Foto: Bettman/Corbis

Situações como as da série “Olhos que Condenam”, da Netflix, que narra a triste história, baseada em fatos reais, de 5 jovens negros de Nova York, que foram acusados de estuprar uma mulher branca, dentro do Central Park, infelizmente, acontecem ha muitas décadas.

Assim como este, casos de racismo em âmbito judiciário eram muito mais comuns na década de 30. No Alabama, sul dos EUA, punir negros era uma ótima oportunidade para o Estado mostar o seu rigor, e assim foi no caso dos Scottsboro Boys.

Em março de 1931, Olen Montgomery (17), Clarence Norris (19), Haywood Patterson (18), Ozie Powell (16), Willie Roberson (16), Charlie Weems (16), Eugene Williams (13), e os irmãos Andy (19) e Roy Wright (12), ao viajarem em um trem de carga entre Chattanooga e Memphis, tiveram uma discussão com 2 jovens brancos que os denunciaram por agressões, e logo após 2 mulheres brancas os acusaram por estupro. Mesmo sem nenhuma evidencia de crime sexual, os jovens foram presos.

O caso foi ouvido pela primeira vez em Scottsboro, Alabama. Todos os envolvidos, exceto um adolescente de doze anos de idade, Roy Wright, foram condenados por estupro e sentenciados à forca. A gravidade da sentença e proporção tomada pelo caso chamou a atenção de outros estados e pela Associação Nacional para o Progresso de Pessoas de Cor, junto ao partido Comunista dos Estados Unidos, uniram forças e conseguiram, provisoriamente, suspender o julgamento e leva-lo para a Suprema Corte.

O tribunal superior observou muitas irregularidades e anulou todos os julgamentos, encaminhando o caso para primeira instância, no qual mais três julgamentos foram realizados. Em um deles, uma das vítimas assumiu que inventou toda a história apenas para que eles fossem retirados do trem, mesmo assim oito dos 9 negros foram novamente condenados.

Foram mais de 10 anos até o caso ser solucionado. Em 1937 as acusações de quatro dos jovens foram retiradas. Aos demais, as sentenças variaram entre 75 anos e a pena de morte. Um deles foi morto na penitenciaria. Dois conseguiram escapar mas foram recapturados e acusados de outros crimes e mandados de volta para a prisão. Clarence Norris foi o único condenado à morte, escapou da cadeia e viveu escondido até 1946, quando foi perdoado pelo governador do Estado. Que também se desculpou publicamente pelo erro judiciário, que comprovou a forte inclinação racista da justiça e sociedade norte-americana.