O professor Luiz Cruz caminhava no alto da Serra de São José, quando soube de um leilão que ameaçava o santuário ecológico

Foto: Arquivo Pessoal

Por Cley Medeiros

Foi após uma caminhada no alto da serra de um ambientalista que um leilão de um terreno de quase 10 hectares localizado dentro de uma Área de Preservação Ambiental (APA), situada na bela Serra de São José que envolve a cidade de Tiradentes, na região do Campo das Vertentes em Minas Gerais, foi suspenso pela Justiça.

O professor, historiador e ambientalista Luiz Cruz foi quem decidiu acionar a prefeitura de Tiradentes para intervir, após descobrir a data do leilão em uma conversa informal. Nem a prefeitura, nem os órgãos locais de meio ambiente tinham conhecimento do leilão.

Essa área é conhecida por suas cachoeiras, represas e rica fauna silvestre. O leilão, agendado para ocorrer na última segunda-feira (22) a pedido do Instituto Estadual de Florestas (IEF), recebeu propostas de aproximadamente R$ 120 mil de uma mineradora e de empresas interessadas em construir resorts e hotéis no local.

A Prefeitura de Tiradentes agiu prontamente e conseguiu obter uma ordem judicial para impedir a venda do terreno.

Segundo o professor Cruz, a região conhecida como “Mangue” foi adquirida há anos pela Sociedade Amigos de Tiradentes (SAT); no entanto, em 2009, um incêndio devastador atingiu a área, resultando em uma multa aplicada pelo IEF à entidade e uma denúncia do Ministério Público (MPMG).

O Governo de Minas e a Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) não deram explicações sobre por que o IEF autorizou o leilão de um terreno situado em uma Área de Preservação Ambiental.

Construção de um parque

“Estamos agendando uma reunião com a secretaria do Meio Ambiente. Vamos propor a criação de um parque. Isso pode acontecer por meio de uma desapropriação, ou o perdão da dívida e um convênio para criação do parque municipal. As conversas estão sendo muito positivas”, afirmou o secretário de governo Rogério de Almeida, com otimismo, para a NINJA.

Foto: Arquivo Pessoal

O deputado federal Reginaldo Lopes também está mobilizado pela preservação da área e propôs, no Congresso Nacional, o Projeto de Lei 2775/2023 que visa a criação do Parque Nacional Serra De São José, no Estado de Minas Gerais com finalidade proteger os ecossistemas da Serra de São José, bem como os ambientes de topos de morros, áreas vegetadas, cachoeiras, reservas abaixo do solo, biomas do Cerrado e Mata Atlântica, espécies endêmicas, tal como o Lobo-guará, bem como grande parte da memória histórica e cultural da região.

Segundo o projeto, a administração do parque será feita pelo poder público federal e disporá de um Conselho Consultivo, presidido pelo representante do poder público federal, representantes da Secretaria de Meio Ambiente do Estado de Minas Gerais, das prefeituras de São João del Rei, Tiradentes, Prados e Santa Cruz de Minas, além de organizações não-governamentais que desenvolvam atividade na região e da comunidade científica ligada a preservação do meio ambiente.

Mobilização local

No próximo domingo (28), ambientalistas e a população da região vão às ruas pela preservação da área ambiental. O Movimento SOS MANGUE (PARTE DA SERRA DE SÃO JOSÉ), repudiou os planos de leiloar a Cachoeira do Mangue para uma iniciativa privada, com o objetivo de transformá-la em uma pedreira.

“Será o momento de nós, que somos ambientalistas, que lutamos pela preservação, que lutamos pelas questões ambientais, estarmos juntos manifestando o desejo que a serra seja preservada. O MANGUE é meu, é seu, é nosso e precisa ser preservado“, afirmou o professor Luiz para a NINJA.

“A nossa Serra desde a década de 80 é visada por mineradoras, o Sr. Jonh Parsons, criador da SAT, foi um visionário na época, já prevendo esse interesse e criando a SAT. Nesse momento, o melhor seria o tombamento Federal da Serra de São José”, avalia a moradora Mariana Cavalcanti.

Confira na íntegra o convite para a mobilização em defesa da Serra de São José:

“A Cachoeira do Mangue é um patrimônio natural de valor inestimável. Sua beleza cênica, suas águas cristalinas e sua biodiversidade exuberante são fontes de encantamento e um refúgio para a fauna e a flora locais. Entendemos que a preservação desse tesouro é de responsabilidade coletiva e um compromisso inegociável com as gerações presentes e futuras.

Diante disso, solicitamos veementemente que as autoridades competentes intervenham e tomem as medidas necessárias para garantir a proteção e a preservação da Cachoeira do Mangue. Exigimos a revogação imediata do plano de leilão e a adoção de ações concretas para a conservação desse importante ecossistema”.

  • A realização de estudos ambientais abrangentes para avaliar os impactos que a exploração da pedreira teria sobre a Cachoeira do Mangue, considerando a biodiversidade, a qualidade da água, a paisagem e outros fatores relevantes.
  • A criação de uma área de proteção ambiental ou de um parque natural que inclua a Cachoeira do Mangue, com medidas de preservação efetivas e um plano de manejo sustentável.
  • A destinação de recursos para a fiscalização e monitoramento contínuo do local, a fim de garantir a aplicação das medidas de proteção e prevenir qualquer atividade prejudicial ao ecossistema.
  • O engajamento da comunidade local, das organizações não governamentais e dos especialistas em meio ambiente na tomada de decisões relacionadas à Cachoeira do Mangue, de forma a garantir transparência, participação e diálogo constante.
  • O fortalecimento da educação ambiental, por meio de campanhas de conscientização e programas educativos, para promover a importância da conservação da natureza e da valorização de nossos recursos naturais.

Foto: reprodução

Clique aqui para participar do grupo de mobilização em defesa da Serra de São José.