Foto: Divulgação / Turma OK

Por Kaio Phelipe

Com a fundação no dia 13 de janeiro de 1961, imediatamente anterior à ditadura militar, a Turma OK se firma como a mais antiga sociedade civil sem fins lucrativos de sociabilização LGBTQIA+ em atividade no Brasil e no mundo. As atividades foram iniciadas dentro dos apartamentos de seus frequentadores, no Rio de Janeiro, cada final de semana em um endereço diferente, com um único intuito: fazer cultura através do transformismo.

“Naquela época não podia haver barulho, sob o risco de denúncia por parte dos vizinhos, então quando um show terminava, estalávamos os dedos como forma de aplausos”, explica Amâncio Cezar, atual presidente  da Turma OK e criador da transformista Elaine Parker.

Seus fundadores não estão mais presentes e diante de um sistema que se propõe apagar e negar as memórias do movimento LGBTQIA+, algumas informações acabam sendo perdidas. Sobre a escolha do nome do grupo, Cezar aponta: “Não sabemos ao certo, mas OK vem de afirmação, né? Então é como quem diz: estou aqui! E esse discurso se encaixa até hoje”.

Corpos dissidentes de sexualidade e gênero foram alguns dos alvos de militares durante a ditadura, sofrendo torturas ainda mais agressivas durante o período compreendido entre 1964 e 1985.

“A gente não sofreu tanta represália. Travestis e transformistas que trabalhavam em teatros ou na rua foram mais perseguidas. Como nossos shows aconteciam dentro de casa, em segredo, as pessoas podiam se produzir lá”, conta.

A primeira sede da Turma OK foi na Rua do Resende, número 43, na Lapa. Depois foram para o número 42, da mesma rua, e passaram também pela Rua do Senado, até chegarem ao atual endereço, na Rua dos Inválidos, 39.

O espaço do clube até hoje é alugado. O grupo já solicitou requerimento por diversas vezes, sempre indeferido por parte da prefeitura, do governo do estado e do governo federal.

“Esse é um fator muito difícil para nós. Lutamos para pagar o aluguel, a luz. Nossa verba vem, principalmente, dos sócios que pagam uma mensalidade simbólica no valor de R$60. Quem não é associado, paga uma portaria no valor de R$20 e também temos os valores de consumo do bar”.

61 anos após a fundação, a essência da Turma OK continua a mesma. “A nossa luta é pelo palco e pela sociabilização”, afirma Cezar. Além da programação normal proposta, que acontece sempre às quintas, sábados e domingos, o grupo realiza inúmeros concursos, como Musa OK, Lady OK, Mister OK, Rainha da Primavera, Rei do Carnaval, dentre outros.

Grandes estrelas da noite do Rio de Janeiro, como Lorna Washington, Luiza Gasparelly, Luana Muniz e Eric Barreto, já passaram e passam pelo palco Theca de Castro, nome escolhido em homenagem à saudosa diretora responsável pelo departamento feminino do coletivo.

“A Turma OK está de portas abertas para qualquer pessoa que queira exibir sua arte, seja a música, o teatro, a dublagem. Todos aqui são bem vindos! Procurem a gente!”, finaliza Cezar.