Indígenas Wai Wai durante a coleta da castanha em Roraima. Foto: Robson Moreira/Rede Amazônica RR

Com informações do Portal Amazônia e G1 Roraima

Localizadas em São João da Baliza, região Sul de Roraima, as Terras Indígenas Wai Wai e Trombetas Mapuerado dão o exemplo de extrativismo sustentável. Sem derrubar uma árvore, dezenas de famílias do povo Wai Wai, colhem os ouriços que caem das castanheiras e comercializam para diferentes regiões do Brasil. Esse ouriço é um fruto de formato esférico, com 11 a 14 cm de diâmetro, com peso variável entre 700 e 1.500 grs. Dentro de cada um deles pode conter de 11 a 22 amêndoas ou castanhas graúdas.

Depois de colher os frutos do chão, ali mesmo, no meio da floresta, os indígenas quebram os ouriços, retiram as castanhas e as embalam em sacos de fibra para o transporte de volta à comunidade. Chegando lá, os frutos são armazenados em galpões e em seguida embalados. Finalizado esse processo, é chegada a hora de comercializar os frutos, etapa que também é protagonizada pelos próprios indígenas, por meio de três associações: Associação dos Povos Indígenas Wai Wai (APIW), Associação do Povo Indígena Wai Wai Xaary (APIWX) e Associação Indígena Wai Wai da Amazônia (AIWA).

Varanda na aldeia Jatapuzinho, Terra Indígena Trombetas-Mapuera, forrada de castanhas para secagem antes da comercialização. Foto: Rogério Assis/ISA

O protagonismo dos indígenas na comercialização das castanhas faz com que não seja necessária a presença de atravessadores, que até um passado recente compravam o fruto com um preço menor e repassavam para empresas interessadas com um valor muito maior. Além disso, a não necessidade de atravessadores garante maior autonomia e lucro para os Wai Wai.  Agora, os indígenas podem firmar contratos direto com as empresas e até emitir nota fiscal.

Inicialmente, para que os indígenas começassem a comercializar o próprio trabalho, houve orientação da Fundação Nacional do Índio (Funai) e, atualmente, esse trabalho é feito pelo Instituto Socioambiental, que busca orientá-los acerca do mercado comercial. De acordo com o Instituto Socioambiental (ISA), em 2020, 65 toneladas de castanhas foram comercializadas pelos Wai Wai, por meio de contratos que chegaram a R$ 300 mil. No ano passado, houve uma baixa na produção motivada pelo clima atípico e o fenômeno La Ñina. Mas, em 2022, previsão é que 200 toneladas de castanhas sejam vendidas.

O trabalho da colheita das castanha é realizado entre os meses de abril e agosto, período de chuvas na região e envolve homens, mulheres e crianças. Na comunidade Xaary, são 140 indígenas associados. Na comunidade Anauá, na mesma região, a venda da castanha envolve 318 pessoas.

Para os indígenas Wai Wai, a castanha representa não apenas a cultura preservada ao longo de anos, mas também simboliza sustento, recomeço diário e esperança de dias melhores.