No dia 21 de janeiro (domingo), Salvador recebe a primeira Parada do Orgulho de Pessoas com Deficiência (PcD) na Bahia. A concentração será às 12h no Farol da Barra. Salvador é a primeira cidade do Nordeste a receber essa iniciativa histórica. No ano passado, aconteceu em São Paulo. O evento é organizado pela ONG Vale PcD e o coletivo Quilombo PcD.

Para Julia Piccolomini, vice-presidente do Vale PCD, essa manifestação une as pessoas com deficiência e todas aquelas que valorizam a diversidade. “Para PcD, a ocupação começa nas ruas. A partir do nosso orgulho em mostrar quem somos e evidenciar que a falta de acessibilidade nos priva de demonstrar nosso potencial para a sociedade”, afirma. Já Marcelo Zig, presidente do Quilombo PCD e morador de Salvador, ressalta a importância da Parada do Orgulho PCD acontecer fora do eixo Rio/São Paulo e lembra que o Nordeste é a região que mais concentra PcD no Brasil, e que a maior parte é de pessoas negras.

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelam que a população com deficiência é estimada em 18,6 milhões de pessoas, o que corresponde a 8,9% da população total. O Nordeste apresenta 5,8 milhões, o equivalente a 10,3% do total. Em relação à cor autodeclarada, o percentual de pessoas com deficiência dentro da população preta foi de 9,5%, enquanto entre pardos, 8,9% e brancos 8,7%.

Mas, para quem convive com a falta de acessibilidade na cidade, esses dados não são surpresa. Marcelo Zig lamenta que as poucas estatísticas sobre PcD alertam para um triste quadro na capital baiana. “Salvador não permite que a gente tenha direito pleno de participação social, cultural e de entretenimento. A Parada é importante para mostrar que não queremos caridade, mas sim respeito com a nossa humanidade e dignidade. Acredito que isso influencie políticas públicas mais efetivas como, por exemplo, o real funcionamento da Lei Brasileira de Inclusão (LBI)”, explica Zig.

Sancionada em 2015, a Lei tem como objetivo assegurar e promover, em condições de igualdade, o exercício dos direitos e das liberdades fundamentais por pessoas com deficiência, visando à sua inclusão social e cidadania. No entanto, na prática, não tem funcionado.

Educação e Inclusão

Um dos destaques da Parada do Orgulho PcD é a criação de espaço seguro para essa população e o incentivo à adoção de práticas inclusivas. Serão disponibilizados recursos de acessibilidade (como audiodescrição e intérprete de Libras) em ambientes públicos, o que reforça a importância da diversidade e da valorização dessas ferramentas. A Parada do Orgulho PcD educa e mostra para as pessoas sem deficiência como essas práticas funcionam e são essenciais para promover a inclusão e a participação de todas as pessoas.

Foto: Victor Rodrigues

Arte e Cultura PcD

Registro do Mapeamento de Artistas com Deficiência mostra que, na região do Nordeste, a Bahia apresenta maior número de artistas PcD, somando 17, seguida pelo Ceará (10) e Pernambuco (6). A iniciativa do projeto Arte & Acesso do Itaú Cultural mapeou 300 artistas em todo país. Mas a pesquisa mostra uma contradição, pois muitos artistas enfrentam barreiras para expor seus trabalhos. Professor da Universidade Federal da Bahia, Edu O. com mais de uma década de atuação na cidade, explica que já viu vários artistas com deficiência abandonarem a carreira.

“Essa lacuna tem relação direta com o capacitismo que nos retira desses espaços. É um problema que vai da formação profissional até o mercado de trabalho, que não sabe acolher pessoas com deficiência”, lamenta. É por reconhecer essa discrepância que a Parada PCD irá promover os trabalhos de artistas com deficiência de Salvador, celebrando a diversidade da expressão artística.

Vale PCD: ONG promove a visibilidade e a inclusão das pessoas com deficiência LGBTQIAPN+.

Coletivo Quilombo PCD: coletivo acolhe pessoas negras e com deficiência.