silva, responsável pela maior redução do desmatamento na Amazônia na história, durante sua gestão no governo Lula. Do outro, Ricardo Salles, o cara da boiada, que promoveu o desmonte das políticas ambientais até então existentes. Será um congresso mais polarizado e isso certamente aquecerá o debate em torno dessa agenda”, destaca.

A plural bancada do meio ambiente também conta com 11 representantes que apoiam a ciência e a educação, que inclusive, assinaram, durante a campanha, dois manifestos propostos pelo grupo Cientistas Engajados, que luta contra o “obscurantismo” e pela inclusão do conhecimento científico na formulação de projetos de lei, entre eles os ambientais.

Integrarão a bancada da ciência os deputados Rubens Otoni , Erika Kokay, Ana Pimentel, Enio Verri, Tadeu Veneri, Zeca Dirceu, Fernando Mineiro, Maria do Rosário, Paulo Pimenta, Pedro Uczai (todos do PT) e Alice Portugal (PCdoB).

Além disso, foram eleitas oito lideranças afrodescendentes comprometidas com a agenda da Coalizão Negra Por Direitos, autora da iniciativa Quilombo nos Parlamentos. A ideia é aumentar a representatividade negra nas casas legislativas e viabilizar políticas públicas em prol das comunidades quilombolas.

Foram eleitos com o apoio da iniciativa os deputados federais petistas Valmir Assunção, Dandara Tonantzin, Benedita da Silva, Carol Dartora e Denise Pessôa, além de Henrique Vieira, Taliria Petrone e Erika Hilton, do PSOL.

Santilli realça que será necessário resistir bravamente, dado o aumento da representação parlamentar das frentes de exploração predatória que atuam na Amazônia. “Não custa lembrar que Bolsonaro teve a maioria de votos na parte da Amazônia que é compreendida pelo arco do desmatamento, além de Roraima. A representação desses setores predatórios, que se fortaleceu, será um obstáculo a ser vencido para a implementação de políticas para o desenvolvimento sustentável da região no próximo mandato”.