Por Noé Pires

Nascida nas movimentadas ruas de São João de Meriti, Isa Graça (@gracinhais), teve seu coração embalado pelo calor de Natal, no Rio Grande do Norte, onde floresceu sua jornada singular. Em um universo de contrastes, sendo a única pérola negra em meio a pais brancos, encontrou refúgio nos acordes da música para acalentar a solidão que lhe era companheira desde cedo.

Aos 13 anos, um presente celestial em forma de violão lhe foi concedido por um generoso tio, desencadeando assim o despertar de seu talento musical. As primeiras notas ecoaram na banda espírita do círculo religioso familiar, onde suas composições ganharam vida e ecoam até os dias atuais, embalando corações e almas.

Da esfera sagrada ao profano, em 2017, ergueu-se a banda Demonia com as almas rebeldes de Karla Farias, Karina Moritzen, Nanda Fagundes e Quel Soares. Juntas, desafiaram convenções com o punk rock feminista e ousaram adentrar o estúdio Costella para dar luz ao EP “Achei Que Era Homem Mas É Só o Satanás”, lançado pelas mãos talentosas do selo paulista Flecha Discos, em 2019.

Em paralelo, ecoava sua voz na ARDU, uma fusão tropical de chillwave sediada em Natal, culminando no lançamento do álbum “Solto ou Guia da Cidade Invisível”, expandindo assim suas fronteiras musicais.

Determinada a trilhar sua jornada afrodiaspórica e revelar-se ao mundo sob uma nova luz, abraçou o nome artístico de Gracinha. Em seu mais recente single “Cuentame”, Gracinha mergulha nas profundezas da ausência que se esgueira pela presença, um eco doloroso de sentimentos fugidios que habitam o âmago feminino negro.

Com o aguardado álbum de estreia previsto para o primeiro semestre de 2024 sob a batuta musical de Ian Medeiros e o selo da Incubadora Dosol, Gracinha prepara-se para compartilhar sua essência crua e autêntica com o mundo. Cada acorde é um testemunho íntimo de sua jornada como mulher negra e lésbica, uma ode à solidão e ao sentimento de preterimento que permeiam sua trajetória.

Gracinha não é apenas um nome artístico; é a personificação da alma inquieta e criativa de Isa Graça. Com uma sonoridade que transcende os limites do psicodélico, dream pop e indie pop, suas canções são pinceladas vibrantes de sua vivência singular.

Desde os primeiros acordes ensaiados em maio de 2022 até a aclamação do público no esgotado show de estreia em outubro do mesmo ano, Gracinha tem conquistado palcos e corações. Sua presença marcante já iluminou festivais renomados como Festival MADA, Festival DoSol, Pôr do Som e Eco Praça, consolidando seu lugar como uma força musical a ser reconhecida.

Acompanhada por uma banda formada por talentos como Rodolfo Almeida, João Victor Moura, Mateus Tinoco e Pedro Lucas, Gracinha não só canta e compõe; ela transmite sua essência através do baixo e da guitarra, entrelaçando-se em perfeita harmonia com cada nota.

Em meio às melodias que ecoam sua verdade interior, Gracinha tece um fio invisível que une passado e presente em um abraço sonoro. Sua música não é apenas som; é a expressão pura da alma feminina negra que anseia por cura e libertação.