Por Rodrigo Cunha dos Reis

Christopher Nolan já está entre os cinéfilos há algum tempo. Após sua trilogia Batman, criou-se um fã-clube cujo lema “In Nolan we trust” (Em Nolan nós confiamos) era fiel defensor de que o realizador jamais poderia errar com sua particular estética para arrasa-quarteirões. Técnico e frio, não há grandes hiatos em sua filmografia, e o inglês jamais ficou na geladeira em Hollywood. Sobre suas personagens femininas, no entanto, não se pode afirmar o mesmo.

A “mulher no refrigerador” (contribuição da escritora Gail Simone) é o termo utilizado para uma personagem feminina que sempre morre na história para motivar protagonistas masculinos. Esse recurso, utilizado à exaustão pelo diretor, passou a ser apontado como problemático em sua filmografia. Dessa vez, ele é acusado pelo tratamento dado à pobre moça vivida por Florence Pugh nesse novo filme, “Oppenheimer”. Mas a lista não para por aí: Jorja Fox (assassinada em “Amnésia”), Piper Perabo (afogada em “O Grande Truque”), Maggie Gyllenhaal (explodida em “Cavaleiro das Trevas”) e Marion Cotillard, sua musa-morte (duas vezes, em “Batman” e “A Origem”). Até em “Insônia”, um feminicídio é o que move a história.

Esse questionamento cresceu nos últimos anos, muito pelo fato de que hoje, urge a necessidade de personagens femininas que não estejam ali somente para satisfazer demandas ou não tenham um arco próprio. Esse problema, recorrente na literatura, evidencia o olhar patriarcal e reducionista que temos sobre o papel da mulher, não só na sociedade, mas também a visão de como muitas vezes só as enxergamos quando estas possuem um propósito voltado para nossa própria existência.

Aponta essa problemática, o Teste de Bechdel, criado pela quadrinista Alison Bechdel, inspirado no trabalho de Virginia Woolf. A regra é simples: na história, precisam haver duas mulheres conversando sobre algo que não seja um homem. Parece bobagem, mas sua aplicação tem sido cada vez mais necessária. No mundo em que há cada vez mais mulheres na indústria e crítica cinematográfica, o cinema de Nolan e suas mulheres refrigeradas passam cada vez mais despercebidos sob olhos atentos.

Texto produzido em cobertura colaborativa da Cine NINJA – Especial Oscar 2024