Teresina foi palco de mais um crime brutal envolvendo violência contra pessoas trans e travestis. Paloma Amaral, de 34 anos, que há três meses encontrava-se na Casa do Caminho, um abrigo para pessoas em situação de rua no Centro da cidade, foi espancada até a morte no último domingo (17) com pauladas na cabeça.

Paloma, que já havia sido vítima de violência há dois anos, quando foi torturada e deixada no porta-malas de um carro, estava em acompanhamento psicológico e passava por mudança de nome social. O crime chocou pela sua crueldade e é considerado o terceiro caso registrado de transfobia apenas no último mês na região, conforme informações apuradas pelo Cidadeverde.com.

A vítima, que havia prometido deixar as drogas após a morte da mãe, estava sóbria, de acordo com relatos de Marinalva Santana, do grupo Matizes, que afirmou ter ajudado Paloma com roupas e atendimento odontológico. Marinalva alega que o crime é mais um episódio de ódio contra a comunidade LGBTQIAPN+, destacando que o assassino não se contentou apenas em tirar a vida de Paloma, mas o fez de maneira brutal e cruel.

O Conselho Municipal de Direitos Humanos informou que Paloma recebia acompanhamento psicológico e estava em processo de alteração do nome social. O Conselho também se manifestou, garantindo apoio à família e exigindo uma investigação rigorosa do crime.

Maria Lucia Oliveira, mãe de santo e integrante do Conselho de Direitos Humanos, afirma que Paloma pediu diversas vezes por ajuda. “Estou com uma sensação de impotência, pois ela pediu ajuda. A gente não deve silenciar”.

Levantamento

Levantamento realizado pela Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA) revela que, em 2022, 131 pessoas trans foram assassinadas no Brasil. Outras 20 tiraram a própria vida diante da discriminação e do preconceito presentes na sociedade brasileira. Os dados constam no “Dossiê: Assassinatos e violências contra travestis e transexuais brasileiras”.

Do total de 151 pessoas trans mortas em 2022, 65% dos casos foram motivados por crimes de ódio, com requinte de crueldade. 72% dos suspeitos não tinham vínculo com a vítima. De acordo com o relatório, a identidade de gênero é um fator determinante para essa violência.

Para o ministro Silvio de Almeida, apesar da tristeza estampada nas páginas do relatório, a existência do documento aponta para caminhos que levarão o Brasil a superar a tragédia dos números a partir da mudança e da transformação. “Quando falamos sobre gênero e sexualidade, somos acusados de sermos identitários. Pergunto a essas pessoas se é possível construir um país com os números que vemos agora”, provoca.

“É possível construir um país suportando o assassinato de pessoas só porque elas são o que elas são? Se não tivermos a decência de mudar essa realidade, não mereceremos ser um país”, reconhece.