Por Lopo, Coordenador geral do DCE UFMG e militante da Unidade Popular

Marielle é revolucionária! Marielle é o futuro que sonhamos. Marielle É porque sua luta não foi interrompida. Obrigado, Mari. A Semana Marielle Franco é a nossa maior homenagem nesse triste 1 ano de saudades e luta.

O desafio que é fazer uma Semana Marielle

Foi em janeiro quando decidimos fazer a Semana Marielle Franco na UFMG. Era um desafio para o Diretório Central dos Estudantes conseguir fazer uma programação que pudesse contemplar a potência e a força que Marielle representa. Para isso foi preciso unir o movimento negro da UFMG, Centros e Diretórios Acadêmicos, os Sindicatos de Professores e Técnicos e também setores institucionais da UFMG ligadas as ações afirmativas.

Março chegou. Junto com ele o Carnaval, o Dia Internacional das Mulheres no dia 08. Logo depois a Semana Marielle com a certeza que as pautas necessitavam ser abordadas em um olhar interseccional: classe; raça e gênero. Tudo estava acontecendo ao mesmo tempo. A correria era para confirmações de convidadas, as passagens, a divulgação. Tudo pronto.

Para a Semana Marielle mobilizamos convidadas e convidados de Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo e outros vários estados. Conseguimos montar uma grade que contemplou vários temas dos debates e lutas da negritude. Conseguimos ainda promover uma interlocução com a cultura através da poesia e do rap.

Debate sobre “Negras e Negros na Universidade: entrar e permanecer” com participação de Nilma Lino Gomes — Ex-Ministra da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos Foto: Mídia NINJA

Negras e negros da universidade

Uma das principais preocupações da Semana Marielle Franco foi conseguir debater a atual situação das pessoas negras na universidade. A política de cotas junto às políticas de ações afirmativas transformara o perfil universitário nos últimos anos. Com uma maior parcela de estudantes negros e pobres, os desafios para uma política de permanência aumenta e se transforma.

A permanência de estudantes negros na universidade passa pela auto-organização desses estudantes através de coletivos, movimentos, entidades estudantis que pautem e lutem. Por exemplo, nos últimos anos na UFMG, o Centro de Convivência Negra e o Coletivo de Combate às Fraudes nas Cotas raciais.

O racismo estrutural e as violências policiais

A sociedade brasileira vive muitos desafios para superar o racismo histórico e estrutural. Muito foi feito e muito ainda falta para uma emancipação e libertação do povo negro de uma cadeia de opressão, exclusão e violência. Prova disso é o assassinato de Marielle, uma mulher negra, favelada, bissexual e que ousou se levantar contra os poderosos. Foi assassinada como um recado de uma elite que não aceita e quer interromper as formas de luta antirracistas.

Assim como Marielle, lembramos da Cláudia Silva Ferreira que foi assassinada pela Polícia e arrastada pela viatura à luz do dia no Rio de Janeiro. Tão pouco esquecemos das milhares de pessoas negras, pobres e faveladas que são vitimas de um processo de encarceramento em massa e genocídio. Essa são contradições de um racismo estrutural extremamente violento que desumaniza grande parcela da população brasileira (a população negra) e a destitui das condições de sujeito e direito.

Debate “ Elemento suspeito ou sujeito de respeito?: Seletividade do sistema de justiça” com a participação do Movimento de Luta nos Bairros Vilas e Favelas Foto: Mídia NINJA

14 de Março, Marielle Presente!

A programação da Semana Marielle tinha o objetivo de mobilizar as pessoas para lutarem contra os retrocessos e pela memória de Marielle. Nesse sentido, conseguimos no dia 14 de março organizar um bonde de estudantes da UFMG para participar do ato unificado em homenagem a Marielle que aconteceu em Belo Horizonte. É muito importante que nossos debates e reflexões nos levem para a ação combativa, rebelde e transformadora.

Bonde de Estudantes da UFMG na concentração pré-ato do dia 14 de março. Marielle Presente! Foto: Mídia NINJA

Desafios para o futuro: uma luta anti-racista, interseccional e contra o capitalismo

Marielle virou um símbolo. Virou uma luta mundial de quem não aceita um Estado racista. É simbolo da luta de milhões contra uma pequena elite que se acha dona do mundo. É a resistência ao fascismo e ao retrocesso nas liberdades democráticas.

A ultima mesa de debates da Semana debateu os erros, acertos e desafios da esquerda brasileira. Entre os desafios, o principal apontado pelo debate foi a importância de avançar as lutas no sentido anti-racista e contra o capitalismo. As opressões contra mulheres, negras e negros, LGBTs andam ao lado da exploração da classe trabalhadora e do povo pobre. Portanto, uma luta pela libertação do povo negro passa pela luta da libertação do povo como um todo uma vez que capitalismo e racismo dependem um do outro.

Foto: Mídia NINJA

Por mais Semanas Marielle Franco

A Semana Marielle Franco foi um desafio para o DCE UFMG e foi um marco para a história da UFMG. Assim como na Universidade Federal de Minas Gerais, algumas entidades pelo país organizaram Semanas Marielle Franco em seus territórios. No entanto, essa iniciativa pode ser ainda maior e mais coordenada nacionalmente para que mais universidades realizem essa homenagem e espaço para debates tão importante para a juventude e para o nosso país..