Perícia aponta que Ibaneis não realizou medidas para aumentar efetivo de policiais. Alertas foram emitidos desde o dia 7

Foto: Agência Brasil

O governador afastado do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), preferiu minimizar as ameaças de ataques em Brasília um dia antes dos atos golpistas de 8 de janeiro, mesmo após alertas de setores de inteligência do Ministério da Justiça, com informes de crescimento de mobilização no acampamento em frente ao Quartel-General do Exército, em Brasília.

“Já estamos mobilizados. Não teremos problemas”, escreveu Ibaneis para Rodrigo Pacheco, presidente do Senado, que havia recebido alertas da polícia legislativa sobre uma possível invasão no Congresso Nacional.

Neste dia, Ibaneis recebeu uma ligação de Anderson Torres, então secretário de Segurança do Distrito Federal, à 13h42 do dia anterior aos atos golpistas. Em seguida, Torres envia ao governador o contato de Fernando Sousa, então secretário executivo da pasta.

O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, chegou a questionar o governador sobre a posição dos pontos de bloqueios, para proteger o acesso aos prédios que compõem os três poderes, o Supremo Tribunal Federal, o Palácio do Planalto e o Congresso Nacional.

“Está tudo tranquilo”, disse Ibaneis.

No dia dos atos golpistas, em 8 de janeiro, o governador recebeu a ligação do então secretário executivo com informes sobre a chegada de vários ônibus no acampamento bolsonarista.

Por volta das 16h25, Ibaneis é cobrado pela presidente do STF, a ministra Rosa Weber, para impedir que os golpistas invadissem o prédio do supremo.

“Eles entraram no Congresso”, afirmou Rosa Weber.

“O secretário de Segurança do DF está de férias, por isso o contato direto com o senhor!”, escreve a presidente do STF.

A investigação judicial busca identificar a responsabilidade de agentes públicos e autoridades militares no envolvimento, ou omissão, com os atos antidemocráticos. Em seu relatório, o interventor Ricardo Capelli afirmou que houve falhas operacional dos comandantes das forças de segurança do DF.

O relatório aponta a conivência de militares para a manutenção do acampamento bolsonaristas em frente ao QG do Exército, em Brasília.

Ibaneis foi afastado do cargo pelo ministro Alexandre de Moraes por 90 dias.

Em sua decisão, Moraes indicou aparente conivência de Ibaneis Rocha, cujo governo era responsável por garantir a segurança dos prédios públicos de Brasília, mas que não montou esquema de segurança especial, mesmo tendo conhecimento de que atos violentos estariam sendo planejados.

O ministro escreveu que Ibaneis “não só deu declarações públicas defendendo uma falsa ‘livre manifestação política em Brasília’ – mesmo sabedor, por todas as redes, que ataques às instituições e seus membros seriam realizados – como também ignorou todos os apelos das autoridades para a realização de um plano de segurança”. Ele se referiu a pedidos do governo federal pela proteção de prédios públicos e interdição do acesso à Esplanada dos Ministérios, que foram ignorados pelo governo do DF.

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