Durante a Conferência, foram convidados a compor debates com grupos internacionais, mas há pouca abertura com governantes brasileiros

Txai Suruí é uma das jovens protagonistas do movimento indígena no Brasil (Mídia Ninja)

 

Por Rebecca Lorenzetti, da cobertura colaborativa NINJA na COP27       

Na opinião de Txai Suruí, a falta de diálogo político com os povos indígenas precisa ser sanada. A situação se agravou, acentuadamente, nos últimos quatro anos, em que os originários sofreram sucessivas tentativas de apagamento de sua história e cultura. Neste momento, Txai, ao lado de outras lideranças indígenas , está presente na 27ª Conferência Mundial do Clima (COP27). 

Ainda que estejam ocupando o mesmo espaço, há pouca abertura para diálogo com políticos do Brasil, como destaca a jovem de Rondônia, justamente, porque eles nunca estão disponíveis. Segundo ela, se não há conversa durante a conferência, imagina dentro dos territórios! 

“A delegação oficial do Brasil trouxe primeiras-damas, esposas de secretários, trouxe até a JBS para falar no estande oficial do país, enquanto nós não fomos chamados. Quando vamos trazer [à COP] nossas verdadeiras representações?”, questionou Txai.

Durante a conferência, as lideranças indígenas têm sido convidadas a compor debates com grupos internacionais, compondo mesas e painéis porque há um movimento mundial que valoriza a escuta das populações indígenas. De gente que se abre à colaboração de quem detêm conhecimento ancestral, de maneira integrada. Querem ouvir os povos originários sobre suas iniciativas relacionadas à preservação ambiental, como por exemplo, o investimento em compensações de carbono através de reflorestamento. 

As representações indígenas são de extrema importância na discussão climática por possuírem por direito um território de florestas importante no combate ao aquecimento global e por serem amplamente afetados pelos impactos ambientais negativos.

Txai reforça ainda, que enquanto políticos brasileiros discutem investimentos em preservação ambiental na COP-27, ignoram a violência que é enfrentada pelos povos indígenas por exemplo, na resistência contra as invasões aos seus territórios.

A deputado federal Joenia Wapichana (Rede-RR), que também está presente na COP27 reforçou com relato de violência brutal sofrida por uma família Yanomami. “Houve um ataque em Roraima; mataram uma mulher, feriram um homem e deixaram um bebê sozinho, sem os pais”, denunciou.

Para evitar tristes episódios, é preciso que estejam inseridos nos processos de decisão e políticas públicas dentro dos Estados. Atualmente, a maior parte dos governadores dos estados brasileiros não dialoga com os povos e continua permitindo ações violentas contra os indivíduos e contra o território, sem mobilizar a devida fiscalização.