Foto: Reprodução / Google Maps

Por Renata Renovato Martins

Em pleno cenário de emergência climática, moradores da região e cidadãos de Belo Horizonte se depararam com uma notícia chocante. 465 árvores estão listadas para morrer em breve, podendo causar a morte e desalojar centenas de animais silvestres, numa área localizada no bairro Jardim América, em Belo Horizonte. O local é uma das últimas áreas verdes entre 10 bairros da capital mineira.

Há 13 anos moradores da região já haviam iniciado um movimento pela preservação da mata que hoje é, segundo o Plano Diretor da cidade, uma Área de Preservação Ambiental (PA1), por conter grande diversidade de árvores – algumas centenárias -, por ser um rico ecossistema, onde habitam centenas de animais silvestres, um deles de espécie avistada pela primeira vez na cidade, o pássaro caneleiro. Mesmo após a luta e um processo de ação civil pública, houve um acordo em 2019 e o licenciamento para a construção de duas ou três torres de 12 andares no local seguiu.

Outros moradores, ao descobrirem sobre esse processo de licenciamento – que hoje já autoriza 4 grandes edificações de até 17 andares – e número de 465 árvores listadas para morrer, criaram o SOS Mata do Jardim América. O novo movimento é contrário à construção e demonstra uma verdadeira união de forças para proteger integralmente a área. Conta com o apoio de mais de 60 coletivos, ambientalistas, associações, parlamentares, advogados, arquitetos, urbanistas, artistas e moradores. Um abaixo-assinado aberto já reúne quase 12 mil assinaturas ( www.change.org/sosmatadojardimamerica ).

A advogada, arquiteta e urbanista, Marimar Poblet, questiona que os trâmites finais do acordo, que feito a portas fechadas e possui cláusulas que devem ser questionadas.

O morador da região, Flávio Moreno, do Coletivo Vozes Maria, fala sobre a importância da participação da população neste processo. Ele avalia que este massacre vai afetar a vida de todos e por isso não deveria ser decidido entre quatro paredes.

Vídeo: Felipe Gomes

O movimento protocolou também junto ao Ministério Público um manifesto pedindo a anulação do acordo e da licença ora concedida, para que haja a ampla participação da sociedade e a devida preservação da área, transformando em um parque ecológico digno e seguro para todos.

A deputada federal e ambientalista, Duda Salabert, se juntou a luta e além de ter sua assinatura no manifesto, protocolou dois requerimentos junto à Comissão de Meio Ambiente, Defesa dos Animais e Política Urbana, da Câmara de Vereadores, um endereçado à Secretaria Municipal de Meio Ambiente e outro à Promotoria de Justiça de Habitação e Urbanismo de Belo Horizonte, com questionamentos sobre o processo.

A Mata do Jardim América, é uma das últimas áreas verdes que restam, entre 10 bairros: Jardim América, Gutierrez, Nova Suíça, Nova Granada, Calafate, Prado, Barroca, Alto Barroca, Salgado Filho e Grajaú. E nesta região o nível de área verde por habitante não cumpre o mínimo recomendado pela OMS. O desmatamento estaria iria de encontro às políticas públicas propagadas e os acordos internacionais.

O Manifesto pondera que “diante do cenário de emergência climática e catástrofes com enchentes se tornando cada vez mais comuns, tirando vidas e com grande impacto econômico, esta área possui importância crucial para a manutenção da vida de todos os moradores da cidade, e respeitá-la é vital para a garantia dos direitos de todos os seus cidadãos”.

Além disso, especialistas chamam a atenção para o fato de que a “compensação ambiental” com o plantio de mudas, em áreas até então desconhecidas, não resolveria o problema. “Nem se fossem 15 mil mudas compensaria. Estas árvores são muito antigas, ajudam a filtrar a poluição, melhoram a qualidade e a temperatura do ar e ajudam na absorção das águas das chuvas”, destaca o idealizador do Protejo Pomar BH, Antônio Lages. Segundo ele, o local deveria ser um parque ecológico, área de convivência, educação ambiental e preservação.

O ambientalista e fundador do projeto Manuelzão, Apolo Heringer, explica ainda que o plantio de árvores, neste caso, não compensaria as perdas causadas por essa destruição.

“Sabemos que plantios são atos importantes para o futuro e um gesto de educação ambiental, mas esse tipo de ‘compensação’ jamais vai refazer uma área tão expressiva como esta, que tem árvores centenárias e de grande porte. A existência delas é muito importante pra cidade e para os animais que passam e habitam esse refúgio verde. Mudas pequenas não conseguem contribuir da mesma forma com o microclima e não servem de abrigo e alimento para os animais, que agora estão em risco”.